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25/05/2012

Fundação integra grupo que mapeou o genoma do vetor da doença de Chagas

Luciana Medina


Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) fazem parte da equipe que decodificou o genoma da espécie Rhodnius prolixus, um dos insetos transmissores da doença de Chagas. Os pesquisadores Patrícia de Azambuja Penna, chefe do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos, Fernando Monteiro, do Laboratório de Genética Molecular de Microorganismos, e Wim Degrave, do Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática, participaram da iniciativa. O grupo, que reuniu cerca de 30 cientistas do Brasil, Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, afirma que a descoberta possibilitará o estudo de novas estratégias de controle do inseto. Recentemente, o Instituto de Genomas da Universidade de Washington (EUA), onde o sequenciamento foi realizado a partir de DNA preparado e espécimes de uma colônia de Rhodnius oriundos do Centre for Disease Control (CDC, EUA), disponibilizou os dados obtidos para a comunidade científica, convidando os colaboradores para a anotação e interpretação detalhada do código genético.


 Imagem de <EM>Rhodnius prolixus</EM> (Foto: Gutemberg Brito)

Imagem de Rhodnius prolixus (Foto: Gutemberg Brito)





A descoberta científica foi abordada por diversos especialistas na área durante a terceira edição do Triatomine Genomics and Biology, evento sobre Biologia e Genômica de Rhodnius prolixus, que ocorreu de 16 a 18 de maio, na Argentina. No encontro, que marcou a conclusão do processo de sequenciamento e anotação do genoma de R. prolixus, estiveram presentes os pesquisadores Patrícia de Azambuja Penna, Fernando Monteiro e Fernando Ariel Genta, do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos, que pertence ao comitê gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Entomologia Molecular, que custeou parte dos seqüenciamentos.



Wim Degrave foi um dos especialistas que contribuiu na fase inicial de planejamento e mobilização da comunidade científica para o desenvolvimento do projeto. “Nós identificamos o Rhodnius prolixus como a espécie mais adequada a ser sequenciada, dentre os vários outros vetores do agravo, como o Triatoma infestans, Panstrongylus megistus e o Triatoma brasiliensis”, justifica. Ainda segundo o especialista, o R. prolixus, vetor mais difundido no continente americano, estava presente na maioria dos laboratórios dos pesquisadores envolvidos na pesquisa, por meio da manutenção de colônias utilizadas em estudos. “Começar com colônias de R. prolixus possibilitou uma maior fluidez no processo inicial e permitiu relacionar a iniciativa genômica com a pesquisa biológica em andamento em muitos laboratórios, como do grupo do Pedro Lagerblad, na UFRJ”, explica Wim.



Após a montagem inicial do genoma, os biólogos envolvidos no processo estão participando ativamente da montagem final, verificação e anotação do genoma. Quem esclarece melhor esta etapa é o pesquisador Fernando Monteiro, integrante do steering committee do projeto. “O genoma do R. prolixus foi sequenciado na Universidade de Washington e montado pelo centro de bioinformática VectorBase, ambas instituições norte-americanas. A etapa inicial, de seleção da colônia a ser utilizada no projeto, e a final, de anotação dos genes revelados, contaram com participação importante de pesquisadores brasileiros”.



De acordo com o pesquisador, a decodificação do genoma do vetor facilitará estudos na área. “A partir da decodificação do genoma será possível, por exemplo, estabelecer quais são os principais mecanismos pelos quais o barbeiro localiza o hospedeiro, quais moléculas estão envolvidas nesse processo ou como algumas espécies atingem infecções mais numerosas e tornam-se vetores mais eficientes”, detalha. “Além dos passos que envolvem a pesquisa acadêmica nos laboratórios envolvidos, que terão continuidade com esse novo acervo de informações genômicas, o grupo de pesquisa pretende sequenciar o genoma de outros vetores de Chagas, possibilitando, assim, a realização de projetos de genômica comparada destinados, por exemplo, a investigação da origem e evolução do hábito alimentar hematofágico (alimentação com sangue) na sub-família Triatominae”, completa.



Para o pesquisador, a descoberta permitirá avanços na pesquisa biomédica e biológica, e contribuirá para a implementação de novos biofármacos. “A possibilidade de identificar genes de interesse auxiliará todas as pessoas que trabalham com qualquer molécula, órgão ou processos bioquímicos e fisiológicos do inseto”, conclui Fernando.



Publicado em 25/5/2012.

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