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02/06/2008

Iniciado estudo clínico e epidemiológico da leishmaniose no Rio de Janeiro

Bel Levy


O perfil clínico e epidemiológico da leishmaniose tegumentar americana humana e canina no Estado do Rio de Janeiro será mapeado até 2010 em uma iniciativa do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em parceria com o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), duas unidades da Fiocruz. A região é endêmica para a doença, causada por parasitos transmitidos por pequenos insetos chamados flebótomos. O último levantamento do Ministério da Saúde, de 2003, registrou 251 ocorrências da parasitose, o que corresponde à incidência de 1,7 caso por 100 mil habitantes. Para os especialistas, o inquérito epidemiológico que permitirá conhecer a dinâmica de transmissão dos parasitos e rastrear a atual abrangência da doença é fundamental para o controle eficiente do problema.


 Raquel Pacheco coordena a equipe que avaliará o perfil clínico e epidemiológico da leishmaniose cutânea

Raquel Pacheco coordena a equipe que avaliará o perfil clínico e epidemiológico da leishmaniose cutânea


Também conhecida como leishmaniose cutânea, a parasitose é caracterizada pela ocorrência de lesões na pele, que podem ser únicas ou múltiplas e evoluir para a metástase da nasofaringe, levando à destruição do tecido – complicação que pode ser evitada pelo diagnóstico e tratamento precoces e que hoje está relacionada a aproximadamente 5% dos casos da doença. No Estado do Rio de Janeiro é encontrada em ambientes rurais e em regiões próximas a centros urbanos, num padrão de transmissão que está relacionado ao processo migratório da população, à ocupação de encostas e à aglomeração de pessoas em centros urbanos associados a matas secundárias ou residuais.


“A disseminação da parasitose nestes ambientes é eficiente, porque o vetor é altamente antropofílico e adapta-se facilmente a áreas residenciais, onde animais domésticos funcionam como reservatórios do parasito. Daí a importância de rastrear a ocorrência da parasitose tanto em humanos quanto em cães”, resume a bioquímica Raquel da Silva Pacheco, chefe do Laboratório de Sistemática e Bioquímica do IOC e coordenadora do projeto.


Desenvolvida por uma equipe multidisciplinar, a investigação integra diferentes perspectivas, relacionadas ao parasito e às populações humana e canina. A iniciativa teve início em janeiro deste ano, com a coleta de amostras clínicas de pacientes e cães atendidos pelo Centro de Referência em Leishmaniose do Ipec. O material está em fase de análise no Laboratório de Sistemática e Bioquímica do IOC, onde o diagnóstico molecular e a tipagem genética por PCR permitirão detectar a infecção natural e rastrear a espécie de parasito mais prevalente no estado. A partir destes dados, será possível investigar os padrões genéticos das cepas circulantes e de suas possíveis associações com distintas formas clínicas.


“Sabemos que a principal espécie encontrada no Rio de Janeiro é a Leishmania (Viannia) braziliensis, mas a freqüente vigilância epidemiológica e molecular das cepas circulantes é imprescindível para a identificação de novos parasitos que possivelmente venham a ser introduzidos no estado”, esclarece Raquel.


 A doutoranda Fernanda Oliveira faz o diagnóstico e rastreamento de subpopulações do agente etiológico

A doutoranda Fernanda Oliveira faz o diagnóstico e rastreamento de subpopulações do agente etiológico


Além de colaborar para o entendimento da história natural da leishmaniose cutânea no Rio de Janeiro, ao traçar o perfil genético-epidemiológico dos parasitos encontrados na região, a iniciativa contribui também para a formação de recursos humanos na área, uma vez que integra especialistas de diversos campos do conhecimento e estudantes de diferentes níveis, da iniciação científica ao doutorado.

 

A equipe médica do Ipec responsável pelo estudo clínico e o acompanhamento de pacientes, é coordenada pelo dermatologista Armando Schubach e pela otorrinolaringologista Claudia Maria Valete-Rosalino. O projeto é financiado pela organização não-governamental Instituto Kinder do Brasil.

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