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07/08/2006

História, ciências, saúde: Manguinhos Volume 11 número 1









"Em 1914, em Goa, antiga colônia portuguesa na Índia, o médico Antônio Joaquim Vás anunciou a descoberta de um fabuloso tratamento contra a varíola. Tratava-se da aplicação de sementes de bananeira brava, um medicamento de origem vegetal extraído das práticas médicas indianas. Em nossos dias, porém, este acontecimento está inteiramente esquecido, em favor do sucesso da vacina anti-variólica".


"Entre 1842 e 1961, cerca de mil médicos, cirurgiões e farmacêuticos, quase todos de Goa, formaram-se na escola médico-cirúrgica daquela colônia portuguesa. Seu raio de ação era limitado e não podiam exercer a profissão em Portugal ou alcançar lugares de chefia. Restavam-lhes apenas cargos secundários nos serviços de saúde das colônias. Na Índia, era grande a oferta e muitos desses profissionais seguiram para a África ou para os territórios de Macau e Timor. A saga coletiva dos médicos de Goa combina esses dois aspectos de uma forma única e aparentemente paradoxal: por um lado, realça a constante discriminação a que estavam sujeitos; por outro, exalta as glórias da sua contribuição para a colonização portuguesa da África".


"Ao analisar os primeiros jornais médicos brasileiros, pretendo demonstrar como o contexto sociocultural possibilitou o surgimento desse tipo de publicação no conturbado Rio de Janeiro dos anos 1820 a 1840. O argumento é de que a trajetória inicial do jornalismo médico no Brasil teve como traço distintivo a simbiose entre negócio (interesses comerciais das editoras instaladas na Corte), política (conflitos relacionados a disputas pela hegemonia política na consolidação do Estado Imperial) e ciência (movimento de institucionalização e afirmação científica da medicina)".


"As termas, estabelecimentos para uso terapêutico de águas medicinais, especialmente termais, se constituíram como saber 'científico' legitimado pela medicina. As práticas termais tiveram uso ancestral e são associadas à fase 'religiosa' e 'empírica' da medicina. Com o advento da medicina 'científica', os médicos sentiram necessidade de se apropriar dessa prática terapêutica - para uns popular, para outros, do domínio da magia - de modo a que ela acompanhasse a história da medicina".


"Entre 1828 e 1855, as práticas de curar, sobretudo no Rio de Janeiro, passam por transformações. Observa-se a organização dos médicos em torno da Faculdade de Medicina, Academia Imperial de Medicina e dos periódicos especializados, ao mesmo tempo em que os terapeutas populares perdiam espaço para legalizar as suas atividades. Comparo as mudanças na legislação, a atividade dos órgãos fiscalizadores junto aos terapeutas não-oficializados e a procura da população por seus serviços. Sobressaem os conflitos resultantes da tentativa de a medicina acadêmica se impor sobre as demais artes de curar, demonstrando a dificuldade daquela em estabelecer o monopólio das atividades terapêuticas".


Os parágrafos acima são extraídos de artigos dos pesquisadores portugueses e brasileiros Ricardo Roque, Cristiana Bastos, Luiz Otávio Ferreira, Maria Manuel Quintela e Tânia Salgado Pimenta. Esses e outros trabalhos figuram no suplemento temático da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos intitulado Saberes médicos e práticas terapêuticas nos espaços de colonização portuguesa, lançado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.


História, ciências, saúde: Manguinhos é uma publicação quadrimestral. A assinatura anual da revista pode ser adquirida por R$ 40 (valor individual) ou R$ 60 (valor institucional). Para quem está no exterior, os preços são US$ 40 (individual) e US$ 65 (institucional). Há ainda uma versão online da publicação


 

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