20/09/2022
Agência Fiocruz de Notícias (AFN)
Ao longo do último século, a poliomielite atingiu centenas de milhares de pessoas, causando paralisia irreversível e tirando vidas. Esforços globais de vacinação contra essa doença infectocontagiosa, entretanto, foram capazes de reduzir drasticamente sua disseminação e impacto. Esses esforços, agora, estão postos à prova diante de desafios recentes como a pandemia da Covid-19, desastres naturais e conflitos armados, além da hesitação vacinal. Com isso, um grupo internacional de cientistas e profissionais de saúde voltou a acender um alerta e lançou uma campanha de mobilização digital pela vacinação e erradicação da doença até 2026, a Declaração científica de 2022 sobre a pólio: A necessidade urgente de alcançar um mundo livre da pólio.
A Fiocruz faz parte dessa mobilização, tendo sua presidente, Nísia Trindade Lima, como uma das signatárias e co-líder da declaração. Ao lado dela, somam-se líderes de associações médicas, universidades, entre outras instituições, de Camarões, China, Estados Unidos, Índia, Moçambique, Nigéria e Paquistão. Assine a declaração (em inglês).
Segundo Nísia Trindade Lima, o surgimento de novos casos de poliomielite em diferentes regiões do mundo mostra algo que vem sendo alertado há alguns anos pela comunidade médica e científica: o retorno da doença em países que já a haviam eliminado. “Para enfrentar o problema, decorrente da queda global das taxas de cobertura vacinal, estamos lançando a Declaração Científica de 2022 sobre a Pólio”, ressalta a presidente da Fiocruz. “Nas últimas três décadas, os casos foram reduzidos em 99,9%, e poucas regiões no mundo têm hoje bolsões de transmissão da pólio selvagem. Atuar contra a doença nessas regiões e evitar seu retorno nas demais é o caminho para a erradicação da doença”. A presidente reforça que a declaração está aberta a assinaturas e que conta com a adesão da sociedade civil e de profissionais da área.
“Superar obstáculos remanescentes”
De acordo com o grupo internacional, a “estratégia visa superar os obstáculos remanescentes, fortalecer os sistemas de saúde nos países afetados e entregar um mundo livre da pólio até 2026”. No documento, pediatras, epidemiologistas e profissionais de saúde refletem sobre os recentes desafios que ressaltam a urgência de se erradicar a doença, as novas ferramentas e esforços que tornam a erradicação da pólio possível, entre outros aspectos abordados na campanha.
Ao reforçar o fato de que a erradicação é algo “viável, urgente e necessário”, o grupo com membros da comunidade científica global declara:
. Líderes de países endêmicos devem permanecer totalmente comprometidos e responsáveis para interromper a transmissão.
. Os líderes dos países afetados pela poliomielite devem priorizar uma resposta urgente e de alta qualidade ao surto, incluindo atividades expandidas de vacinação, vigilância intensificada e segurança necessária para profissionais de saúde.
. Os parceiros da Global Polio Eradication Initiative (GPEI) se comprometem a fortalecer a integração na vacinação contra a poliomielite, imunização de rotina e outras iniciativas vitais de saúde em comunidades afetadas pela poliomielite.
. Parceiros e doadores para financiar integralmente o Plano Estratégico GPEI 2022-2026.
. A sociedade civil e os líderes comunitários devem aprimorar seus compromissos de advocacy para continuar a apoiar os esforços para acabar com a pólio.
Reconquista das altas coberturas vacinais
A Declaração converge com o projeto Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, campanha que a Fiocruz promove no Brasil por meio de Bio-Manguinhos. O projeto busca estabelecer uma rede de colaboração interinstitucional e implementar ações de apoio estratégico ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) a fim de reverter a trajetória de queda nas coberturas vacinais. A Fundação também integra a campanha Vacina Mais, coordenada pela OPAS/OMS, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Diante disso, a presidente Nísia Trindade Lima afirma que “a Declaração Científica conflui com essas iniciativas e vem promover em nível global o enfrentamento da questão da vacinação, por um mundo livre da poliomielite”.