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19/04/2022

Fiocruz reúne pesquisadores e lança série de artigos sobre Chagas

Ana Paula Blower (Agência Fiocruz de Notícias)


Como parte das atividades em função do Dia Mundial de Chagas, celebrado na última quinta-feira (14/4), a Fiocruz realizou, nesta segunda-feira (19/4), o evento Reflexões e desafios para o futuro, quando houve o lançamento da série temática das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Na ocasião, pesquisadores e a presidente da Fundação, Nisia Trindade Lima, chamaram atenção para a importância da visibilidade aos afetados e os obstáculos ainda existentes para o enfrentamento do que ainda é considerado um problema de saúde pública.

“Desde que o Dia Mundial de Chagas foi instituído, a referência sempre foi a relação com as pessoas afetadas. A reunião de hoje une o conhecimento científico veiculado através das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz a todo processo de cadeia de conhecimento que vai da pesquisa básica a implementação e tem como foco as pessoas afetadas por uma doença negligenciada. Trata-se de pensar em pessoas negligenciadas mais do que fazer um foco no adoecimento”, afirmou a presidente da Fiocruz, Nisia Trindade Lima.

Nísia comentou as exposições feitas na mesa de abertura. “Foi uma verdadeira aula pensar nos pioneiros e pioneiras que constituíram essa história de conquistas mas também de insuficiências. Todo esse conhecimento científico valioso não teve êxito de nos fazer superar uma situação de termos a doença não como uma página bonita de conquistas, mas como um problema ainda da contemporaneidade, com 7 milhões de afetados no mundo, sendo que quatro no Brasil. Em nome da tradição de pesquisa da Fiocruz, temos o compromisso, como instituição voltada para a ciência e tecnologia, de contribuir para superar esse quadro. E é o que tentamos fazer: da pesquisa ao desenvolvimento de diagnósticos, busca por novos tratamentos, algo que possa reduzir o impacto para as pessoas afetadas”. 

A mesa de abertura reuniu diretores de unidades da Fiocruz e contou com vídeo de saudação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que lembrou a trajetória de Carlos Chagas e o destacou como uma “referência mundial” na área das ciências da saúde: “Ele levou as experiências da bancada para a assistência na ponta. Seu espírito investigativo fez com que, pela primeira vez, um pesquisador identificasse o agente etiológico, o transmissor, os aspectos epidemiológicos, o quadro clínico e o tratamento de uma doença”. Diante disso, disse Queiroga, é “um compromisso de todos manter viva a luta do cientista para que a doença de Chagas, essa doença negligenciada, deixe de ser um problema de saúde pública”. 

Um dos participantes da mesa de abertura, André Roque, da coordenação geral FioChagas, ressaltou como a luta que deu origem à instituição do Dia Mundial de Chagas ajuda a trazer visibilidade para o assunto, especialmente pela realização de eventos no mundo todo. “E não poderia ser diferente na Fiocruz, berço da descoberta da doença e onde até hoje centenas de servidores e alunos estudam os mais diversos aspectos relacionados à doença”. Ele lembrou que o FioChagas completa 22 anos em 2022 e que tem trabalhado “fortalecendo as ações de sucesso e buscando cada vez mais inovar, responder a demandas e atender a população”. 

Marilda Gonçalves, diretora da Fiocruz Bahia, deu ênfase a trajetória da pesquisadora Sonia Gomes de Andrade, pioneira nos estudos sobre a doença de Chagas. “Eu a escolhi para fazer essa homenagem pela dedicação que ela teve e pela formação de vários pesquisadores e alunos. Ela foi uma pioneira no estudo de processos patológicos e nas respostas a quimioterápicos”, destacou Gonçalves.  

O diretor da Fiocruz Minas, Roberto Sena, lembrou a descoberta da doença de Chagas, há 113 anos, em Minas Gerais. Ele recordou ainda a trajetória da Fiocruz Minas e sua relação com os estudos direcionados à doença de Chagas e o trabalho de seus pesquisadores ao longo das últimas décadas. “Desejamos assinalar nessa data o papel fundamental do Instituto como polo aglutinador de cientistas e técnicos dedicados ao estudo dessa doença. Nossas pesquisas tiveram impacto mundial para a compreensão, o controle e o tratamento dela”. 

A diretora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Tania Araújo Jorge, reforçou como o 14 de abril é o resultado de uma luta importante para dar visibilidade à doença, que, segundo ela, é uma problemática “bastante complexa”. Ela lembrou ainda que foi publicada, no primeiro volume das Memórias do IOC, a descoberta da doença de Chagas, em 1909. “Nosso compromisso e a nossa dívida social é com todos os mais de 4 milhões de portadores no Brasil”. Ela destacou ainda as ações do IOC em prol dos afetados e “o compromisso para trabalhar e reduzir cada vez mais o impacto da doença no mundo”.

A diretora do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), Valdileia Veloso, destacou a prioridade de se trabalhar “com pessoas, populações negligenciadas, vulneráveis”, não com a doença em si. “A doença de Chagas é uma forma de chegarmos a essas populações, reduzir as inequidades e contribuir para aumentar a qualidade de vida dessas pessoas”. Veloso lembrou os projetos de enfrentamento da infecção, como o IntegraChagas e Cuida Chagas. “Com isso, vamos contribuindo para o trabalho com a ciência da implementação, uma forma do nosso trabalho chegar na ponta, ao SUS, e se disseminar por todo o Brasil e o mundo”.

O vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Corrêa, lembrou que se tem observado a volta da transmissão da doença pelos vetores, além da persistência de fatores já conhecido, como a transmissão oral, principalmente na região Norte. 

Série temática e o trabalho de pesquisa

Os participantes do evento se mobilizaram em torno do lançamento da série temática, um material que reúne 15 artigos de autores do mundo todo – e de diversas áreas – com foco nos desafios e oportunidades para o futuro no que diz respeito à doença de Chagas. A série temática marca também os 113 anos da descoberta da doença. Em 1909, na primeira edição das Memórias, Carlos Chagas documentou sua descoberta. 

De acordo com um dos editores da série temática, o responsável pelo Programa de Controle da Doença de Chagas, do Departamento de Controle das Doenças Tropicais Negligenciadas da OMS, Pedro Albajar-Vinãs, o próximo passo é a tradução dos artigos para “diferentes línguas e linguagens para serem compartilhados com todos os afetados e todos aqueles que estão com a mão na massa tentando saber onde estão e quantas são as pessoas direta e indiretamente afetadas pela doença de Chagas no mundo”.

O evento teve programação extensa sobre as Memórias do IOC, palestras com a participação de afetados e debates sobre o assunto. Ao longo do evento, uma série de homenagens e lembranças foram feitas aos pesquisadores Juliana de Meis e José Rodrigues Coura. 

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