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14/02/2007

Indicadores avaliarão o desempenho do tratamento hospitalar do infarto

Fernanda Marques


A partir de uma nova metodologia, pesquisadores do Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict) e da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), duas unidades da Fiocruz, formularam um conjunto de indicadores que pode ser usado para avaliar a qualidade do tratamento hospitalar do infarto agudo do miocárdio. Segundo o coordenador do trabalho, o pesquisador Francisco Viacava, do Cict, a expectativa é que, com as devidas adaptações, a nova metodologia também sirva à construção de indicadores para monitorar o desempenho do tratamento de outras doenças como, por exemplo, o diabetes. O projeto está sendo desenvolvido com recursos do Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde Pública (PDTSP) da Fiocruz.


 Hospital Universitário Antonio Pedro, onde será testada a obtenção dos indicadores (Foto: HUAP)

Hospital Universitário Antonio Pedro, onde será testada a obtenção dos indicadores (Foto: HUAP)


No caso de infarto agudo do miocárdio com supra-desnivelamento do segmento ST, o tipo mais comum, a obtenção dos indicadores – formulados a partir de prontuários hospitalares – começará a ser testada em março, no Hospital Universitário Antonio Pedro, pertencente à Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Para cada indicador, os pesquisadores produziram uma ficha com instruções sobre como calculá-lo e orientações para a análise dos resultados, entre outras informações.


A produção das fichas foi a última etapa da metodologia, que começou com a análise dos protocolos clínicos nacional e americano sobre o tratamento hospitalar do infarto agudo do miocárdio. Esses protocolos definem cinco procedimentos terapêuticos simultâneos que devem ser realizados quando o paciente chega ao hospital, envolvendo o uso de ácido acetilsalicílico, beta-bloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio, inibidores da enzima conversora de angiotensina e fibrinolíticos.


Os indicadores relacionados ao uso do ácido acetilsalicílico, por exemplo, incluem, entre outros, disponibilidade do medicamento ou de droga alternativa na unidade de atendimento; porcentagem de pacientes com contra-indicação ao medicamento registrada no prontuário médico; e porcentagem de pacientes sem contra-indicação ao medicamento que receberam a droga dentro de 24 horas após a chegada ao hospital. “A novidade do nosso trabalho foi construir uma metodologia para analisar as recomendações dos protocolos clínicos e sistematizá-las, identificando os pontos críticos que levaram à seleção de indicadores do desempenho do tratamento hospitalar do infarto agudo do miocárdio”, explica Viacava.


Para definir os indicadores, a equipe construiu fluxogramas detalhados, que levavam em conta o grau de evidência científica para os procedimentos sugeridos pelos protocolos clínicos. A análise dos fluxos foi apresentada a um painel de cardiologistas, de hospitais públicos e privados. Na ocasião, dúvidas e contradições entre os protocolos puderam ser esclarecidas. Participaram profissionais dos hospitais universitários Clementino Fraga Filho (UFRJ) e Antonio Pedro, do Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras e dos hospitais Copa D’Or e Pró-cardíaco.


Em seguida, os pesquisadores desenharam esquemas das práticas de cuidado hospitalar. “O fluxograma diz o que deve ser feito, como, por exemplo, um eletrocardiograma. O esquema mostra o que é necessário para executar essa recomendação. Nesse exemplo, um equipamento que faça eletrocardiograma e um profissional que saiba operar esse aparelho e interpretar o resultado do exame”, exemplifica Viacava.


Ao cruzarem os fluxogramas com os esquemas que contêm as etapas do processo de cuidado, os pesquisadores identificaram momentos-chave do tratamento hospitalar. Esses momentos estão associados a dimensões da avaliação do desempenho da atenção hospitalar, como acesso, adequação, efetividade e segurança. Por fim, os indicadores ganharam aquelas fichas com regras para sua aplicação.


“Nossa meta é que esse material seja oferecido aos hospitais do SUS para que eles calculem os indicadores a partir de informações existentes nos prontuários dos pacientes”, comenta Viacava. A análise e o acompanhamento desses indicadores vão permitir não só verificar como está o desempenho geral do tratamento hospitalar do infarto, mas também identificar quais etapas do processo precisam de mais atenção para melhorar a qualidade do serviço prestado.

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