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07/08/2006

História, ciências, saúde: Manguinhos Volume 12, número 2

Catarina Chagas









As supostas relações entre raça e saúde, cada vez mais discutidas pela comunidade científica nacional e internacional, são tema de dossiê na nova edição da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos. Organizado pelo sociólogo Marcos Chor Maio e pelo antropólogo Ricardo Ventura dos Santos - ambos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz -, o especial traz artigos sobre o conceito de raça no contexto da medicina e análises da relação entre a ocorrência de doenças como anemia falciforme e hipertensão arterial e a composição genética dos indivíduos. A edição traz, na seção Debate, reflexões sobre ciência, tecnologia e diálogo com os cidadãos orquestradas pela jornalista Luisa Massarani, do Centro de Estudos do Museu da Vida da Fiocruz.


Para Sérgio Pena, professor do departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o conceito de raça, "associado à idéia de que cor e/ou ancestralidade biológica são relevantes como indicadores de predisposição a doenças ou de resposta a fármacos", decorre de uma visão tipológica das raças humanas. No entanto, dado o baixo grau de variabilidade genética da espécie humana, o autor ressalta que não seria razoável pensar que tais fatores possam contribuir para a prática médica. Segundo ele, mesmo as doenças consideradas "raciais", como a anemia falciforme, são resultado das diferentes estratégias evolucionárias de populações expostas a agentes infecciosos específicos.


A crescente valorização da genética, justificável ou não, é o tema do trabalho dos organizadores Santos e Maio, que apresentam uma visão antropológica e social do assunto no artigo que fecha o dossiê. Os autores explicam que "padrões de identidade historicamente reconhecidos podem ganhar ainda mais legitimidade ou serem negados pelos resultados de seqüenciamentos de DNA", que, além disso, podem criar novas proposições, não reconhecidas socialmente antes do advento da genômica. Eles avaliam as repercussões de pesquisas sobre a variedade biológico-genômica da população brasileira e seu envolvimento em questões sócio-políticas e históricas.


Por fim, Massarani reúne profissionais de diversos países para debater a importância da ampliação da participação do público leigo nas decisões que se referem a temas de ciência e tecnologia que podem causar impacto na sociedade. As experiências de países como Canadá, Chile, Reino Unido, Argentina e Dinamarca tornam-se objeto de reflexão. Em entrevista à jornalista brasileira, Lars Klüver, diretor do Conselho Dinamarquês de Tecnologia, e Edna Einsiedel, professora de Estudos de Comunicação da Universidade de Calgary, no Canadá, sugerem que "o principal objetivo na implantação de mecanismos de participação pública é manter um amplo debate na sociedade sobre questões científicas e tecnológicas e criar um fórum em que especialistas possam aprender com os cidadãos comuns".


História, ciências, saúde: Manguinhos é uma publicação quadrimestral. A assinatura anual da revista pode ser adquirida por R$ 45 (valor individual) ou R$ 70 (valor institucional). Para quem está no exterior, os preços são US$ 50 (individual) e US$ 80 (institucional). Há ainda uma versão online da publicação.

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