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03/09/2020

Fiocruz Pernambuco: 70 anos de ciência e saúde pública

Sinval Pinto Brandão Filho*


Os anos seguidos ao pós-guerra foram marcados por transformações políticas importantes que envolveram fortemente a sociedade brasileira. A articulação e  mobilização de um grupo de médicos idealistas que sonhavam com uma instituição voltada para o estudo de doenças endêmicas que incidiam de forma predominante em Pernambuco e no Nordeste, levou à criação do Instituto Aggeu Magalhães (IAM). Vinculado ao então Ministério da Educação e Saúde, foi inaugurado em 2 de setembro de 1950, ao final do VIII Congresso Brasileiro de Higiene realizado, no Recife. Criado para enfrentar problemas de saúde pública como esquistossomose, a doença de Chagas e outras doenças infeciosas de grande incidência na região, o IAM (Fiocruz Pernambuco), que chega agora aos seus 70 anos, consolidou sua vocação e se tornou protagonista no estudo dos mecanismos envolvidos na relação patógeno-hospedeiro, implantando inicialmente seus laboratórios de parasitologia e patologia sob a liderança de Frederico Simões Barbosa, voltados para a compreensão dos ciclos de transmissão e os mecanismos envolvidos na patologia destas parasitoses, como unidade de pesquisas do Instituto de Endemias Rurais (Ineru) do Ministério da Saúde.

Nesta trajetória, estabeleceu em meados dos anos 60, um laboratório de campo no Sertão para estudar focos de peste no sertão nordestino em colaboração com o Instituto Pasteur, contribuindo de forma pioneira e se tornando referência nacional e internacional nos estudos desta zoonose. Em 1970, o IAM se integrou à Fiocruz, em conjunto com outras unidades do Ineru localizadas em Salvador e Belo Horizonte, na reforma administrativa de órgãos do Ministério da Saúde, período que abriu nova perspectiva em sua linha evolutiva e no fortalecimento da presença nacional da Fundação, em seu papel estratégico como instituição de pesquisa e na consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) após a Constituinte de 1988.

A partir de meados da década de 80 o IAM iniciou um amplo programa de pesquisas em filariose linfática, doença com larga incidência em Pernambuco, em que reescreveu diversos aspectos da doença com várias contribuições originais voltadas para o controle desta parasitose negligenciada, período em que teve também um grande incremento em sua capacidade instalada, com a criação de novos laboratórios e estabelecimento de novas linhas de pesquisa em doenças transmitidas por vetores, como as arboviroses e leishmanioses. Esta capacidade instalada associada à expertise de nossos grupos de pesquisa em epidemiologia e virologia, possibilitou que déssemos, com destaque nacional e internacional, uma grande contribuição à emergência sanitária representada pela epidemia do vírus zika e os casos de microcefalia, a partir do segundo semestre de 2015, na qual Pernambuco foi o olho do furacão deste novo desafio em saúde pública. 

Por fim, nestas sete décadas foram muitas as contribuições, sempre com a visão e o compromisso de fazer boa ciência. Nesta nova etapa que se inicia, o IAM/Fiocruz Pernambuco segue com seu amplo rol de atuação na geração de conhecimento e inovação em saúde, formação de novos pesquisadores e quadros técnicos para o SUS, no seu compromisso com a saúde pública e com a sociedade.

*Sinval Pinto Brandão Filho, DSc., é diretor do IAM/Fiocruz

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