27/11/2014
Carolina Landi e Priscila Sarmento
Em agosto de 2014, a Organização Mundial de Saúde declarou a situação da epidemia pelo vírus Ebola como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. Seguindo o Regulamento Sanitário Internacional, o Ministério da Saúde do Brasil publicou o “PROTOCOLO DE VIGILÂNCIA E MANEJO DE CASOS SUSPEITOS DE DOENÇA PELO VÍRUS EBOLA (DVE)”, apontando o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Oswaldo Cruz, como referência no Estado do Rio de Janeiro para a assistência e internação dos pacientes suspeitos de infecção pelo vírus e, posteriormente, como referência nacional para apoiar a ação recebendo casos identificados em outros estados caso necessário.
(foto: Gutemberg Brito)
Com o intuito de delinear estratégias para atuação frente à possibilidade de internação e/ ou atendimento de pacientes suspeitos de infecção pelo vírus Ebola na unidade, a Direção do INI organizou uma equipe multiprofissional dedicada a elaborar e revisar continuamente um plano de ação, com bases nas diretrizes do Ministério da Saúde e na expertise dos profissionais nas áreas de infectologia, vigilância epidemiológica, infecção hospitalar, gerenciamento de risco e tratamento de resíduos, higienização e limpeza hospitalar.
A presidência da Fiocruz formou um grupo de trabalho para apoiar o INI na implementação desse plano, responsável por articular as ações e comunicação com outras instâncias institucionais, com o Ministério da Saúde, com a imprensa, com o laboratório de referência para diagnóstico da infecção e outros órgãos externos identificados como parceiros, além de prover recursos financeiros extras para aquisição de insumos e equipamentos, adequações de infraestrutura do hospital e das áreas adjacentes.
Treinamento
Paralelamente ao plano, foram realizados 162 treinamentos da equipe, composta por médicos, enfermeiros e técnicos de Enfermagem, e profissionais de limpeza. O treinamento está na fase de replicação, ou seja, de capacitação de profissionais que possam ser supervisores de equipe nos plantões, durante a semana ou fim de semana. De acordo com Eduardo Corsino, chefe da Farmácia e um dos coordenadores da ação ao lado da infectologista Juliana Mattos, a iniciativa serve para verificar se está tudo de acordo com o protocolo.
O supervisor, considerado por Corsino o “quarto elemento” da equipe, não precisa ter uma especialidade, ou seja, pode ser médico, farmacêutico ou enfermeiro, deve apenas fazer parte do grupo para orientar nos procedimentos. Ele deve conhecer bem o plano de contingência e ter noção de risco, para conseguir evitar que o profissional tenha alguma exposição. É a autoridade máxima dentro da equipe. O médico, a enfermeira e o profissional da limpeza que estiverem no isolamento, devem obedecer ao supervisor. Ele vai observar se está tudo em ordem e todo o procedimento necessário.
“Estamos sempre revendo os processos de paramentação e desparamentação, onde podemos ter possíveis quebras de barreira e infecção. Resolvemos acrescentar mais proteção em alguns momentos, como na retirada do macacão. Esse momento é crítico, então optamos por colocar um avental cirúrgico de manga comprida impermeável cobrindo a pele antes do macacão”. A ideia, segundo Corsino, é garantir a segurança na hora da desparamentação. “É um processo minucioso que deve ser testado em cada mudança”.
Minucioso também é o processo de higienização. Cada entrada e retirada de resíduo dura em torno de duas a três horas. Vestir o equipamento de segurança (EPI) leva em torno de 20 a 30 minutos. “É muito tempo para ficar com o EPI. Essa demora foi uma de nossas preocupações, pois a pessoa passar mal com o calor. Estamos tentando fazer da maneira mais ágil possível para evitarmos que alguém passe mal”.
O treinamento acompanha um documento (que pode ser acessado aqui), cujo objetivo é monitorar o desenvolvimento das atividades necessárias ao manejo de pacientes suspeitos de infecção pelo vírus Ebola no INI, e compartilhar as informações específicas que estão sendo construídas nos diferentes protocolos produzidos com outras instituições de saúde. O documento possui cinco eixos principais: Vigilância em Saúde; Assistência; Controle de Infecção Hospitalar/Gerenciamento de Risco; Gerenciamento de Resíduos, Higienização e Limpeza hospitalar; e Comunicação.