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31/10/2008

Informação e prevenção: armas contra câncer de pele e hanseníase

Informe Ensp


O câncer de pele e a hanseníase são duas doenças muito comuns entre a população brasileira. Elas têm preocupado especialistas e, ao longo dos anos, vêm ganhando atenção especial desses profissionais. Há dez anos, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) promove a Campanha Nacional contra o Câncer de Pele e, por mais um ano, a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz abraça essa causa e inclui a luta pelo controle da hanseníase na mesma campanha. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a previsão para 2008 é de cerca de 115 mil diagnósticos de câncer de pele no país. Além disso, 80% dos casos de hanseníase na América Latina estão concentrados no Brasil. Abaixo, a entrevista concedida pelos médicos dermatologistas Ziadir Francisco Coutinho, do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da Ensp, e José Augusto Nery, chefe do Ambulatório Souza Araújo.


 Coutinho (à esquerda) e Nery: unir esforços para combater o câncer de pele e a hanseníase<BR><br />
(Foto: Virginia Damas)

Coutinho (à esquerda) e Nery: unir esforços para combater o câncer de pele e a hanseníase

(Foto: Virginia Damas)


Qual o principal objetivo da Campanha Nacional contra o Câncer de Pele e por que a Fiocruz incluiu a hanseníase nessa luta?


Ziadir Coutinho: O grande objetivo da campanha é sensibilizar e educar a população sobre os perigos da exposição excessiva ao sol. Lutamos contra um hábito, uma cultura, já que, no Brasil, a moda é ser bronzeado. Com isso, as pessoas se expõem nos horários em que a radiação ultravioleta está mais forte. A exposição excessiva ao sol e a falta de proteção adequada aumentam o risco de desenvolver câncer de pele. Além disso, esse mau hábito também causa o envelhecimento precoce da pele. A cada ano, os números vêm aumentando e isso preocupa os profissionais. Dados do Inca apontam que a previsão para o ano de 2008 é de cerca de 115 mil diagnósticos de câncer de pele no país.


José Augusto Nery: A união do combate à hanseníase a essa campanha começou há dois anos e partiu de uma idéia do Ziadir. Seu objetivo é o mesmo do câncer de pele, sensibilizar pacientes e profissionais da área. A hanseníase é uma doença endêmica no Brasil. Ao todo, surgem 50 mil novos casos por ano, e somente no Rio de Janeiro, estado de grande infestação, são cerca de 3,5 mil novos casos da doença. A hanseníase é uma doença prima-irmã da tuberculose. Elas seguem o mesmo padrão epidemiológico, acometendo principalmente grupos menos favorecidos, como pessoas de baixa renda e baixa qualidade de vida. Mas isso não significa que ela não apareça entre as pessoas de classes sociais mais altas. A hanseníase, ou lepra, ainda é uma doença muito estigmatizada, apesar de ser completamente curável. O que queremos com essa campanha é dar visibilidade aos seus sinais e sintomas, pois encontramos muitos profissionais que têm dificuldade de diagnosticá-la.


Quais são as principais formas de apresentação e de prevenção dessas doenças?


Coutinho: O câncer de pele aparece na forma de pintas e manchas que mudam de cor, textura ou tamanho. Por isso, as pessoas devem fazer o auto-exame regularmente, para identificar sinais precoces de tumores e observar pintas e manchas suspeitas. Além disso, é sempre bom lembrar que, seguindo algumas dicas, toda população pode se proteger e evitar o câncer. Mesmo nos dias nublados ou chuvosos, a Terra recebe radiações ultravioletas e devemos nos proteger. Isso justifica o uso diário do protetor solar. Na praia, o perigo aumenta porque a areia reflete 100% dos raios incidentes.


Algumas outras dicas são: proteger-se dos raios solares usando bonés e roupas; passar o protetor solar meia hora antes de se expor ao sol e, quando estiver na praia, passar o protetor de duas em duas horas. No caso de pessoas mais claras, o ideal é permanecer debaixo da barraca. A melhor forma de prevenir é se proteger. Vale lembrar que o efeito da radiação ultravioleta é cumulativo. Com isso, as alterações da pele podem se manifestar muitos anos depois.


Nery: A hanseníase é transmitida pelo ar e sua contaminação se dá por meio das vias respiratórias. Portanto, a melhor forma de prevenção é a informação. Sensível aos sinais e sintomas e com informações adequadas, um especialista é capaz de fazer um diagnóstico rápido e, conseqüentemente, iniciar de imediato o tratamento com o paciente. Somente isso pode controlar a disseminação da doença no país. O Ambulatório Souza Araújo é um centro de referência no tratamento da hanseníase. Ele é formado por uma equipe de profissionais altamente qualificados e está preparado para receber moradores de toda a cidade do Rio.


O Brasil apresenta a segunda maior taxa de detecção da doença em todo o mundo, perdendo somente para a Índia. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a taxa de detecção máxima da hanseníase deve ser de um para cada 100 mil habitantes, mas nosso país apresenta um número quatro vezes maior que o determinado. Somos o primeiro no ranking da América Latina, concentrando 80% dos casos. O maior problema da hanseníase é que, normalmente, pela falta de informação e de sensibilidade do profissional, essa doença demora a ser detectada. E, enquanto isso, a pessoa contaminada continua disseminando a doença.


A principal característica da hanseníase são manchas brancas ou avermelhadas, que apresentam alterações de cor e de sensibilidade. Além disso, a sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades do corpo, como mãos, pés e cotovelos também não alguns sintomas.


Existem diferentes tipos de câncer de pele e de hanseníase. Quais são os mais perigosos?


Coutinho: Ao todo, temos três tipos de câncer de pele: carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma. O melanoma é o câncer que causa metástase. Ele representa cerca de 4% ou 6 mil casos anuais do total de cânceres de pele, tem uma rápida evolução, mas, se identificado precocemente, pode ser tratado. Os outros dois tipos também são perigosos, porém sua ação é menos severa no organismo. O carcinoma basocelular representa quase 75% dos casos, e o espinocelular cerca de 25%.


Nery: A hanseníase apresenta dois tipos de infecção: paucibacilar e multibacilar. O paucibacilar é o doente que apenas carrega a doença, seus sinais e sintomas, mas não tem a capacidade de transmiti-la. Já o paciente multibacilar, além de apresentar todos os sinais e sintomas, é capaz de disseminar a doença. A hanseníase é transmitida pelas vias respiratórias, mas a maioria das pessoas apresenta uma resistência natural à bactéria e, por causa disso, não adoecem. O tratamento da hanseníase é oferecido gratuitamente em todos os postos de saúde do país. Seu tratamento é feito com um coquetel de medicamentos, composto de três tipos de antibióticos e é chamado de poliquimioterapia (PQT). O tempo do tratamento varia de acordo com o tipo de infecção do paciente, podendo durar de 6 a 24 meses.


Publicado em 31/10/2008.

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