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19/08/2008

Hospitalizações por complicações do pé diabético ainda são altas

Fabíola Talvares


O número de amputações de pés diabéticos diminuiu entre a população de baixa renda de Pernambuco, mas ainda é elevada a taxa de hospitalização causada pelas amputações e complicações do pé diabético. Dificuldades no diagnóstico precoce e no acompanhamento desses pacientes nos Programas de Saúde da Família (PSF), que atuam na atenção básica de saúde, explicam esse quadro. É o que revela estudo desenvolvido pela professora de enfermagem Isabel Cristina Ramos, da Fiocruz Pernambuco. A falta de exame dos pés do diabético e de orientação sobre os cuidados necessários com essa parte do corpo, a falta de controle das taxas metabólicas e o tabagismo são fatores relacionados à ocorrência da amputação. O pé diabético se caracteriza por lesões nos membros inferiores e é a causa mais comum de internação entre os portadores da diabetes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 2025 haverá 366 milhões de pessoas com diabetes no planeta, o que representa 7% da população. Desses, de 1,5% a 10% terão feridas nos membros inferiores.


 Os endocrinologistas recomendam que alguns cuidados sejam adotados pelos diabéticos para evitar feridas

Os endocrinologistas recomendam que alguns cuidados sejam adotados pelos diabéticos para evitar feridas


A pesquisa, feita por Isabel no doutorado em saúde pública da Fiocruz Pernambuco, foi dividida em duas etapas. Na primeira foram analisados 4.633 prontuários do ambulatório de clínica vascular do Hospital da Restauração, unidade referência para o atendimento desses casos, no período de três triênios (1990 a 1992, 1995 a 1997 e 2003 a 2005). Na segunda, foram entrevistados 137 pacientes internados no mesmo hospital, no período de 2006 a 2007.


A análise dos prontuários revelou que 1.267 (27,3%) pacientes tinham internações por pé diabético. Desses, 874 (69%) desses eram amputados. O maior número de internações ocorreu, por ordem, no primeiro (33%), no terceiro (29,1%) e no segundo (22,4%) triênio. “A causa mais provável dessa diminuição do primeiro para o segundo triênio foi a implantação do PSF. Já o aumento das internações do segundo para o terceiro triênio pode, possivelmente, ser explicado pela inadequação das condutas de manejo da doença e pelo encaminhamento dos casos graves detectados para o hospital”, explica Isabel Cristina. Segundo ela, a última suposição ganha apoio com a prevalência encontrada no terceiro triênio, quando o Ministério da Saúde implantou o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e a Diabetes Mellitus. As amputações ocorreram em maior número no segundo triênio (73,9%), no terceiro (67%) e no primeiro (66,7%), respectivamente. “O crescimento das amputações do primeiro para o segundo triênio deve-se ao aumento de internações referenciadas pelos PSF, como constatado na outra etapa da pesquisa”, esclarece.


Dentre os amputados, 58,9% eram moradores da Região Metropolitana do Recife, área do estado com maior concentração de equipes de saúde da família e 95,2% foram admitidos no hospital com a glicemia acima de 126 miligramas (mg) por decilitros (dl). De acordo com resultados do estudo, esse é um fator que aumenta em duas vezes o risco de amputação, já que a taxa limite de glicemia em jejum fica entre 70 mg/ml e 99 mg/dl. A prevalência das amputações foi maior no grupo etário de 60 anos ou mais (69,5%) e não houve diferença estatística significante entre homens (55,3%) e mulheres (54,7%).


Atuação do Programa de Saúde da Família é essencial


É na segunda etapa da pesquisa que as falhas de atuação das unidades do Programa de Saúde da Família (PSF) no controle da diabetes ficam mais evidentes. Dados obtidos nas entrevistas com os pacientes internados mostram que mais da metade deles (54,1%) só souberam ser diabéticos após encontrarem lesões nos membros inferiores, 63% disseram não fazer consulta anual após o diagnóstico e 83,5% estavam com o pé ulcerado há mais de um mês, aumentando em 4,4 vezes o risco de amputação.


O tempo de espera pela consulta para mostrar o pé ulcerado ao médico foi superior a um mês para 81,2% deles. Esse mesmo percentual disse não ter examinado o pé no último ano e 74,1% não recebeu orientações sobre cuidados que devem ter com o pé diabético. Neste caso o risco de amputação é 3,6 vezes maior.


Cerca de 86% dos amputados foram internados com gangrena e 82,4% eram fumantes. “Os números refletem que os diabéticos precisam ser vistos com mais carinho pelas equipes do Programas de Saúde da Família. Na sua maioria, eles são pessoas pobres, com renda de até três salários-mínimos e com quatro anos de estudo. Eles necessitam de orientação e de acesso fácil à saúde”, conclui Isabel Cristina, que foi orientada pelos pesquisadores Eduardo Freese e Wayner Souza, ambos do Departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco.


Os endocrinologistas recomendam que alguns cuidados habituais sejam adotados pelos diabéticos para evitar feridas nos pés. Entre os principais estão evitar caminhar descalço, dentro ou fora de casa; inspecionar os pés diariamente, principalmente a área entre os dedos; não usar produtos químicos para retirar calos; e usar calçados confortáveis com meia, de preferência de algodão. Também é preciso ter hábitos de higiene e seguir a dieta recomendada.


Publicado em 18/08/2008.

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