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10/02/2006

Fiocruz participa da Rede de Vigilância do Ministério da Saúde para a gripe aviária

Renata Fontoura


O alerta sobre uma possível pandemia de gripe aviária mobiliza cientistas e autoridades de todo o mundo. Nos últimos três anos, 85 mortes foram registradas. Até agora, Áustria, Itália, Romênia, Grécia, Eslovênia, Bulgária, Polônia, Dinamarca, Hungria, Alemanha, Croácia e Chipre já registraram a presença do vírus entre aves migratórias. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma unidade da Fiocruz, participa da rede de vigilância montada pelo Ministério da Saúde para prevenir a entrada do vírus no Brasil por meio do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo, que trabalha para identificar e traçar o perfil evolutivo do vírus


Não é a primeira vez que um vírus do tipo influenza, causador das gripes de forma geral, é motivo de preocupação. No século 20, ocorreram grandes epidemias nos anos de 1918, 57 e 68. A primeira e mais devastadora, que ficou conhecida como gripe espanhola, matou cerca de 40 milhões de pessoas. Os vírus influenza são de três tipos: A, B e C. O H5N1, vírus causador da gripe aviária em humanos, é uma variação do tipo A.


"As epidemias de gripe são eventos que se repetem historicamente, já que isso faz parte do processo evolutivo do vírus", explica o pesquisador Fernando Motta, que integra a equipe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do IOC, liderada por Marilda Siqueira. "Este processo envolve mutações devido à baixa fidelidade de replicação do vírus influenza e o aporte de informação genética de outros subtipos. Este último evento, mais raro que o primeiro, ocorre com o tipo A do influenza e possibilitaria o estabelecimento de amostras aviárias em humanos", elucida.


A possível pandemia seria causada pelo tipo A do vírus influenza, cujos subtipos são determinados pela composição de glicoproteínas virais hemaglutininas (H) e neuraminidases (N) - o que explica a nomenclatura H5N1 dada ao vírus causador da gripe aviária. "Já foram descritos 16 tipos de hemaglutininas e nove de neuraminidases, agrupados em diferentes arranjos, gerando distintos subtipos. Isso somado ao fato de que a transmissão é feita pelo ar, acaba causando um temor muito grande", esclarece Motta. Entre as aves, a transmissão ocorre tanto pelo ar - a exemplo de uma gripe comum -, como através da ingestão de fezes frescas ou particuladas, principalmente na forma de aerossol. "Já nos humanos, o vírus também se replica normalmente no trato gastrintestinal", alerta o pesquisador.


Os primeiros sintomas nos pacientes infectados são parecidos com os de uma gripe comum: febre acompanhada de dores na cabeça e no corpo, que depois evoluem para dificuldade de respiração e outras complicações mais severas. Assim que entra no corpo humano, o H5N1 se aloja no pulmão e rapidamente afeta os rins e fígado, podendo levar a óbito por pneumonia viral, hepatite ou falência múltipla dos órgãos.


"Para que o paciente seja considerado um caso suspeito ele tem que, além de apresentar a sintomatologia clínica, ser oriundo de um local onde existe a transmissão ou ter tido contato direto com aves", resume o pesquisador. O principal temor é que a evolução do vírus abra caminho para que ele passe a ser transmitido entre humanos.


Drogas antivirais que diminuem as chances da doença se espalhar no organismo tornaram-se uma opção de tratamento. "Os estudos sobre estas drogas ainda são muito incipientes. Seus fabricantes afirmam que a duração dos sintomas diminuem em torno de 20 a 36 horas. É uma opção com custo muito alto e ainda produzida em escala reduzida", pondera Motta, ressaltando que uma vacina seria o método mais eficaz contra a doença. "Porém, os estudos para uma vacina são sempre direcionados para uma amostra estabelecida. Como no caso do influenza diferentes variantes podem surgir do mesmo subtipo, o desafio está em identificar uma cepa capaz de gerar imunidade ao vírus pandêmico. Mas qual seria esta variante?", indaga.


O sacrifício em massa de aves foi uma das primeiras medidas adotadas para impedir uma pandemia. Hoje, estudos para o desenvolvimento de uma vacina e o monitoramento dos padrões de imigração das aves silvestres, vetores naturais do vírus, pretendem ajudar a impedir que a doença se espalhe.


No Brasil, a preocupação é redobrada. No país, maior exportador de frango do mundo, a chegada do vírus poderia causar um desastre também econômico. Entre as mais importantes medidas preventivas que serão implementadas está o aumento da rigidez na vigilância em aeroportos e alfândegas. "Isso faz todo sentido pelo fato de estarmos localizados em um continente que está fora da rota das principias aves, que obedece a orientação norte-sul. Conseqüentemente, a maior probabilidade é de que o vírus seja trazido por pessoas infectadas oriundas das áreas com maior contaminação", conclui o especialista.


O fato de a produção brasileira de aves ter aumentado muito nos últimos anos também conta a favor. "A maior parte da produção brasileira é industrializada, usa alta tecnologia e, por isso, tem rígidas condições de higiene e controle", conclui, chamando a atenção para o fato de que foram suprimidos neste tipo de atividade os lagos a céu aberto para convívio dos animais, já que nestes ambientes existe a possibilidade de contato com aves migratórias que podem estar infectadas. Além disso, o pesquisador destaca que a maioria dos casos registrados em humanos até o momento ocorreram em pequenas criações, onde os produtores têm contato direto com as fezes de aves contaminadas.






 

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