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18/02/2008

Informação rio acima

Catarina Chagas e Fernanda Marques


Faz pouco tempo que o biólogo Leandro Giatti passou dez dias no distrito indígena Iauaretê, na fronteira com a Colômbia. Para chegar lá, o pesquisador da Fiocruz na Amazônia tomou um avião em Manaus, desceu em São Gabriel da Cachoeira, pegou um barco e, após dois dias subindo o Rio Waupés, afluente do Rio Negro, finalmente chegou à comunidade, onde vivem cerca de 2.700 indígenas. O objetivo da longa viagem era contribuir com o primeiro dos 18 módulos do curso Mobilização Social em Saúde e Saneamento, coordenado pela pesquisadora Renata Ferraz de Toledo, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). As aulas abordaram doenças de veiculação hídrica e sua prevenção.


 Pesquisadores usam barcos para chegar a distantes aldeias da Amazônia (Foto: Raquel Scopel)

Pesquisadores usam barcos para chegar a distantes aldeias da Amazônia (Foto: Raquel Scopel)


Mas esse não foi o primeiro contato de Giatti com o distrito Iauaretê. “Em visitas anteriores, realizamos reuniões com a comunidade em busca de construir soluções conjuntas para os problemas locais, que incluíam doenças infecciosas e condições sanitárias inadequadas, como ausência de sistemas apropriados de suprimento de água, esgotos e descarte de resíduos sólidos”, esclarece o biólogo, que voltará à comunidade indígena em setembro.


Os processos de saúde/doença/atenção entre índios também são tema do estudo da antropóloga Raquel P. Dias-Scopel, outra pesquisadora da Fiocruz na Amazônia. Ela trabalha com o povo mura, que vive ao longo dos rios Autaz-Açú e Autaz-Mirim. O deslocamento até as aldeias é feito em quatro etapas: a primeira de balsa, a segunda de carro, a terceira novamente de balsa e a quarta de lancha ou canoa. Após a viagem, Raquel vira hóspede dos índios e passa a participar de suas atividades cotidianas, do trabalho na roça às festas.


Essa metodologia de pesquisa – a observação participante – permite compreender a organização social e política das aldeias, bem como analisar suas relações com a saúde e as doenças. “No início, diante das diferentes regras de etiqueta e visões do mundo, temos a sensação de ser um sujeito fora do lugar, devido ao estranhamento suscitado pela distância do que nos é familiar”, revela Raquel. “Mas isso faz parte do processo de construção do conhecimento antropológico”.

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