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13/02/2020

Fiocruz oferece oficina sobre coronavírus para jornalistas

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da Presidência da Fiocruz promoveu na quarta-feira (12/2) uma oficina sobre o Covid-19 (o novo coronavírus) para jornalistas de diversos veículos de comunicação. Esta foi a terceira oficina do gênero organizada pela Fundação. As anteriores foram sobre febre amarela e zika. De acordo com a chefe da CCS, Elisa Andries, "o objetivo desses encontros de pesquisadores com a imprensa é levar informação de qualidade aos jornalistas, validada por especialistas que estudam e atuam diretamente com os temas das oficinas, em suas diferentes abordagens, contribuir para o trabalho feito por jornais, rádios e TVs e dar subsídios para combater as fake news". Compareceram profissionais da CNN Brasil, TV Globo, O Globo, G1, Criar Brasil, O Estado de S. Paulo, Band, CBN, Globonews, SBT, Canal Saúde e Radis. Após as apresentações de cada um dos três pesquisadores que participaram da oficina houve um momento para que os jornalistas fizessem perguntas.

Oficina sobre o Covid-19 (o novo coronavírus) levou informação de qualidade aos jornalistas (foto: Peter Ilicciev)

 

A primeira intervenção foi do coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio da Cunha. Ele citou o esforço da Fundação e de outras instituições para entender o novo vírus e se preparar para agir de maneira segura. Segundo ele, ainda é cedo para dizer se o novo coronavírus terá um desempenho como o da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que no início do século foi contida na China. “Mas já se pode dizer que a letalidade da atual emergência é menor. Tem circulado a informação de que a letalidade fica entre 2 e 3%, mas ela é menor do que isso”. No entanto, Venâncio lembrou que a situação, caso o Covid-19 chegue ao Brasil, é preocupante, já que o Brasil tem muitos outros problemas de saúde. O coronavírus será mais um.

“É inaceitável que tenhamos 150 mil mortes violentas por ano, assim como 50 mil mortos devido ao trânsito e outros 50 mil devido à violência inter-pessoal. Mas é importante ressaltar que, caso surjam casos do Covid-19 no país, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem capilaridade e capacidade para enfrentar a situação. Foi o sistema de saúde, por exemplo, que repatriou os brasileiros que foram trazidos da China e está cuidando deles”.

O coordenador disse que o clima deste início de ano no Brasil, o verão, é favorável, já que vírus respiratórios circulam mais intensamente no inverno. “Portanto, temos alguns bons meses para organizar a atenção básica”. Ele recordou ainda que a Fiocruz tem experiência de décadas em pesquisar vírus respiratórios. Sobre o Carnaval, ele afirmou que não há motivo para pânico, já que a festa, apesar das grandes aglomerações, ocorre nas ruas, em espaços abertos.

Em seguida, o vice-diretor de Serviços Clínicos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Estevão Portela Nunes, abordou os aspectos clínicos da doença. Segundo ele, os coronavírus já são causa de adoecimentos há muito tempo, respondendo por cerca de ¼ a 1/3 dos casos de resfriado e tem uma alta capacidade de mutações. Eles são diversos e apresentam grande variedade no reino animal, principalmente em morcegos. A partir de 2002, foram identificados três novos coronavírus com alta taxa de mortalidade para causar pandemias.

Portela confirmou a afirmação de Venâncio de que a letalidade não é tão alta. Porém, segundo ele, a transmissibilidade é maior. “Além disso, o corona é propenso a causar surtos em hospitais”, disse o pesquisador, que fez também um histórico dos surtos de Sars (surgido na China) e Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio, com origem na Península Arábica), dois coronavírus. “O conhecimento acumulado nessas duas emergências têm sido fundamental para saber como agir agora. De acordo com a OMS, os coronavírus são patógenos de interesse prioritário”.

Assim como ocorreu com Sars e Mers, que tiveram os morcegos como reservatórios naturais, é possível que o Covid também tenha essa característica. Os dois anteriores tiveram uma mortalidade bem maior, de cerca de 10% (Sars) e 35% (Mers). Portela discorreu ainda sobre o quadro clínico associado à infecção pelo Covid, do mais brando ao mais grave. De acordo com ele, a experiência com pacientes com Sars e Mers sugere que o uso de corticoide não teve impacto na mortalidade e atrasou o clareamento viral.

“Há um ensaio clínico em andamento, do qual teremos notícia em breve, sobre o uso de Lopinavir-Ritonavir, que na época de Sars e Mers mostrou benefícios. É possível que agora tenhamos novamente uma boa notícia”. Portela recomendou fortemente a vacinação contra a gripe, que segundo ele causa 1 milhão de casos por ano na América Latina. 

Por fim, houve a apresentação do virologista Fernando Mota, do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que é referência nacional para o diagnóstico de Sars, influenza, sarampo e rubéola e do qual é chefe substituto. Esse laboratório, no qual são feitos os diagnósticos de casos suspeitos do novo coronavírus, atuou na linha frente no diagnóstico laboratorial durante os surtos de Sars, em 2002 e 2003, e de influenza A (H1N1), em 2009, além de ter integrado os esforços para o esclarecimento de casos suspeitos de ebola, em 2015.

Mota começou traçando um panorama dos vírus respiratórios desde 1933 (influenza). Ele disse que o coronavírus foi identificado na década de 1960 e raramente se mostrou capaz de provocar uma doença grave, apesar de ser a segunda causa de resfriado, depois dos rinovírus. Na sequência, o pesquisador exibiu um vídeo explicativo a respeito do trabalho feito no laboratório. Depois o pesquisador explanou sobre os exames para detectar a presença de vírus comuns causadores de infecções respiratórias e para identificar o Covid-19.

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