Início do conteúdo

17/06/2011

Fundação recebe autoridade internacional em oncocercose

João Paulo Soldati


Desde o início desta semana, umas das principais autoridades mundiais sobre a oncocercose está no Brasil. Thommas Unnasch é pesquisador e representante do Programa de Eliminação da Oncocercose nas Américas (Oepa, na sigla em inglês), uma iniciativa regional entre seis países e que conta com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a OMS, a doença é exclusivamente humana e é causada pelo verme Onchocerca volvulus. No mundo, 18 milhões são afetados pela parasitose (99% deles distribuídos em 11 países da África subsaariana). Já no Brasil, a saúde dos mais de 13 mil índios yanomami, que vivem na região amazônica, estão sob risco.


 Thommas Unnasch em atividade no Laboratório de Simulídeos e Oncocercose da Fiocruz<BR><br />
(Foto: Gutemberg Brito)

Thommas Unnasch em atividade no Laboratório de Simulídeos e Oncocercose da Fiocruz

(Foto: Gutemberg Brito)


“Foram dez anos de esforços até acertarmos a vinda do consultor da Oepa à Fiocruz”, conta a chefe do Laboratório de Simulídeos e Oncocercose do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que é referência nacional para o tema junto ao Ministério da Saúde, Marilza Herzog. Thommas Unnasch, que é PhD pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), visitou pela primeira vez a sede da Fundação. "A ciência sempre me encantou. Quando cheguei aqui, pude observar de perto que a Fiocruz desenvolve trabalhos científicos excelentes e com equipes técnicas muito boas. Sem dúvida, é uma das melhores instituições no mundo que já visitei em mais de 30 anos de profissão”, conta o cientista, nascido no estado americano de Nova Jersey, que sempre teve a Fundação como referência em pesquisas em saúde pública. “O Laboratório de Simulídeos e Oncocercose não deve em nada a similares internacionais. A equipe profissional e os equipamentos adquiridos são os melhores”, diz.


"A visita dele é importante não só para a Fiocruz, mas para o Brasil porque é a primeira vez que o nosso país está estabelecendo a técnica padronizada mundialmente para verificar as taxas de infecção da doença no foco amazônico para a Oepa e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Nós começamos este processo há dez anos e a vinda dele é a coroação deste ciclo”, afirma Marilza. A implantação da técnica molecular foi acompanha pela pesquisadora Verônica Marchon Silva, que dará prosseguimento ao processo na rotina do Laboratório de Simulídeos e Oncocercose.


Segundo Marilza, o maior desafio é o fato de que o foco da doença na Amazônia está na fronteira entre o Brasil e a Venezuela. “Os índios yanomami são nômades, transitam em uma área de aproximadamente 192 mil km2 entre os dois países. A região é de difícil acesso, o que dificulta a continuidade do tratamento", explica a cientista que visitou os indígenas três vezes nos últimos anos.


“Thommas, que veio ao Brasil como consultor da Oepa, ficou muito contente com o parque de equipamentos que temos e impressionado com a qualidade do laboratório. Ele veio implantar técnicas de pesquisa com padrão global, como, por exemplo, processar o material coletado no foco da doença na região norte do nosso país”, comemora. “Conseguimos mostrar que estamos altamente capacitados”, diz Marilza, que também é coordenadora do serviço de referência nacional sobre o tema, que atua no suporte ao diagnóstico, desenvolve pesquisas relacionadas ao vetor e promove ações educativas no combate à doença.


A oncocercose


Descoberta primeiramente na África, em 1875, onde tomou uma proporção de doença endêmica, a oncocercose teve sua transmissão desvendada apenas em 1926, e seu primeiro caso no Novo Mundo se deu no ano de 1915 na Guatemala. Foram detectados casos no México, Colômbia e Venezuela antes do primeiro diagnóstico no Brasil, em 1967.


A oncocercose é uma doença parasitária causada pelo verme que se desenvolve por até 15 anos e gera adultos de até 80 cm, quando fêmeas, no corpo do hospedeiro humano. Transmitida por meio da picada de mosquitos do gênero Simulium, essa parasitose é raramente letal. Em casos mais graves pode causar danos irreversíveis à visão. A doença passou a ser conhecida como "cegueira dos rios" e é a segunda causadora de cegueira no Mundo.


“A parasitose está muito vinculada com o ambiente onde o vetor vive e, como às margens de rios, lagos e corredeiras, num ambiente rural, principalmente. A oncocercose tem o nome popular de ‘cegueira dos rios’ pelo fato dos ribeirinhos serem picados pelos mosquitos em seu habitat natural, transmitindo o parasita”, conclui Marilza. Segundo a OMS, a doença também pode causar erupções cutâneas, lesões, coceira intensa e despigmentação da pele.


Erradicação até 2012


Por meio de acordo definido pela Opas, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, México e Venezuela, países que integram a Oepa, assumiram o compromisso de eliminar e interromper a transmissão da doença nas Américas até o próximo ano. Na América Latina, cerca de 500 mil pessoas vivem sob risco de infecção, segundo dados da OMS de 2009.


Desde os anos 80, o tratamento da oncocercose é realizado com ivermectina, medicamento que inibe a produção de novas larvas ou microfilárias. Como a média de vida dos parasitas adultos é de nove a 12 anos, podendo chegar a 15, este é o período indicado para a duração do ciclo de tratamento, em duas doses anuais.


Publicado em 17/6/2011.

Voltar ao topo Voltar