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15/02/2007

Folia com proteção: Carla Cristina e Simone Sampaio puxam Bloco da Camisinha

Antonio Brotas


Quando saiu pela primeira vez pelas ruas de Salvador, no Carnaval de 1996, o Bloco da Camisinha, formado por servidores do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (CPqGM), unidade da Fiocruz na Bahia, chamou atenção dos foliões e da mídia pela novidade que representava. A distribuição de 200 mil preservativos, mais materiais informativos como folders, pulseiras, adesivos e cartazes colocou a prevenção a Aids definitivamente na agenda da folia da capital baiana, uma festa que pela sua própria natureza estimula a libido e, caso não haja cuidados, pode tornar propícia a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (DST). O Bloco da Camisinha desfilou nesta quinta-feira (15/02), às 20h, no Campo Grande, e também sairá no sábado (17/02), às 14h, na Barra, e na segunda-feira (19/02), às 11h, no Campo Grande. Neste ano, duas mulheres, as cantoras Carla Cristina e Simone Sampaio, puxarão os foliões de uma das poucas entidades carnavalescas que associa a festa a prevenção, saúde e cidadania.


 As cantoras Simone Sampaio e Carla Cristina

As cantoras Simone Sampaio e Carla Cristina


Principal ação do Programa de Prevenção Contra a Aids no Carnaval de Salvador, o bloco participa da festa há 12 anos como fruto inicial de uma parceria entre a Fiocruz e a Escola Nacional de Saúde da Universidade de Harvard.  Neste período, o bloco tornou-se a representação lúdica do trabalho cotidiano de diversos setores da saúde. De pesquisadores renomados internacionalmente a servidores de postos de saúde do estado e do município, todos, de forma pacífica e harmônica, formam um grande “batalhão de multiplicadores”. “Sem cordas e sem distinção de cor, status social, ou gênero, o bloco é uma grande ação de mobilização na prevenção contra a Aids”, sintetiza o diretor do CPqGM, Mitermayer Galvão dos Reis.


 Principal ação do Programa de Prevenção Contra a Aids no Carnaval de Salvador, o bloco participa da festa há 12 anos

Principal ação do Programa de Prevenção Contra a Aids no Carnaval de Salvador, o bloco participa da festa há 12 anos


Carla Cristina comandou o bloco nesta quinta-feira (15/02), no circuito Osmar Macedo, no Campo Grande. “Estou feliz em poder utilizar minha imagem a ações de combate à Aids”, destacou a cantora que despontou para o sucesso com o grupo As Meninas e agora, em carreira solo, trabalha as canções do disco Coisas do axé. Simone Sampaio será a atração do sábado, quando levará para o circuito Dodô (Barra/Ondina), a diversidade de ritmos como dance-music, frevos e música baiana, que marca sua performance no Carnaval de Salvador. “Eu fiquei super honrada pelo convite. Sempre abracei e abraço causas que ajudem a população a ter mais informação principalmente no que diz respeito à saúde”, ressaltou. Na segunda-feira de Carnaval o bloco será animado por Fred Dantas e a Banda de Frevos e Dobrados, no tradicional desfile da Mudança do Garcia.


Ações articuladas pela prevenção


A animação dos  foliões, basicamente trabalhadores da área de saúde da união, estado, município, a participação de artistas, autoridades e a importante colaboração dos multiplicadores de organizações não-governamentais tornam o bloco um espaço singular no Carnaval. A distribuição dos preservativos é feita, durante todo o percurso, por multiplicadores, previamente treinados. “O preservativo ainda é o principal meio de prevenção contra a Aids. Previne também hepatites e o HPV, agente causador de câncer. No Carnaval, a Fiocruz inova com o Bloco da Camisinha, pois representa o esforço sincronizado da fundação, que conjuga pesquisa básica, aplicada, ensino, desenvolvimento tecnológico e divulgação em saúde pública”, defende Reis.


O Bloco da Camisinha é ponto de convergência de várias ações de prevenção a Aids na Bahia. Além da Fiocruz, representando o Ministério da Saúde, a, Secretaria de Vigilância e Saúde (SVS) e Programa Nacional de DST-Aids (PN-DST/Aids). No plano estadual, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, através da Superintendência de Vigilância e Proteção à Saúde (Suvisa-Divep), Coordenação Estadual de DST/Aids (CE-DST/Aids) e Centro de Referência Estadual de Aids (Creaids); e no municipal, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), através da Coordenação Municipal de DST/Aids (CM-DST/Aids), além das Organizações Não-Governamentais de assistência a portadores de HIV/Aids e parceiros das esferas governamental e não-governamental.


Além de ser um espaço de alerta e conscientização, o Bloco da Camisinha também beneficia diretamente entidades que trabalham com assistência a pacientes portadores de HIV. Como cada camisa será trocada por uma lata de leite, a estimativa é de que sejam arrecadadas cerca de dez mil unidades em 2007. Instituições como Instituto Família Aids (IFA), Instituição Beneficente Conceição Macedo (IBCM), Brinquedoteca do GapA e Casa de Apoio e Assistência ao Portador de Aids/HIV (CAASAH) foram beneficiadas no ano passado. Neste ano, o leite arrecadado será entregue às Voluntárias Sociais, que colaboram com a campanha Carnaval sem Fome.


Nas últimas décadas, o Brasil registrou 433 mil casos da doença. Na Bahia, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) contabiliza 7.830 casos nos últimos 20 anos. Os últimos dados do Sistema Nacional de Monitoramento em Aids reforçam a necessidade de ações específicas no Carnaval. A pesquisa identificou que apenas 25% da população sexualmente ativa afirma utilizar camisinha em todas as relações sexuais, apesar de 95,9% dos entrevistados dizerem que o preservativo é a principal forma de prevenção contra a doença. Nos três dias de desfile, serão distribuídas 50 mil camisinhas. A ação ocorre em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, que vai instalar pontos fixos de distribuição em nove localidades espalhadas pelos circuitos oficiais da folia.  Em todo o país, o Ministério da Saúde estima distribuir dez milhões de camisinhas durante o Carnaval. “Vivemos um novo momento, com a convergência das ações entre Estado e sociedade civil organizada, em função da ainda necessária divulgação sobre o uso do preservativo”, avalia o diretor da Fiocruz na Bahia.

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