24/05/2005
Fernanda Marques
O Mycobacterium tuberculosis, bactéria causadora da tuberculose, representa um desafio para pesquisadores de todo o mundo. O número de cepas de M. tuberculosis resistentes aos medicamentos disponíveis aumentou nas últimas décadas. A Fiocruz, então, passou a desenvolver pesquisas para identificar novos produtos capazes de atuar contra cepas multirresistentes. Nos últimos dois anos, foram analisados mais de três mil compostos, como extratos de plantas e moléculas sintéticas. Cerca de 60 apresentaram resultados satisfatórios nos testes iniciais e foram encaminhados para as próximas fases de investigação, o que inclui ensaios de toxicidade para as células, experiências com animais e, por fim, estudos com humanos.
Por meio de seus programas institucionais, como o Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Insumos para Saúde (PDTIS), a Fiocruz busca fomentar trabalhos em bioprospecção e todas as demais atividades para a descoberta de novos medicamentos. Estima-se que todo o processo para o desenvolvimento de um novo remédio possa levar de dez a 20 anos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), na lista dos 22 países que concentram 80% dos casos de tuberculose no mundo, o Brasil é o único representante das Américas. Ele ocupa o lamentável 15º lugar no ranking da doença. "A tuberculose é um sinalizador social. Ela existe onde há miséria, fome e assistência médica precária. São necessárias novas estratégias para debelar a doença", diz a pesquisadora Maria Cristina Lourenço, do Departamento de Bacteriologia do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), uma unidade da Fiocruz, e coordenadora do projeto em ensaios microbiológicos para tuberculose.
Esse trabalho começou como uma parceria entre o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fiocruz, que sintetizava as moléculas ou produzia os extratos de plantas, e o Ipec, que fazia os testes de susceptibilidade do M. tuberculosis aos novos produtos. Posteriormente, o trabalho ganhou o apoio do PDTIS e o projeto se estendeu a várias outras unidades da Fiocruz. Cada uma está envolvida em diferentes fases do desenvolvimento e da avaliação dos possíveis futuros medicamentos.
O Laboratório de Micobactérias do Ipec realiza o screening primário da nova molécula ou do produto natural, isto é, verifica se o composto é capaz de matar o M. tuberculosis. São feitos testes de triagem como ensaios colorimétricos, por citometria de fluxo e radiométricos. Também são feitos testes para determinar a menor concentração necessária do composto para eliminar o microrganismo. "Esses ensaios são caros e trabalhosos, exigem pessoal qualificado e espaço físico adequado, uma vez que o M. tuberculosis é um microrganismo que requer um nível de biossegurança 3", afirma Maria Cristina.