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01/09/2017

Fiocruz promove atividades sobre desafios da paternidade

Aline Câmera (IFF/Fiocruz)


Coordenada pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (IFF/Fiocruz), Corina Mendes e Marcos Nascimento, o Projeto Agenda Laranja tem como objetivo pautar atividades de sensibilização e formação para a construção de uma cultura institucional pela equidade de gênero e pelo fim da violência contra mulheres e meninas. No mês de agosto, o debate, ocorrido no último dia 21, se voltou para a paternidade. Com a mediação da psicóloga e coordenadora de Ensino do IFF/Fiocruz, Martha Moreira, os pais Antônio Eduardo Vieira, Claudio Cruz e Téo Cordeiro compartilharam suas vivências e os desafios que cercam a rotina com os pequenos.

Com trajetórias diferentes, os três homens têm em comum o fato de participarem ativamente da criação dos filhos, assumindo um protagonismo fora dos moldes tradicionais. “Não importa se eu sou pai ou mãe das crianças. Aliás, não existe ‘papel de pai’. O que existe é o papel daquela pessoa responsável por cuidar e eu assumi isso: sou o cuidador principal das crianças”, destaca Téo. “A função do pai não pode ser limitada ao responsável por prover as necessidades materiais da casa. A participação no cuidado deve ser partilhada, até porque a família é o espaço de troca de afetividade. O homem, de uma forma mais geral, tende a ter um distanciamento neste sentido, delegando a função à mulher”, observa Antônio.

Do parto à rotina ‘inusitada’

Filho único e pai de Isabelle e Antônio Bernardo, Antônio se prepara para, mais uma vez, viver o momento mágico do nascimento de um filho. “Com a chegada de Júlia, em dezembro, acredito que meu desejo de construir uma família grande estará contemplado”, brinca ele. Assim como os irmãos, a previsão é que Julia nasça na Casa de Parto David Capistrano Filho. “A experiência do nascer de uma forma humanizada, em que a mulher tem a possibilidade de escolher como ela vai parir e quem são as pessoas que estarão com ela, é fantástica!”, ressalta Antônio. Sobre a rotina em casa, ele garante que todas as atividades são compartilhadas com a esposa: “No nosso dia a dia, fomos encontrando a melhor forma de nos dividir, tudo é compartilhado. Enquanto um está trocando uma fralda, o outro está dando banho e assim vai”.

Também na Casa de Parto, Téo teve a oportunidade de passar o que ele descreve como “um marco” na sua vida: “Quando a Dani engravidou do Miguel, ficou claro pra mim que a paternidade teria outra intensidade. Todo homem diz que o nascimento de um filho é o melhor momento da vida. Eu me tornei uma pessoa muito mais emotiva. Como eu estava desempregado na época, decidimos que eu seria o cuidador principal. Eu vivo para cuidar das crianças. Além de Miguel, hoje com 4 anos, ele é pai de Lia, de um ano e oito meses. “O parto da Lia foi outro momento mágico. O Miguel participou, segurou a mão da mãe, ajudou a dar força para ela. “Foi lindo”, completa o pai.

Já Claudio compartilhou um momento delicado de sua vida quando sua esposa Fátima deu à luz com sete meses de gestação ao seu segundo filho João. O menino hoje tem uma rotina normal para a idade: estuda, brinca e esbanja alegria. Prematuro, ele passou os primeiros dois anos de vida internados, a maior parte, no IFF/Fiocruz. Ao seu lado, acompanhando integralmente a rotina de cuidados, sempre esteve seu pai, Claudio. “Na época minha esposa trabalhava de carteira assinada e eu por conta própria, por isso eu fui ficando no hospital com ele e a saída que, inicialmente, foi inusitada, acabou sendo a melhor organização para nós”, comenta o pai de João.

Martha Moreira, que acompanhou de perto a internação, lembrou como era a rotina de Claudio no IFF/Fiocruz: “o ambiente do hospital nem sempre está preparado para receber o acompanhante do sexo masculino”, aponta a psicóloga. “É verdade, mas com o tempo eu fui me adaptando. Foi assim que até artesanato em aprendi a fazer, através do Projeto Novos Caminhos. Para mim era muito difícil ter que ir para casa e deixar o João. Estar perto da criança é melhor, pois a gente pode acolher, fazer um carinho. O maior tormento era estar longe e sem saber o que acontecia com ele”, lembra Claudio.

Por que tanto preconceito?

“Esta é uma experiência completamente fora do senso comum que a gente poderia esperar”, ressalta Corina Mendes. Ela aproveitou para questionar como as pessoas reagem à situação de protagonismo dos pais. “Eu cheguei a ser questionado por parentes sobre quando eu iria voltar a trabalhar. Na época, o João já estava em casa, porém dependia integralmente de mim ainda. Já fui chamado de preguiçoso também. As pessoas não entendem. Elas só conseguem enxergar o papel do homem como aquele que deve sustentar a casa”, afirma Claudio.

Téo, pai de Lia, de um ano, e Miguel, de três anos, que estavam presentes no evento, declara: “O espaço do cuidado, apesar de ser subalterno socialmente, também é um lugar de poder. Esta é uma questão interessante, pois o movimento feminista, principalmente, luta tanto pela igualdade de direitos e, agora, nos deparamos com uma resistência enorme em legitimar o cuidado realizado por nós. As próprias mulheres têm dificuldade em admitir que esse local pode ser ocupado por um homem.

“No grande cenário dos homens, o cuidado é ainda um tema muito distante para a maioria, mas hoje estamos vendo aqui que essa organização do pai como cuidador integral pode funcionar bem. Neste encontro observamos que há um arranjo diferente do tradicional que é possível. Por isso a importância de promovermos esses espaços de troca”, finaliza Marcos Nascimento.

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