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24/06/2016

Fiocruz participa de projeto que mapeia microbioma no planeta

Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)


Em 56 cidades de 33 países nos seis continentes, pesquisadores, estudantes e voluntários treinados saíram às ruas (21/6) em busca de amostras para investigar a diversidade de micro-organismos presente nos espaços públicos urbanos. Com participação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Consórcio Internacional Metagenômica e Metadesenho do Metrô e Biomas Urbanos, mais conhecido como MetaSUB, busca reproduzir em escala global uma experiência que começou em 2013, no metrô de Nova York: o mapeamento do microbioma, a partir da análise do material genético encontrado em ambientes com grande circulação de pessoas.

“O número de micro-organismos que podem ser detectados no corpo de uma pessoa saudável é cerca de dez vezes maior que o de células humanas. Portanto, é natural que exista uma grande quantidade de micro-organismos também no ambiente. Com esse projeto, buscamos conhecer essa biodiversidade e fazer análises que contribuam para a saúde pública e ambiental”, afirma o pesquisador Milton Moraes, chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC e colaborador do estudo no Rio de Janeiro.

No site do projeto, um mapa interativo mostra que foram feitas mais de quatro mil coletas no Dia de Amostragem Global de DNA. No Rio de Janeiro, os pesquisadores e estudantes do Laboratório de Hanseníase do IOC/Fiocruz recolheram quase cem amostras, em locais como praças e parques. Utilizando um cotonete especial com fibras sintéticas, o grupo coletou material em superfícies de bancos, equipamentos de ginástica e outros mobiliários públicos. As amostras foram congeladas no laboratório e a próxima etapa será a extração dos diversos materiais genéticos presentes.

Além do esforço coletivo, a tecnologia moderna de sequenciamento genético, que permite decifrar grandes quantidades de DNA com custos reduzidos é uma das armas do projeto. Três centros de pesquisa em Nova York, nos Estados Unidos; Estocolmo, na Suécia; e Xangai, na China, concentrarão as análises. Na sequência, os pesquisadores de cada cidade analisarão os códigos genéticos decifrados para identificar as espécies de micro-organismos. “Um estudo dessa dimensão não seria possível e seria muito mais caro se fosse realizado em cada local isoladamente”, afirma Milton, acrescentando que, no Brasil, o projeto também é realizado em São Paulo e Ribeirão Preto.

Novas espécies à vista

Uma vez que apenas o DNA presente nas amostras será analisado na pesquisa, algumas linhagens de vírus que possuem material genético do tipo RNA não serão incluídas no trabalho. Ainda assim, os cientistas esperam encontrar uma grande diversidade de espécies, incluindo muitas ainda desconhecidas. “Em Nova York, quase 50% das sequências genéticas decifradas a partir das amostras coletadas no metrô em 2013 pertenciam a micro-organismos que não estavam registrados nos bancos de dados. Essa pesquisa pode contribuir para desvendar a biodiversidade microbiana, que é muito pouco conhecida”, comenta o pesquisador.

Do ponto de vista da saúde pública, os cientistas também consideram que o estudo pode trazes conhecimentos importantes. Um deles é a disseminação de bactérias resistentes a antibióticos. Outro aspecto relevante é o potencial de descoberta de moléculas produzidas por bactérias e fungos que podem dar origem a novos medicamentos. A presença de micro-organismos causadores de doenças também poderá ser detectada na pesquisa. Porém, nesses casos, os pesquisadores ressaltam que os achados precisarão ser analisados com cuidado. “O material genético dos micro-organismos pode permanecer no ambiente mesmo depois da morte celular ou da inativação da partícula viral, por exemplo. Assim, a detecção de indicativos da presença de material genético de uma espécie patogênica não indica necessariamente risco para a população e deve ser seguida de análises adicionais, capazes de avaliar se estes patógenos permanecem viáveis no ambiente ou são apenas marcas que mostram os micro-organismos que circularam no local no passado”, pondera Milton.

Além de investigar o microbioma de cada cidade, os pesquisadores pretendem realizar comparações e verificar a evolução da diversidade de micro-organismos ao longo do tempo. Para isso, o Dia de Amostragem Global de DNA deve se repetir anualmente em 21 de junho, mesma data que, desde 2014, marca a coleta anual de amostras para monitoramento do microbioma dos oceanos.

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