04/07/2013
O que é a doença?
A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa transmitida pelas vias aéreas e provocada em grande parte dos casos pela bactéria Mycobacterium tuberculosis (também conhecida como bacilo de Koch), podendo ser causada também, embora mais raramente, por outras espécies de agentes como a Mycobacterium bovis, M. africanum e M. microti. A doença afeta principalmente os pulmões e pode atingir outros órgãos do corpo como rins, meninges e ossos.
Sintomas e prevenção
A doença tem como principais sintomas emagrecimento acentuado, tosse com ou sem secreção por mais de três semanas, febre baixa geralmente à tarde, sudorese noturna, cansaço excessivo, falta de apetite, palidez e rouquidão. Para sua prevenção, é aplicada a vacina BCG em crianças, a qual previne somente a forma grave da doença. O contágio também pode ser evitado com tratamento e orientação dos infectados além de melhorias nas condições de vida da população, já que a enfermidade está associada à pobreza e à má distribuição de renda.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da tuberculose é realizado com radiografia do tórax, além de exames laboratoriais e escarro do paciente (baciloscopia). O tratamento, que pode durar seis meses ou um ano, é feito à base de antibióticos. Uma das dificuldades no combate à tuberculose é a falta de adesão ao tratamento - por ser longo e apresentar resultados rápidos, alguns pacientes o abandonam – o que acaba por provocar o desenvolvimento de uma forma da doença resistente aos medicamentos, conhecida como tuberculose multirresistente. Este tipo de tuberculose tem crescido mundialmente.
A tuberculose ao longo da história
Descoberta em 1882 pelo bacteriologista alemão Robert Koch, a tuberculose é uma das doenças mais antigas do mundo. Evidências da enfermidade já foram encontradas em ossos humanos pré-históricos na Alemanha e há registros datados de 8.000 antes de Cristo (AC). Por ter causa desconhecida na época, a doença, assim como diversas outras, era vista como um castigo. Essa visão, no entanto, foi desmistificada por Hipócrates, na Grécia em XXX AC. O estudioso mostrou que a tuberculose era algo natural e passou a denominá-la de Tísica. A expansão da doença mundo afora se deu com o advento das guerras, que estreitavam o contato entre indivíduos.
A tuberculose passou a ser melhor compreendida nos séculos XVII e XVIII com o surgimento do estudo da Anatomia. Foi quando então a doença recebeu seu nome atual. A partir do final do século XVIII a enfermidade foi vinculada a duas representações: a primeira a associava a uma doença romântica, que acometia principalmente poetas e intelectuais; a outra, criada em fins do século XIX, a vinculava a um mal social, visão que permaneceu durante o século XX. Desde o século XIX a doença era tratada com a terapêutica higieno-dietética, que consistia em uma boa alimentação, repouso e incorporava o clima das montanhas. Para isso, os pacientes eram isolados em sanatórios e preventórios.
No Brasil em 1920, com a Reforma Carlos Chagas, que deu origem ao Departamento Nacional de Saúde Pública, o Estado passou a estar mais presente na luta contra a doença, criando a Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose. Na década de 1930 surgiram avanços no combate à doença com a invenção da vacina BCG, a baciloscopia, a abreugrafia, o pneumotórax e outras cirurgias torácicas. Em função do conhecimento mais amplo da doença, o fator clima na sua cura passou a ser questionado. Com a descoberta da quimioterapia antibiótica específica na década de 1940 e a comprovação de sua eficácia ao longo das décadas de 1950 e 1960, o tratamento passou a ser ambulatorial sem a necessidade de internação, o que culminou na desativação dos sanatórios. O advento do tratamento com antibióticos, unido a medidas de profilaxia e simplificação do diagnóstico, ocasionou uma redução significativa no índice de mortalidade pela doença.
A partir dos anos 1990, apesar da crença de que a doença estava controlada, observou-se em várias regiões do mundo um crescimento de casos principalmente associados à infecção pelo HIV. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados anualmente 5 milhões de novos casos de coinfecção no mundo. Estudos de autopsia apontam a TB como responsável por 33% das mortes de soropositivos, mesmo entre os que foram tratados com antirretroviral de elevada eficácia. Outro dos grandes desafios enfrentados pelos Programas Nacionais de Controle da Tuberculose (PNCTs) é o aumento da forma resistente da doença em diversos países nos últimos anos.
Panorama da tuberculose no Brasil
A tuberculose é uma das doenças infecciosas que mais leva a óbitos de adultos no mundo, tornando-se um sério problema de saúde pública. Somente no Brasil, são registrados anualmente 72 mil novos casos da doença e 4,6 mil óbitos em decorrência dela. Nos últimos anos, o país vem apresentando queda na incidência de tuberculose, bem como em sua taxa de mortalidade e número de novos casos, porém, a enfermidade ainda preocupa as autoridades públicas, já que o país está entre os 22 responsáveis por 80% do total de casos mundiais da enfermidade. O Brasil ocupa a 17ª posição em relação ao número de casos e a 111º quanto ao coeficiente de incidência comparado a outros países, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A atual meta do governo brasileiro, conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é descobrir 70% dos casos estimados e curá-los em 85%.
Para alcançar esse objetivo, o Ministério da Saúde criou o Plano Emergencial para o Controle da Tuberculose, que, formalizado em 1999 com a criação do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), recomenda a implantação da Estratégia do Tratamento Diretamente Observado (DOTS) para o controle da Tuberculose no Brasil. A estratégia DOTS engloba cinco elementos: o compromisso político com a implementação e sustentabilidade do programa de controle da tuberculose; detecção de casos, por meio de baciloscopia de escarro, entre sintomáticos respiratórios da demanda dos serviços gerais de saúde; tratamento padronizado de curta duração diretamente observado e monitorado quanto à sua evolução; provisão regular de medicamentos tuberculostáticos; e sistema de informação que permita avaliar a detecção de casos, o resultado do tratamento de casos individuais e o desempenho do programa.
Baseado na busca de casos, no diagnóstico precoce e adequado e no tratamento até a cura, o PNCT inclui a integração do controle da TB com a atenção básica com vistas à ampliação do acesso ao diagnóstico e tratamento da doença, bem como a parceria com organizações não governamentais e organismos nacionais e internacionais de combate à TB e a articulação com outros programas governamentais.
O papel da Fiocruz
A Fiocruz tem ampla atuação no campo de estudos, prevenção, tratamento e diagnóstico da tuberculose. A instituição é uma das integrantes da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose (Rede-TB), organização não governamental que trabalha no auxílio ao desenvolvimento de novos medicamentos, vacinas, testes diagnósticos e estratégias de controle da doença, bem como na validação dessas tecnologias antes de sua comercialização no país e/ou de sua implementação nos Programa de Controle de TB. A Fundação tem ainda um rede própria para articulação das ações de suas diversas unidades no campo chamada FIO-TB (link). Como parte integrante dessa rede a instituição criou o Observatório Tuberculose Brasil, que tem por objetivo fortalecer o SUS e contribuir para o controle da tuberculose com o monitoramento das políticas públicas de saúde e promoção do controle social. Suas ações vão ao encontro das Metas de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e têm participação ativa de movimentos sociais.
Por meio do Centro de Referência Prof. Hélio Fraga (CRPHF), instituição nacional de referência do SUS para tuberculose e outras pneumopatias pertencente à Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), a Fundação promove um curso de especialização em controle da doença e desenvolve projetos nos campos de pesquisa clínica, promoção da saúde e desenvolvimento, estado e saúde. O CRPHF conta com um Laboratório de Bacteriologia da Tuberculose, que é referência na área e realiza procedimentos laboratoriais de alta complexidade para complementação diagnóstica; e ainda com um ambulatório que atua na assistência dos casos mais graves da doença e de outras micobacterioses enviados pela rede do SUS. Possui também um Sistema de Vigilância Epidemiológica da Tuberculose Multirresistente – TBMR, que possibilita a notificação e o acompanhamento de todos os casos da enfermidade; o gerenciamento do envio e estoque dos medicamentos e da pesquisa; e emissão de relatórios epidemiológicos e operacionais.
No campo de ensino, a Fiocruz, por meio do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), também oferece um curso internacional de capacitação multidisciplinar de manejo clínico em tuberculose, que tem duração de um mês e é direcionado a profissionais de nível superior. O Ipec/Fiocruz ainda assessora programas do Ministério da Saúde em tuberculose, elabora manuais com novas recomendações no campo e atua no atendimento de casos de TB pulmonar, extrapulmonar, entre outros. Também possui um Laboratório de Bacteriologia, que participa de estudos da rede pública no campo e recebe amostras de dentro e fora da instituição. Pesquisas clínicas voltadas a diferentes populações com tuberculose (como de coinfecção TB/HIV e tuberculose multirresistente), estudos de coorte e testes de novos medicamentos e diagnósticos de TB também fazem parte do leque de serviços oferecidos por essa unidade da Fundação.
Na regional da Fundação em Pernambuco (Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Cpqam), o Laboratório de Imunoepidemiologia do Departamento de Imunologia tem como principal linha de pesquisa o diagnóstico da tuberculose pulmonar e extrapulmonar por meio de testes moleculares e imunológicos de pacientes provenientes da rede SUS do estado. Sendo assim, auxilia os serviços de saúde, sobretudo os de referência para tuberculose, a confirmar ou descartar diagnósticos que não foram fechados por meio de exames convencionais de rotina (baciloscopia e cultura), utilizando ferramentas de última tecnologia. Faz uso de técnicas que diferenciam o Micobacterium tuberculosis de outras micobactérias não tuberculosas, direcionando para um tratamento correto e diagnóstico precoce. A regional também vem analisando fatores genéticos da população de Pernambuco que estão envolvidos na susceptibilidade e resistência à tuberculose.
A Fundação ainda conta com um Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática, que realiza pesquisa, desenvolvimento tecnológico e formação de Recursos Humanos na área de genômica funcional de agentes infecciosos com ênfase em tripanossomatídeos e micobactérias; um Laboratório de Hanseníase, cujas atividades contribuem com os programas de eliminação e controle da hanseníase e tuberculose; e ainda com um Laboratório de Microbiologia Celular voltado para o estudo daquelas duas doenças adotando uma abordagem molecular para a investigação de aspectos relevantes da interação das micobactérias com o ser humano. As três instâncias pertencem ao Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Texto revisado pela pesquisadora:
Valéria Rolla, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz)
Fontes:
Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz)
Centro de Referência Prof. Hélio Fraga
Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose (Rede-TB)