Para construir recomendações às lideranças do Brics, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reuniu, na última semana, mais de 40 especialistas, de aproximadamente 15 instituições, entre elas a Fiocruz. Os especialistas participaram de cinco oficinas temáticas, que refletem as prioridades da presidência brasileira no grupo: cooperação em saúde global; comércio, investimentos e finanças; mudança do clima; governança da inteligência artificial; e desenvolvimento institucional.
Especialistas participaram de cinco oficinas temáticas (foto: Divulgação)
A partir das discussões realizadas nas oficinas, as propostas de recomendações serão consolidadas e enviadas para deliberação do Conselho de Think Tanks do Brics (BTTC), grupo presidido pelo Ipea, que reúne instituições representantes dos países membros. Após negociações no âmbito do BTTC, elas serão encaminhadas, até o dia 1º de abril, ao sherpa brasileiro junto ao Brics, o embaixador Mauricio Lyrio que conduzirá as recomendações aos líderes do grupo. Os sherpas são responsáveis por representar os países no grupo, articulando acordos, mediando interesses e definindo agendas antes da cúpula dos chefes de Estado, que está agendada para julho.
Oficinas
O ciclo de oficinas foi encerrado dia 24 de fevereiro com a discussão sobre cooperação em saúde global, que reuniu representantes do Ipea, da Fiocruz e do Brics Policy Center da PUC-Rio. Os participantes trataram de recomendações sobre desenvolvimento, produção e acesso a vacinas, medicamentos e testes para diagnóstico, alerta precoce integrado, saúde digital, inteligência artificial, entre outras.
A presidente do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, especialista em economia da saúde, conduziu as discussões junto com o Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz). Por parte da Fundação, participaram o diretor do Centro Colaborador para Diplomacia em Saúde Global e Cooperação Sul-Sul da Opas/OMS,
Paulo Buss; a professora, pesquisadora e coordenadora da Rede de Institutos de Saúde ública dos Brics (Risp/Brics); Adelyne Mendes; a pesquisadora e cocoordenadora da Risp/Brics durante a presidência de turno do Brasil, Claudia Hoirisch; o assessor da presidência para assuntos internacionais, João Miguel Estephanio; e o secretário executivo do Centro de Estudos Estratégicos Antonio Ivo de Carvalho (CEE/Fiocruz), Marco Nascimento.
A presidente do Ipea lembrou que, depois de encaminhar as recomendações ao BTTC, as instituições envolvidas podem trabalhar na construção de entregas mais detalhadas e nos mecanismos de monitoramento.
Na semana anterior, foram realizadas as oficinas relacionadas aos demais temas. No dia 17 de fevereiro, a discussão foi sobre comércio, investimentos e finanças, abordando questões como cooperação no comércio digital, fluxos de investimento, papel do Novo Banco de Desenvolvimento, uso de moedas locais e aprimoramento dos sistemas de pagamento transfronteiriços.
Em 18 de fevereiro debateram questões relativas a desenvolvimento institucional, como transparência e eficiência na governança do Brics, criação de suporte técnico, digitalização e adaptação institucional para mais estabilidade e resiliência.
A mudança do clima foi tratada na oficina do dia 20 de fevereiro. Os temas abordados incluíram financiamento para transição sustentável, expansão de energias renováveis, diplomacia climática, conservação da biodiversidade e segurança alimentar.
Por fim, no dia 21 de fevereiro, o trabalho foi voltado à inteligência artificial, com discussões sobre regulação, infraestrutura digital, cibersegurança, cooperação tecnológica, governança de dados e inclusão digital no desenvolvimento de novas tecnologias.
Além dos cinco temas tratados nas oficinas promovidas pelo Ipea, também está entre as prioridades da presidência brasileira uma reforma abrangente da arquitetura multilateral de paz e segurança, para garantir atuação eficaz no enfrentamento de conflitos, evitar catástrofes humanitárias, retomar a diplomacia e impedir a eclosão de novas crises.
Brics
Originalmente composto por Brasil, Rússia, Índia e China, o Brics se expandiu pela primeira vez com a admissão da África do Sul, em 2011. Hoje, são 11 países membros que compreendem quase metade da população e 39% do PIB global (em paridade do poder de compra).
Além dos cinco primeiros membros, o agrupamento é formado por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia Irã e Indonésia. Há, ainda, nove países parceiros:, Bolívia, Cuba, Malásia, Tailândia, Nigéria, Uganda e Belarus, Cazaquistão e Uzbequistão.