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11/12/2015

Fiocruz Pernambuco investiga casos de microcefalia no país

Fabíola Tavares (Fiocruz Pernambuco)


A relação de doenças infecciosas e de fatores genéticos e ambientais com a microcefalia será o objeto de investigação de um grupo interinstitucional, formado por pesquisadores e especialistas nacionais e internacionais, coordenados pela Fundação Oswaldo Cruz em Pernambuco (Fiocruz PE). O objetivo da pesquisa é identificar quais outros fatores, além do vírus zika, estão relacionados com o aumento dos casos dessa doença no país. O estudo utilizará o método de caso controle, comparando um grupo de 200 crianças, nascidas vivas ou mortas, com microcefalia e outro grupo formado por 400 crianças sem essa malformação congênita. A pesquisa terá início assim que obtiver aprovação no Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). O anúncio do estudo à imprensa foi feito, hoje (10/12), na Fiocruz Pernambuco, em Recife.

De acordo com a coordenadora desse trabalho, a pesquisadora Celina Turchi  Marteli, o estudo se dará em oito maternidades onde estão sendo registrados os maiores números de casos de microcefalia no estado. Com o consentimento dos pais, será coletado sangue do cordão umbilical de todas as crianças envolvidas na pesquisa. Os bebês com perímetro cefálico igual ou menor a 32 centímetros serão submetidos também a tomografia e os demais farão uma ultrassonografia na  transfontanela (popularmente conhecida como moleira) para saber se há malformações no Sistema Nervoso Central. As mães dos dois grupos terão sangue coletado para saber quais anticorpos de doenças elas possuem e responderão a um questionário no qual serão levantadas informações sobre infecções já que tiveram em toda a vida, quais as medicações e vacinas que tomaram durante a gestação, se têm doença genética e outros casos de microcefalia na família, entre outras questões.

A coleta dos dados das crianças e das mães deverá durar de seis a oito meses e uma primeira análise de dados deverá ser feita com dois a três meses de trabalho. “Esse é um projeto de importância nacional e internacional, que trará informações muito ricas do ponto de vista científica em relação ao uso de drogas no período da gestação, uso de álcool, fatores genéticos, exposição a pesticidas, inseticidas e qualquer outro elemento que, se não estiver contribuindo para a microcefalia, poderá ser excluído como fator de interferência”, afirmou Celina.

O grupo de pesquisadores da Fiocruz Pernambuco também está à frente de outros dois estudos que estão em fase de elaboração. Um deles visa fazer o acompanhamento das crianças nascidas com microcefalia e o outro das gestantes que tiverem exantema. Professores, médicos e pesquisadores das universidades federal e estadual de Pernambuco, do Hospital Oswaldo Cruz e do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) estão colaborando com o desenvolvimento dessas pesquisas. O grupo também tem recebido o apoio de pesquisadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, o CDC, e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Serviço de referência

Todas as amostras de sangue coletadas na pesquisa de caso controle serão analisadas no recém criado Serviço de Referência Regional em Arbovírus da Fiocruz PE. Os sangues serão testados para zika, dengue, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes. Numa ação de vigilância paralela ao estudo, o serviço testará semanalmente amostras de soro sanguíneo de pacientes com diagnóstico clínico de zika, dos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, sendo dez de cada localidade. As amostras serão enviadas pelos laboratórios centrais (Lacens) dos estados e o objetivo é confirmar a continuidade da circulação do vírus zika. 

Junto com mais quatro serviços de referência de arbovírus existentes no Brasil – três deles ligados a outras unidades da Fiocruz - o serviço da Fiocruz Pernambuco irá, ainda, desenvolver um teste sorológico para zika, exame que permite identificar se uma pessoa teve ou não a doença por meio dos anticorpos gerados pelo organismo do paciente para combater a doença. “O único exame desse tipo existente hoje dá reação cruzada com a dengue porque os vírus das duas doenças são parecidos. Além disso, o teste de PCR só identifica o vírus nos três a cinco primeiros dias que o paciente apresenta os sintomas da zika”, explicou o pesquisador Rafael França, que esteve presente a coletiva realizada na manhã de hoje.   

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