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10/04/2015

Fiocruz Pernambuco amplia vigilância a doenças transmitidas por roedores

Solange Argenta / Ascom Fiocruz Pernambuco*


Uma pesquisa desenvolvida na Fiocruz Pernambuco busca ampliar os benefícios da rede de vigilância contra a peste no Brasil, de forma a alcançar outras doenças transmitidas por roedores. Trata-se de um trabalho que, embora não tenha muita visibilidade, é fundamental, uma vez que visa proteger a população da doença causada pela bactéria Yersinia pestis, que já provocou pandemias e milhões de mortes ao longo da história. Apenas na Idade Média, quando recebeu o nome de Peste Negra, a enfermidade eliminou um terço da população europeia num período de sete anos (entre 1347 e 1353).

A pesquisa visa proteger a população da doença causada pela bactéria Yersinia pestis, que já provocou pandemias e milhões de mortes ao longo da história (imagem: Wikipédia) 

 

Apesar de não haver casos da doença em humanos no Brasil desde 2005, o trabalho de monitoramento é realizado de forma permanente pelas secretarias de saúde dos municípios historicamente afligidos pelo agravo e conta com a assessoria do Serviço Nacional de Referência em Peste (SRP) da Fiocruz Pernambuco. Habilitado pelo Ministério da Saúde desde 2002 como referência nacional para a doença, o serviço tem competências definidas através de portaria ministerial. As ações desenvolvidas integram o Programa de Controle da Peste (PCP) e incluem a vigilância sorológica em áreas focais, onde são observados animais denominados sentinelas (cães e gatos domésticos) e roedores silvestres, cujos exames ajudam a identificar, através da presença de anticorpos, se a bactéria causadora da doença continua circulando naquele local. Eventualmente são realizadas também pesquisas para detecção da bactéria em vísceras de roedores e pulgas. 

No projeto Estudo da soroprevalência das doenças transmitidas por roedores na Região Nordeste do Brasil as análises que já são feitas para a peste serão ampliadas e vão incluir outras doenças que têm os roedores como hospedeiros ou transmissores, tais como: febre maculosa, leptospirose e hantavirose. A iniciativa permite um melhor aproveitamento das amostras coletadas em campo, que passam a ser destinadas ao mesmo tempo para a verificação dos quatro agravos e traz como resultado imediato também a maior capacitação das equipes envolvidas com as ações de controle. 

Iniciada em 2013, a primeira etapa do projeto envolveu a qualificação de profissionais das secretarias estaduais de saúde de Pernambuco, Ceará e Bahia. De lá para cá, um total de 110 técnicos dos três estados foram treinados sobre os aspectos epidemiológicos e o controle dessas enfermidades. Também já foram realizadas as expedições para treinamento em campo e coleta de material biológico. 

A bióloga e pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Marise Sobreira, que integra a equipe do projeto, destaca a importância das capacitações realizadas. Especialmente para a segurança dos próprios profissionais da saúde, que muitas vezes, ao lidar com os roedores, protegiam-se apenas contra a peste, sem levar em conta os outros riscos. Por exemplo, a maioria não usava proteção respiratória, desconhecendo que a mesma espécie de roedor poderia ser capaz de transmitir a hantavirose, pelo ar. “No treinamento todos são orientados sobre as formas de transmissão de cada doença e o uso dos equipamentos de proteção adequados, para que não se tornem as primeiras vítimas de um eventual surto”, explicou Marise. 

As áreas onde os treinamentos teóricos e de campo aconteceram não foram escolhidas por acaso. São municípios que no passado já registraram casos de peste e que permanecem cobertos pelo sistema de vigilância da doença: Baturité e São Benedito (CE), Caruaru, Triunfo e Exu (PE), Jacobina (BA). 

As coletas vão ajudar a atualizar informações sobre as populações de roedores da região Nordeste e também seus parasitas, principalmente as pulgas. Amostras de soro e vísceras dos roedores capturados são recolhidas para estudos sorológicos, bacteriológicos, virológicos e moleculares relacionados às doenças, enquanto as peles e carcaças, preservadas, são encaminhadas para integrar o acervo do Museu Nacional (RJ) e para estudos taxonômicos. Ao final dos trabalhos de campo, serão utilizadas ferramentas de georrefrenciamento nas análises, associadas a estudos de modelagem de nichos ecológicos, identificando fatores físicos e biológicos presentes nos ambientes mapeados. “Essa análise conjunta pode ajudar a predizer o comportamento das doenças nos animais das áreas estudadas e contribuir na tomada de decisão nas ações de vigilância e controle desses agravos”, destacou a bióloga. 

Um pouco de história

Em 1899, a peste chegou ao Brasil à bordo de um navio holandês, que trouxe ratos e pulgas infectados para o Porto de Santos (SP). A luta contra essa doença e a busca para produzir soros e vacinas deu origem a duas grandes instituições de pesquisa – a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Butantan.

Um aumento no número de casos na década de 1960, principalmente em Pernambuco, no Ceará e na Bahia, levou à realização do Plano Piloto de Peste em Exu (PPP), patrocinado pelo governo brasileiro e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse projeto, desenvolvido de 1966 a 1974 no Sertão de Pernambucano, deu origem ao Serviço de Referência Nacional em Peste (SRP) do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães e à coleção com mais de 900 cepas de Y. pestis, que é a maior do país e está abrigada na instituição.

*Este texto foi originalmente publicado no Informe Fiocruz Pernambuco. Confira o informativo na íntegra.

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