Início do conteúdo

23/06/2020

Fiocruz MS está na linha de frente do combate à Covid-19

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


Em função da pandemia do novo coronavírus, a Fiocruz tem direcionado seus esforços, iniciativas e estudos ao objetivo de enfrentar os efeitos da Covid-19. E essas ações não se restringem à sede da Fundação, no Rio de Janeiro. As unidades e escritórios localizados em outros estados também participam do enfrentamento à Covid-19 com projetos desenvolvidos e implantados em suas regiões, tendo à frente os seus pesquisadores. A diretora da Fiocruz Mato Grosso do Sul, Jislaine de Fatima Guilhermino, diz que estão sendo desenvolvidas parcerias com instituições como as secretarias de Saúde de Campo Grande e do Mato Grosso do Sul, as universidades Federal (UFMS) e Estadual (UEMS), o Lacen-MS, a Embrapa, a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e o Instituto Federal. O escritório da Fiocruz no estado também é membro do Centro de Operações de Emergência contra o vírus em Mato Grosso do Sul.


Equipe da Fiocruz faz a entrega de protetores faciais, uma das muitas ações de enfrentamento à pandemia (Foto: Fiocruz MS)

 

“Nossa equipe foi mobilizada para auxiliar as autoridades sanitárias locais no enfrentamento dos efeitos da pandemia no Mato Grosso do Sul, que inclui também o governo estadual e as secretarias estadual e municipais de Saúde. Estamos apoiando esses órgãos e dando solidariedade total, o que faz parte de nossa missão institucional”, afirma Jislaine. Ela acrescenta que nas últimas semanas vem aumentando significativamente o número de casos e óbitos no Mato Grosso do Sul. Cerca de 80% dos municípios já têm casos de Covid-19. “O que nos tem preocupado é a baixa adesão da população do estado às medidas de isolamento social. Embora a taxa de letalidade seja a menor do país o estado apresenta 47 óbitos. A curva ainda ascendente da infecção no estado nos coloca em atenção para 0 aumento na taxa de ocupação hospitalar, tanto leitos clínicos quanto de UTI”.

Uma ação coordenada pela Secretaria estadual de Saúde inclui o Polo de Diagnóstico para a Estratégia Drive-Thru na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), também em parceria com Lacen, Fiocruz e UFGD. Assim surgiu o Drive Thru Coronavírus Campo Grande. A iniciativa também tem por objetivo a realização dos testes diagnósticos dos profissionais de saúde e da força de segurança pública do estado. Atuam nesta ação os pesquisadores em Saúde Pública Ana Rita Coimbra Motta de Castro, Julio Henrique Croda, Ana Tereza Gomes Guerrero, Claudia Stutz , o colaborador Ewerton Lemos e pesquisadores das instituições parceiras.

Jislaine destaca ainda a Força Tarefa Fiocruz Mato Grosso do Sul, Embrapa, UEMS e Lacen para realização de testes diagnósticos para arboviroses e testes diagnósticos para Covid-19. Já existia uma parceria com o Lacen-MS em arboviroses, que com a pandemia ganhou em dimensão, pois o estado também enfrenta no momento uma epidemia de dengue. Esta força tarefa atende a estratégia da SES para o Drive-thru Corumbá e tem como objetivo ampliar a capacidade para realização de testes moleculares para coronavírus, recebendo também amostras do Lacen. Esta iniciativa tem na linha de frente as pesquisadoras em Saúde Pública Zoraida Fernandez, Alexsandra Favacho, Glaucia Marcon, além de pesquisadores da Embrapa e UEMS. Ao todo, já foram realizados aproximadamente 3 mil testes para arboviroses e 6 mil testes para o novo coronavírus.

Outra vertente da parceria vem do Núcleo de Evidências (NEVMS). O Núcleo, formado por UFMS, Uems, Fiocruz MS, Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap) e Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (Sesau), elaborou três revisões rápidas solicitadas pelos gestores regionais quanto ao uso de EPIs: segurança e eficácia do uso de máscaras de tecido; os métodos de desinfecção de máscaras N95; e o uso prolongado de máscaras N95. Tais estudos foram conduzidos pela pesquisadora em Saúde Pública Ana Tereza Gomes Guerrero.

A pesquisadora também é responsável pela iniciativa CoronaVidas, que por meio de parcerias está produzindo protetores faciais em impressora 3D em larga escala para posterior distribuição aos profissionais de saúde. Até o momento já foram entregues 5 mil protetores faciais. Além da Fiocruz, fazem parte da iniciativa a indústria Quimiplast, Unigran, IFMS-Dourados, Assomasul, Adep, Adecoagro, Sicredi, Unale, Asumas, Imobiliária Continental, Usina Laguna e Inflex. O projeto conta também com o apoio da Secretaria de Saúde do estado e do governo estadual.

Segundo Jislaine, na área da Pesquisa Clínica a Fiocruz Mato Grosso do Sul participa de três estudos, tendo como referência no estado o especialista e médico infectologista Julio Croda. Uma pesquisa sobre o uso de plasma de doador convalescente para tratar pacientes com infecção grave pela Covid-19, estudo que é encabeçado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e conta, em Mato Grosso do Sul, com a participação do governo do estado, por intermédio do Hemosul e Hospital Regional de MS, além de outras instituições, como Hospital Universitário da UFMS, Hospital das Clínicas da USP e da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Um estudo internacional randomizado de tratamentos adicionais para a Covid-19 em pacientes hospitalizados que recebem o padrão local de tratamento e, ainda, um estudo de fase IIb que vai avaliar a eficácia e a segurança do difosfato de cloroquina no tratamento de pacientes hospitalizados com síndrome respiratória grave no âmbito do novo coronavírus. Tais iniciativas têm a participação de diversas instituições, entre elas a OMS.

Projetos de pesquisa para o desenvolvimento de novos testes de diagnóstico para Covid-19 incluem o desenvolvimento de teste Elisa com proteína quimérica recombinante de SARS-CoV 2, coordenado pela pesquisadora Zoraida Fernandez, com participação de Alexsandra Favacho e pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, UEMS e Lacen)  e a avaliação de teste rápido para diagnóstico sorológico com participação de Julio Croda, ambos em parceria com o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz).

Outras iniciativas no âmbito da pesquisa e assistência podem ser mencionadas como a participação na Rede One Health para o monitoramento genômico e análise da dispersão em tempo real de SARS-CoV-2 com acesso universal da informação; a criação de uma rede brasileira de vigilância multi-sindrômica para detectar rapidamente patógenos emergentes; a participação na realização da vacinação (contra a gripe) em idosos em drogarias e farmácias em Campo Grande e também da população encarcerada; a pesquisa sistêmica integrada da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, que vai avaliar aspectos moleculares, epidemiológicos, clínicos, imunológicos e de vigilância; e a avaliação do impacto da infecção viral em relação a aspectos clínicos, imunológicos e laboratoriais.

Também estão sendo desenvolvidas ações relacionadas aos povos indígenas, um dos grupos mais vulneráveis ao avanço da Covid-19. O estado tem 79 municípios, sendo que em 30 deles há uma expressiva população indígena destacando-se a região sul do estado com maior densidade populacional. Existe uma articulação junto ao Ministério Público Federal (MPF) do município de Dourados e à UFGD) para estruturar estratégias de intervenção entre as populações indígenas, inicialmente com os povos guarani-kaiowá, no sul do estado. Esta atuação tem sido realizada no âmbito do Doutorado em Epidemiologia, Equidade e Saúde Pública e objeto da tese de doutoramento da discente e médica infectologista Mariana Croda.

Foi feita uma consultoria para o Fórum dos Caciques de Mato Grosso do Sul, para elaboração de projeto que foi submetido ao edital Covid-19: Chamada Pública para Apoio a Ações Emergenciais junto a populações vulneráveis, lançado pela Fiocruz, para atender a população indígena terena da região de Taunay/Ipegue. Mais recentemente, a equipe levantou demandas e desenhou estratégias para auxiliar no diagnóstico e na atenção à saúde dos polos indígenas de Aquidauana e Miranda, no norte do estado. Proposta coordenada pela pesquisadora em Saúde Pública Raquel Scopel e Renata Picolli. Ainda no que se refere as populações vulneráveis, a pesquisadora Fernanda Savicki coordena as ações sobre segurança alimentar e Covid-19 em parceria com a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA).

“Apesar de termos uma equipe pequena, estamos integralmente voltados para a pandemia com o objetivo de colaborar de todas as formas possíveis, nas mais diversas frentes de atuação. Nossa equipe está absolutamente comprometida com a missão institucional e o objetivo principal de salvar vidas. Temos mais de 100 alunos, entre alunos da residência médica e multiprofissional do Projeto APS Forte, que igualmente se engajaram nessa luta”, afirma a diretora. Este projeto é desenvolvido em parceria com a Secretaria de Saúde de Campo Grande, coordenado por Daniel Soranz e integram a coordenação pedagógica as também pesquisadoras da Fiocruz MS Débora Dupas G. Nascimento e Sílvia Helena M. Moraes.

Ainda na área de educação, Jislaine cita a atualização e capacitação de profissionais de saúde da Atenção Primária em Biossegurança relacionada à Covid-19, realizado nas nove unidades básicas de saúde de Campo Grande que compõe o APS Forte e realizado pelo colaborador Ewerton Lemos; o impacto dos transtornos mentais no trabalhador e no trabalho em saúde, no contexto da pandemia; e o estudo multicêntrico sobre a percepção e práticas no cotidiano das orientações médico-científicas pela população dos territórios de abrangência da Atenção Primária à Saúde. “Estamos concluindo o desenvolvimento do Curso Autoinstrucional de Enfrentamento da Covid-19 no Sistema Prisional, solicitado à Fiocruz MS e que será ofertado pelo Campus Virtual com lançamento previsto em final de julho”. Essas iniciativas são capitaneadas pela Coordenação de educação, à frente Debora Dupas e Silvia Moraes.

Segundo Jislaine, “tivemos a oportunidade de fazer a interlocução com Bio-Manguinhos para auxiliar na realização do estudo sobre a incidência da infecção causada por SARS-CoV2 em municípios do Norte Pioneiro do Paraná”. O projeto liderado, pela Uenp e com participação de diversos atores locais, deve envolver cerca de 40 municípios do estado vizinho.

A diretora acrescenta que está sendo concluído “o plano de testagem que será disponibilizado aos nossos trabalhadores, nos seus diversos vínculos, assim como aos parceiros que estão conosco neste enfrentamento. Precisamos olhar atentamente para saúde daqueles que estão trabalhando nas áreas essenciais”.

Voltar ao topo Voltar