08/07/2009
Ruth Martins
A escocesa Nancy Stepan, historiadora da medicina da Universidade de Columbia (Nova York), fez nesta quarta-feira a palestra Paradigmas e paradoxos em saúde pública: doença de Chagas no contexto global, cuja tônica foi o papel do Estado na defesa da saúde de populações. Comentou ainda dados polêmicos e contestados, como a suspeita de que 70% das crianças bolivianas moradoras em zonas rurais são infectadas pelo Tripanosoma cruzi. “Há também indícios de que países europeus e os Estados Unidos têm mais infectados do que os registros oficiais acusam”, avaliou Stepan sobre a dificuldade em se obter dados confiáveis em função do descaso para com a doença.
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Nancy: O fato de a tripanossomíase americana ter sido negligenciada pelo governo brasileiro por muito tempo impediu o avanço de uma série de medidas sanitárias (Foto: Gutemberg Brito) |
Ela falou sobre a importância das intervenções no campo da saúde, em que agências de governo atuam como formuladoras de políticas e são responsáveis por campanhas de combate a doenças transmissíveis, como a varíola, a poliomielite e a malária. Também destacou a importância da idéia de se difundir o slogan “transmissão zero”, para as campanhas de erradicação formuladas pela Organização Pan-Americana de Saúde.
A análise dos contextos políticos e sociais em que ocorrem as campanhas de erradicação de doenças permeou a apresentação da historiadora, cujas pesquisas cobrem grandes períodos – “da época de ouro de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas”, quando houve o saneamento das cidades e as viagem para os sertões, até governos do pós-Segunda Guerra Mundial –, como o segundo de Getulio Vargas.
“Chagas sempre disse que a doença tinha relevância epidemiológica nas Américas. O fato de a tripanossomíase americana ter sido negligenciada pelo governo brasileiro por muito tempo impediu o avanço de uma série de medidas sanitárias e, em diversos níveis, os avanços ambiciosos do próprio governo”, concluiu Stepan.
Publicado em 8/7/2009.