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27/05/2009

Gastroenterites

Fernanda Marques


A infecção por rotavírus é uma das mais importantes causas de diarreia grave em crianças menores de 5 anos, particularmente nos países em desenvolvimento. Além da diarreia, a doença é caracterizada por uma forma abrupta de vômito e febre alta. Segundo o Ministério da Saúde, na população até 4 anos a quase totalidade dos indivíduos já teve algum episódio de diarreia por rotavírus. Entre adultos, as reinfecções ocorrem com relativa frequência, sobretudo entre viajantes de países desenvolvidos em visita às regiões tropicais, pais de crianças com diarreia por rotavírus, indivíduos que trabalham em unidades pediátricas e creches, idosos e comunidades isoladas. Estima-se que cerca de um terço dos adultos se infectem em casos de transmissão intrafamiliar.


 A transmissão do rotavírus ocorre por via fecal-oral, por contato pessoa a pessoa, por meio de água ou alimentos contaminados

A transmissão do rotavírus ocorre por via fecal-oral, por contato pessoa a pessoa, por meio de água ou alimentos contaminados


Nas fezes de crianças infectadas, durante a fase aguda do quadro diarréico, cerca de um trilhão de partículas de rotavírus são eliminadas por mililitro de espécime fecal. A transmissão ocorre por via fecal-oral, por contato pessoa a pessoa, por água ou alimentos contaminados. A disseminação por meio de mãos contaminadas é, provavelmente, a forma mais importante de transmissão. Por isso, para prevenir a doença, bons hábitos de higiene são fundamentais, como lavar sempre as mãos antes e depois de utilizar o banheiro, trocar fraldas, manipular ou preparar alimentos.


O Brasil foi o primeiro país do mundo a oferecer a vacina contra rotavírus na rede pública de saúde. Em 2006 a imunização foi acrescentada ao calendário básico de vacinação para crianças em todo o país, sendo administrada em duas doses, aos 2 e aos 4 meses de vida. Em 2005, o Brasil registrou mais de 95 mil internações atribuídas ao rotavírus na faixa etária abaixo de 5 anos. Em 2007, após a introdução da vacina, estimou-se uma redução de quase 30% dessas hospitalizações em menores de 1 ano.


Atenta à importância dessa imunização, a Fiocruz firmou, em 2008, um contrato com a multinacional britânica GlaxoSmithKline (GSK), que transferirá para Biomanguinhos a tecnologia para produção da vacina contra rotavírus. O acordo permitirá ao Brasil produzir cerca de 50 milhões de doses nos próximos cinco anos, atendendo integralmente à demanda do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A transferência de tecnologia será feita em quatro etapas e a nacionalização da vacina deve acontecer em 2013. Após a incorporação definitiva da tecnologia, calcula-se uma economia de, pelo menos, US$ 100 milhões aos cofres públicos em um prazo de cinco anos.


Além disso, a Fiocruz conta com um Serviço de Referência Regional para Rotaviroses. O Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC é responsável pelo desenvolvimento e pela aplicação de metodologias para detecção e caracterização molecular dos principais vírus causadores das gastrenterites agudas, o que inclui rotavírus, astrovírus, norovírus e adenovírus entéricos.


Atenção a diarreias bacterianas


Para o caso de gastroenterites provocadas pelas bactérias Escherichia coli (E. coli), a Fiocruz Amazônia apresentou a proposta de produção de um kit para a identificação rápida do micro-organismo, com custo mais baixo. A hipótese lançada no estudo é que algumas E. coli não precisam ser tratadas com antibióticos quando devidamente diagnosticadas, mas a vagarosidade na realização dos testes de identificação acaba levando os médicos a prescreverem medicamentos antes do diagnóstico elucidado.


"Tornamo-nos grandes criadores de bactérias multirresistentes. Além do mais, acaba saindo muito caro para o Estado, que mantém hospitais e laboratórios infantis à base de medicamentos específicos e sofisticados, quando, muitas vezes, em casos de diarreias, não há necessidade deste tratamento. Se identificado o subgrupo de E.coli diarreiogênica, a criança passa somente pelo ambulatório e, com orientação médica, a própria mãe pode cuidar da criança em casa, não precisando ir para emergência e diminuindo, assim, o fluxo de crianças nos hospitais", salienta a pesquisadora Andrea Grava.


Com o kit que está em fase de desenvolvimento na Fiocruz Amazônia, a partir de ferramentas de biologia molecular, o resultado do teste sai em dez minutos, enquanto algumas versões importadas podem levar dias para a confirmação do diagnóstico. Além disso, o produto nacional exige menos infraestrutura e mão-de-obra.


Publicado em 27/5/2009.

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