12/02/2020
Nathállia Gameiro (Fiocruz Brasília)
O novo coronavírus colocou o mundo em alerta no último mês, desde que foi relatado pela primeira vez em Wuhan, interior da China. Não há, até o fechamento desta reportagem, nenhum caso da doença confirmado no Brasil e os 24 casos suspeitos já foram descartados pelo Ministério da Saúde. Apesar disso, o país está preparado para a possibilidade de o coronavírus chegar. É o que afirma o coordenador dos Laboratórios Internacionais da Divisão de Proteção da Saúde Global do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention – CDC) de Atlanta, Estados Unidos, Leonard Peruski. O médico esteve na Fiocruz Brasília no dia 3 de fevereiro.
"Preparem-se, mas sem pânico. Todo cuidado é importante, temos instituições que estão trabalhando para isso, mas não podemos esquecer de outros assuntos importantes como HIV e vacinação infantil”, destacou Peruski (foto: Fiocruz Brasília)
“A evidência é clara, o Brasil sabe o que fazer e está muito preparado. O país tem os melhores institutos de vacina do mundo, inclusive exporta para países como os Estados Unidos e este tema é uma das prioridades daqui”, ressaltou Peruski. Ele lembrou que, em 2015 e 2016, o país administrou o surto de zika e ainda recebeu milhares de visitantes para a Copa do Mundo em 2014 e para as Olimpíadas em 2016 sem trazer doenças ou outros problemas de saúde para os brasileiros.
Em vários países, cientistas correm contra o tempo para estudar o vírus. Peruski afirma que, até o momento, o CDC não entende o vírus completamente, mas está realizando testes com pessoas que estão em quarentena em busca de soluções. “A grande mensagem que tenho para passar ao Brasil é que não há casos confirmados em países latino-americanos. Preparem-se, mas sem pânico. Todo cuidado é importante, temos instituições que estão trabalhando para isso, mas não podemos esquecer de outros assuntos importantes como HIV e vacinação infantil”, explicou.
O médico lembrou que não é preciso alarde, já que, ao comparar os dados do novo coronavírus com os da gripe, catapora, resfriado e sarampo, percebe-se que as outras doenças são mais comuns e causam mais mortes. Ele destaca que é preciso analisar o contexto. Todo ano, 4 mil americanos morrem em decorrência da influenza e de 4 a 5 mil americanos morrem em acidentes de trânsito, enquanto até o momento, não há mortes no país por coronavírus.
O CDC integra projeto do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz Brasília em parceria com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS), que tem como objetivo fortalecer e melhorar a capacidade da rede laboratorial de saúde pública no Brasil, com o foco no atendimento às emergências. A equipe tem visitado laboratórios de saúde pública espalhados pelo país. Ao todo, já foram realizadas 10 visitas e esta semana a comitiva está em Manaus, no Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM). “Vendo esse projeto aqui, posso afirmar que o Brasil está muito preparado”, destacou.
Atuação da Fiocruz
A Fiocruz tem trabalhado intensamente para buscar respostas ao novo coronavírus, com atividades desenvolvidas em várias frentes. O Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) atua como Centro de Referência Nacional em Vírus Respiratórios para o Ministério da Saúde, com diagnóstico laboratorial de casos suspeitos e pesquisas. O laboratório recebeu material genético da doença e realiza testes para acelerar diagnósticos no Brasil e aprimorar os protocolos de testagens. Em fevereiro, realizou treinamento de profissionais dos Institutos Evandro Chagas, do Pará, e Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo para dar mais agilidade na investigação de casos brasileiros suspeitos e promoveu capacitação técnica de representantes de nove países da América Latina: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai, para que estejam preparados para responder à emergência sanitária, com os mesmos protocolos de análise preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e já implementados no Brasil.
Além disso, a Fiocruz criou uma Sala de Situação em Saúde para monitorar e acompanhar a situação do novo coronavírus e ampliar os estudos e foi convidada para integrar o Centro de Operações de Emergências (COE), criado pelo Ministério da Saúde. A Fundação também preparou um conjunto de perguntas e respostas sobre o novo coronavírus.
Para facilitar ações de combate ao vírus, o Ministério da Saúde do Brasil decretou (3/2) emergência em saúde pública. De acordo com a Lei de Licitações, com o decreto, há celeridade em processos como contratação temporária de profissionais e de serviços, além de aquisição de bens, sem a necessidade de realizar licitações.
No mundo
Diversas instituições estão monitorando a situação em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para detectar novos casos rapidamente e impedir a disseminação do vírus. Durante a visita à Fiocruz Brasília, Peruski apresentou o trabalho realizado pelo CDC para o combate a epidemias, e atualmente, ao coronavírus, desde que recebeu solicitações de ajuda de laboratórios de 12 países.
Foi montada uma força-tarefa internacional com integrantes do Centro para acompanhar os novos casos. Todos os dias, eles trocam informações atualizadas que podem dar subsídios às instituições de pesquisa e à imprensa e evitar notícias falsas e pânico na população.
Equipes de voluntários e médicos têm trabalhado 24 horas por dia para descobrir características e comportamento desse novo vírus, realizando testes de PCR (proteína C reativa) diários com as pessoas com suspeita da doença que estão em quarentena por 14 dias – período de incubação do vírus – em bases militares americanas; mapeamento de aeroportos do país com passageiros vindos da China e envio de médicos para identificação de pessoas com sintomas semelhantes aos da doença, com questionários e exames.
Além disso, o CDC preparou uma série de informações voltadas para profissionais de saúde, orientações para viajantes e para a população em geral sobre como reduzir o risco de espalhar a doença, um passo a passo para os médicos identificarem pacientes com sintomas, um check-list para ser utilizado por hospitais. Todas as informações são atualizadas constantemente. O conteúdo pode ser acessado aqui. Os casos podem ser acompanhados em tempo real neste mapa.
Coronavírus: que vírus é esse?
Os coronavírus podem circular entre pessoas e animais, como camelos, gatos e morcegos. Os sintomas são semelhantes a um resfriado, como febre, tosse e falta de ar. Outros tipos do vírus já foram identificados antes, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers) ou a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars).
Peruski apresentou a família viral já estudada e afirmou que o novo vírus não é uma arma biológica criada ou acidente de laboratório, mas veio do meio ambiente. Ele explica que 46 países têm laboratórios que podem ser utilizados para testes do coronavírus.