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07/08/2006

História, ciências, saúde: Manguinhos Volume 11, número 2












Um dossiê sobre Miguel Ozorio de Almeida, um dos maiores divulgadores científicos brasileiros da primeira metade do século 20, está no mais recente número da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos, publicada pela Casa de Oswaldo Cruz (COC). Também estão em pauta artigos sobre diversos temas científicos que vão de pedagogia à entomologia. Resenhas de oito livros e resumos de teses de doutoramento e de dissertações de mestrado completam a edição.

O dossiê Miguel Ozorio de Almeida é constituído por dois artigos sobre o fisiologista brasileiro, que foi representante do Brasil na Unesco e um importante divulgador da ciência. O primeiro artigo ressalta a participação de Ozorio como diretor do projeto da Unesco História da Ciência e da Civilização, criado em 1948 e considerado essencial para a reconciliação entre os povos após a 2a Guerra Mundial. O dossiê traz, na íntegra, o Relatório sobre a história científica e cultural da Humanidade, escrito por Ozorio em francês. O outro artigo trata da atuação de Ozorio na difusão científica através de suas conferências, ensaios e livros voltados para temas de ciência. Ele acreditava que "a difusão científica traria como resultado a familiaridade de todos com as coisas da ciência, e sobretudo uma confiança proveitosa nos métodos científicos". O fisiologista acreditava que isso poderia despertar nos jovens a vocação para a ciência.


A seção Fontes traz um artigo de Francisco Hardman, professor da Unicamp, e Lorelai Kury, pesquisadora da COC, sobre o texto Quelques anecdotes brésiliennes, escrito pelo francês Hercule Florence entre 1829 e 1830. Florence acompanhou a expedição fluvial do barão de Langsdorff, patrocinada pelo czar russo e que percorreu o interior do Brasil, do Paraná ao Pará, de 1825 a 1828. Ao longo do percurso, Florence recolheu "causos" da tradição oral do sertão, sobre escravos, quilombos, intrigas amorosas e missões jesuíticas. Sete contos inspirados nesses "causos" compõem Algumas histórias brasileiras (tradução do título) e estão reproduzidos, em português e no original em francês, ao final do artigo.


A história dos hospitais psiquiátricos e as mudanças no tratamento de doentes mentais no Brasil são temas do artigo escrito pelos psiquiatras Luiz Fernando Paulin e Egberto Turato. Os autores contam a trajetória do tratamento psiquiátrico no país desde a década de 40, abordando principalmente o período compreendido desde a criação do INPS, em 1967, até 1978, ano do surgimento do Movimento de Reforma Psiquiátrica. Nessa época surgiram os primeiros núcleos de contestação da prática psiquiátrica, até então predominantemente hospitalar. O artigo fala sobre projetos pioneiros que ajudaram a fazer a transição do modelo hospitalar para os modelos assistenciais que visavam à reintegração dos doentes mentais à família e à sociedade e sua reabilitação para o trabalho.


Escrito pelo professor do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina Francisco de Assis Vasconcelos, um outro artigo analisa a Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, movimento social liderado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. O autor explica porque, depois do apogeu entre 1993 e 1994, o movimento se esvaziou. Depois de uma "emergência explosiva", o movimento, lançado oficialmente em 8 de março de 1993, conseguiu de fato mobilizar a sociedade brasileira para o problema. A parceria com o presidente Itamar Franco possibilitou a realização de atividades de caráter emergencial no combate à fome e à miséria. Mas já no decorrer de 1994, a Copa do Mundo, o Plano Real e a campanha presidencial desviaram a atenção da mídia. A Ação da Cidadania já não tinha o apelo inicial. Vasconcelos se pergunta: "Será possível transformar a solidariedade em objeto concreto no Brasil?".


O artigo de Andréa Lessa, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), trata da violência sob uma perspectiva paleoepidemiológica. A manifestação da violência é um fenômeno que acompanha o homem desde o surgimento da espécie e parece ser inerente à vida em sociedade. Marcas de golpes em ancestrais humanos mostram que a violência existe desde a época dos australopitecos, descendentes do Homo sapiens que viveram há mais de um milhão de anos. Depressões nos crânios desses antepassados sugerem que eles usavam como arma ossos de antílopes. Outras pistas que corroboram o comportamento violento na pré-história são cenas de lutas em pinturas rupestres, achados de armas e a presença de barricadas e fortificações nas aldeias. As análises mostram que a violência não surge apenas em um contexto cultural de ruptura social e econômica - como na colonização européia do continente americano - como se pensava.


Uma coleção de desenhos científicos da Fiocruz é tema de outro artigo, escrito por Ricardo Lourenço, do Instituto Oswaldo Cruz, e Roberto Conduru, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. As ilustrações de barbeiros, assinadas por três desenhistas de Manguinhos - Manoel de Castro e Silva, Luiz Kattembach e Raymundo Honório -, provavelmente foram feitas entre 1925 e 1930 e estavam desde então abandonadas. Supostamente elaborados para uma revisão atualizada dos triatomíneos de vários gêneros organizada por Arthur Neiva, um dos mais famosos entomologistas brasileiros, os desenhos foram considerados "errados" pelos cientistas e não foram publicados. Apenas um dos 13 desenhos foi aproveitado, cerca de 40 anos depois. Especialistas em barbeiros afirmam que as ilustrações são muito artísticas e pouco científicas. No artigo, os autores discutem a condenação dessas gravuras, a fronteira entre arte e ciência e a importância da fidelidade do desenho científico às características do animal ou planta que pretende retratar.


História, ciências, saúde: Manguinhos é uma publicação quadrimestral. A assinatura anual da revista pode ser adquirida por R$ 40 (valor individual) ou R$ 60 (valor institucional). Para quem está no exterior, os preços são US$ 40 (individual) e US$ 65 (institucional). Há ainda uma versão online da publicação.

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