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11/04/2007

Identificadas espécies causadoras da leishmaniose cutânea no Acre

Bel Levy


Um estudo pioneiro investigou a diversidade de espécies de agentes etiológicos causadores da leishmaniose cutânea no Acre. Este é o primeiro passo para o entendimento da eco-epidemiologia da doença no estado, que entre 1980 e 2003 apresentou um crescimento de 41 para 1.298 casos da doença, segundo dados do Ministério da Saúde. Desenvolvida em parceria pelo Laboratório de Pesquisas em Leishmanioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma unidade da Fiocruz, o Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília e o Serviço de Imunologia do Hospital Universitário Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia, a pesquisa analisou por métodos clínicos e moleculares amostras de 50 pacientes e registrou a presença das espécies Leishmania braziliensis, Leishmania lainsoni e Leishmania guyanensis. Um fato curioso foi a identificação de uma forma híbrida entre as espécies L. naiffi e L. lainsoni.


 Análises clínicas e moleculares de amostras de pacientes acreanos revelam pela primeira vez a diversidade de espécies do agente etiológico da leishmaniose cutânea no estado (Foto: Ana Limp)

Análises clínicas e moleculares de amostras de pacientes acreanos revelam pela primeira vez a diversidade de espécies do agente etiológico da leishmaniose cutânea no estado (Foto: Ana Limp)


O estudo confirma a já conhecida diversidade de espécies de parasitos causadores da leishmaniose cutânea no país e inova ao identificar quais dessas espécies ocorrem no Acre – informação até então desconhecida. As espécies encontradas no estado são prevalentes também em outras regiões do Brasil e em países endêmicos vizinhos, como Peru e Bolívia, o que pode indicar expansão geográfica da doença a partir da dispersão dos parasitos. A leishmaniose é causada por parasitos do gênero Leishmania, transmitidos por insetos (flebotomíneos). Na forma cutânea, provoca lesões na pele de gravidade variável, de acordo com o agente etiológico. Daí a importância de se conhecer as espécies circulantes para o controle efetivo da doença.


Um fato que chamou a atenção dos pesquisadores é a presença da forma híbrida entre L. naiffi e L. lainsoni no Acre, já que parasitos da espécie Leishmania naiffi não foram encontrados na região. “Conhecer a proximidade genética entre esta forma híbrida e cepas de Leishmania naiffi pode indicar a origem geográfica destas formas híbridas que circulam no estado. Ainda são necessários outros estudos para compreender o comportamento biológico deste híbrido, mas sabemos que a recombinação genética entre duas espécies pode influenciar fenômenos importantes como patologia, resistência a drogas e plasticidade em relação aos hospedeiros”, anuncia Elisa Cupolillo, pesquisadora do Laboratório de Pesquisas em Leishmanioses do IOC, que coordena o estudo junto com o pesquisador Gustavo Romero, da Universidade de Brasília.


“Conhecer os agentes etiológicos específicos da região direciona a investigação de espécies vetoras e de reservatórios silvestres que podem estar envolvidos no ciclo da leishmaniose cutânea, o que é fundamental para o entendimento da dinâmica de transmissão da doença e conseqüentemente para o estabelecimento de medidas de controle mais eficientes”, Elisa conclui.

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