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01/09/2009

Fome é tema de abertura da aula inaugural do PPGICS

Igor Cruz e Rafael Vinícius


O cineasta José Padilha, diretor dos filmes Tropa de elite e Ônibus 174, participou de um debate sobre o seu mais recente vídeo, o documentário Garapa, na aula inaugural do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS). O debate, que também contou com a participação do diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Francisco Menezes, e do professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Antônio Fausto Neto, abordou a fome após a exibição do filme, que mostra a realidade de três famílias cearenses na busca por estratégias de sobrevivência diante das condições mais adversas possíveis. O evento foi realizado no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), em 27 de agosto.


 Padilha: Quem tiver interesse em fazer um documentário sobre o serviço nos hospitais públicos pode contar comigo (Foto: Icict/Fiocruz)

Padilha: Quem tiver interesse em fazer um documentário sobre o serviço nos hospitais públicos pode contar comigo (Foto: Icict/Fiocruz)


A importância da interface entre produção científica e sociedade norteou a fala dos debatedores. A moderadora do debate, a vice-coordenadora do PPGICS e doutora em saúde pública pela Ensp, Dália Romero, destacou o número de pesquisas da base de dados Scielo dedicadas à obesidade e à fome, ao fazer uma comparação entre essas duas temáticas. “Enquanto os artigos sobre a obesidade passam dos 900, os relacionados à fome não chegam a 100”, salientou a pesquisadora. Dália ainda enfatizou a importância da realização de pesquisas sobre a fome, uma vez que esses estudos não são publicados nas revistas científicas internacionais devido à ausência deste tema nos países desenvolvidos, o que ela denominou “garapa acadêmica”.


Ao falar sobre o vídeo, Padilha destacou que um dos objetivos do documentário é evidenciar a capacidade de mobilização da dramaturgia, que aproxima do público problemas ignorados no cotidiano. “A ideia de fazer um filme observacional era tornar algumas pessoas que passam fome conhecidas do grande público, que terá contato com o dia-a-dia dos personagens”, explicou. Ainda de acordo com o cineasta, a fome usurpa dessas pessoas muito mais do que comida, visto que elas acordam apenas pensando no que comer, sem nenhuma perspectiva. O diretor aproveitou o momento para fazer um convite aos alunos. “Quem tiver interesse em fazer um documentário sobre o serviço nos hospitais públicos pode contar comigo”, provocou.


Com relação aos desafios da pós-graduação do Icict, Neto afirmou que eles se traduzem na montagem de uma matriz acadêmica, que acione a interface do curso com a sociedade. “A sala de aula deve se transformar em um espaço de debates e traduzir o discurso acadêmico para a sociedade”, salientou o professor. Ao falar sobre Garapa, Neto garantiu que o documentário transmite a possibilidade de intervenção para os que hoje começam no ofício da pesquisa.


Menezes elogiou a maneira como o Brasil tem tratado o problema da fome, com programas como o Fome Zero. Entretanto, o diretor do Ibase alertou para o grande número de pessoas que ainda não têm documentação (identidade e certidão de nascimento) e moram em lugares de difícil acesso, como uma das famílias retratadas em Garapa. Ainda de acordo com Menezes, a intenção do filme é provocar um debate acerca dos campos da comunicação e da saúde.


De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 920 milhões de pessoas sofrem de fome crônica no mundo. No Brasil, segundo o Ibase, 11 milhões de pessoas estão vulneráveis a fome.


Publicado em 1º/9/2009.

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