30/09/2021
Ana Flávia Pilar (CCS/Fiocruz)
O Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado nesta quinta-feira (30/9), aponta sinal de estabilidade no país agora no mais baixo patamar desde o início da epidemia no Brasil. A análise mostra que cinco dos 27 estados registraram sinal de crescimento na tendência de longo prazo até a Semana Epidemiológica (SE) 38, de 19 a 25 de setembro: Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Pará e Rondônia. Dentre os demais, 14 apresentam sinal de queda na tendência de longo prazo. São eles: Acre, Amapá, Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Roraima, São Paulo e Tocantins. O estudo destaca também que Amazonas, Goiás, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro são as únicas unidades federativas que apresentam sinal de crescimento apenas na tendência de curto prazo. Atualmente, cerca e 96% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com resultado laboratorial de vírus respiratório correspondem a infecções por Sars-CoV-2.
Em relações às regiões, no Sudeste, Belo Horizonte apresenta indícios de crescimento abrupto, uma quebra no padrão observado no quadro geral do momento e que ainda não se verifica no dado estadual. Segundo o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, esse aumento pode estar associado a alterações no fluxo de notificações combinado com ligeiro crescimento na estimativa de casos semanais na população idosa, sendo necessário uma reavaliação ao longo das próximas semanas. Os estados de São Paulo e Minas Gerais mantêm o volume de casos semanais em crianças de 0 a 9 anos significativamente elevado. No Espírito Santo, que apresenta aumento apenas na tendência de curto prazo, os dados por faixa etária sugerem crescimento concentrado na população idosa. Já o Rio de Janeiro está com sinal de estabilização, mas mantém queda na população acima de 70 anos, que havia puxado a tendência de crescimento durante o inverno.
O cenário no Centro-Oeste mostra que o Distrito Federal está com sinal claro de retomada do crescimento, puxado pela população com mais de 70 anos. Os demais estados apresentam estabilidade, com atenção especial para os casos de SRAG em crianças no Mato Grosso do Sul, que mantém estabilidade em patamar similar ao pico do inverno de 2020.
Na região Norte, o panorama sugere apenas algumas oscilações em todos os estados, com sinal de crescimento na tendência de curto prazo em alguns deles. Ainda assim, os valores são os menores desde o início da epidemia. A situação é parecida no Nordeste, com indicativos de queda ou estabilidade em patamares baixos, ainda que na Bahia tenha sido registrado sinal de crescimento na tendência de curto prazo. Gomes chama atenção que no Nordeste foi verificada manutenção do crescimento dos casos de SRAG em crianças de 0 a 9 anos no estado baiano.
Já no Sul, há sinal de estabilidade ou queda nos estados e capitais, porém mantendo estabilidade em valores significativamente elevados nas crianças de 0 até 9 anos, sendo a região que mais preocupa em relação a essa faixa etária. Foi também onde se registrou contribuição importante de casos associados ao vírus sincicial respiratório (VSR) nas crianças.
Capitais
Na atualização observa-se que apenas 4 das 27 capitais apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo (últimas 6 semanas) até a semana 38: Aracaju (SE), Belo Horizonte (MG), plano piloto de Brasília e arredores (DF) e Salvador (BA). Em onze capitais observa-se sinal de queda na tendência de longo prazo: Boa Vista (RR), Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), João Pessoa (PB), Palmas (TO), Porto Alegre (RS), Rio Branco (AC), Rio de Janeiro (RJ) e Teresina (PI). Além disso, três capitais apresentam sinal de crescimento apenas na tendência de curto prazo (últimas três semanas): Campo Grande (MS), Manaus (AM) e Rio de Janeiro (RJ).
Belo Horizonte apresenta sinal forte de crescimento nas tendências de longo e curto prazo. Em Aracaju e Salvador, os sinais de crescimentos são compatíveis com cenário de oscilação em torno de patamar estável cuja média semanal é a menor desde o início da epidemia.
Em relação aos casos associados a residentes do plano piloto e arredores em Brasília, o sinal de crescimento moderado nas tendências de curto e longo prazo sugerem situação de retomada do crescimento, observada principalmente em idosos como apontado pelo dado de Brasília como um todo, e requer atenção especial.
Nas capitais, Campo Grande, Manaus e Rio de Janeiro - que apresentam sinal moderado de crescimento apenas na tendência de curto prazo - o cenário é similar àquele reportado para Aracaju e Salvador, isto é, de oscilação em torno de patamar estável. Sendo que na capital fluminense a queda recente ainda não foi suficiente para atingir os menores valores semanais registrados no ano passado.
Transmissão comunitária
Conforme apresentado pelos indicadores de transmissão comunitária, a maioria das capitais encontram-se em macrorregiões de saúde com nível alto ou superior, embora diminuindo gradativamente. Das 27 capitais, duas integram macrorregiões de saúde em nível pré-epidêmico (Macapá e São Luís), uma integra macrorregião de saúde em nível epidêmico (Boa Vista), 18 integram macrorregiões de saúde em nível alto (Aracaju, Belém, Campo Grande, Cuiabá, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Manaus, Natal, Palmas, Porto Alegre, Porto Velho, Recife, Rio Branco, Salvador, São Paulo, Teresina e Vitória), quatro em nível muito alto (Curitiba, Florianópolis, Goiânia e Rio de Janeiro), e duas em nível extremamente alto (Belo Horizonte e Brasília).
As estimativas de nível de transmissão comunitária apontam que seis macrorregiões de saúde estão em nível pré-epidêmico, 12 em nível epidêmico, 74 em nível alto, 22 em nível muito alto e somente quatro registram taxas extremamente altas — elas estão localizadas no Distrito Federal (1), Minas Gerais (1) e no Paraná (2). Amapá, Maranhão e Roraima estão com todas as macrorregiões de saúde abaixo do nível alto. Os demais estados contam com pelo menos uma macrorregião de saúde com nível de transmissão comunitária alto ou mais elevado, mas a quantidade total de macrorregiões em nível muito elevado ou extremamente elevado vem diminuindo gradativamente.
Vírus Sincicial Respiratório
Ainda que em valores relativamente mais baixos do que o total de casos semanais de SRAG, a análise reitera aumento no número de casos confirmados de vírus sincicial respiratório (VSR), com valores acima de 200 novos casos semanais entre as semanas 6 a 29 de 2021 (07/02 a 24/07). “Esse aumento encontra-se presente em todas as regiões do país, sendo que as regiões Sul, Centro-Oeste, e Sudeste são as que apresentam a maior incidência acumulada até o momento. O aumento de casos confirmados de VSR pode estar associado ao relaxamento em relação às medidas de distanciamento que também levou ao aumento explosivo nos casos de Covid-19”, ressalta Gomes.
“Para os casos de SRAG em crianças pequenas sem diagnóstico positivo para Covid-19, o VSR acaba sendo o suspeito natural. Nesse caso, a testagem por RT-PCR é importante não só para o acompanhamento da disseminação do vírus, mas também para o diagnóstico diferencial. Quanto à faixa etária, os casos de VSR apresentam mediana de 0 ano e intervalo de confiança a 90% até os 54 anos de idade — ou seja, o resultado está concentrado no intervalo de 90 das 100 amostras. Ao mesmo tempo, a mediana para o total de casos de SRAG referentes ao ano de 2021 é de 56 anos”.