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18/01/2011

Instituto Kitasato e Fiocruz assinam acordo de colaboração

Ricardo Valverde


A embaixada do Brasil em Tóquio foi palco da assinatura de um importante acordo de colaboração entre o Instituto/Universidade Kitasato (KI) e o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). Tradicional instituição japonesa, o KI tem larga experiência na área de desenvolvimento de medicamentos e vem buscando estabelecer colaborações internacionais (bilaterais e multilaterais) com foco na descoberta de compostos bioativos de micro-organismos presentes no solo. A médio e longo prazos, a iniciativa será ampliada e estendida a outras áreas das ciências, incorporando transferência bidirecional de tecnologia. Esta, que é a primeira colaboração do KI com uma instituição latinoamericana, pretende promover o conhecimento científico, a descoberta e a inovação, bem como melhorar o intercâmbio e a compreensão cultural, maximizando e aproveitando as vantagens comparativas das duas instituições, de forma equitativa e para o benefício universal. A assinatura contou com a presença de autoridades dos dois países. Após a cerimônia, ocorrida no final de 2010, os diplomatas brasileiros tiveram a oportunidade de visitar as instalações do Instituto, percorrendo o museu, o hospital e diversos laboratórios.


 Prédio original do Instituto Kitasato, construído em 1915, e que hoje é um museu

Prédio original do Instituto Kitasato, construído em 1915, e que hoje é um museu


Segundo o professor Toshiaki Sunazuka, pesquisador-sênior do Laboratório de QuímicaBio-Orgânica do KI e que esteve na Fiocruz em setembro para ministrar um seminário, "esta colaboração dá continuidade a uma longa história de sucesso da cooperação científica entre as duas nações. Ela representa o primeiro passo no que esperamos venha a ser um empreendimento longo e fecundo, bem sintonizado com as necessidades e condições do século 21. A colaboração abrangerá um intercâmbio amplo e compartilhamento de tecnologia, know-how, experiência e recursos. Aumentará também a compreensão de diferentes conhecimentos científicos e realizações, bem como a das duas culturas. Mais importante, vai ajudar a acelerar a evolução de produtos que melhorarão a saúde e a qualidade de vida das pessoas no Brasil, Japão e ao redor do mundo".


O foco inicial da colaboração será estabelecer uma parceria estratégica entre a Fiocruz e o KI, para em seguida estendê-la a outras instituições e identificar outras parcerias com instituições de liderança na América do Sul e África, complementadas também por parcerias na Ásia, no Oriente Médio, na Europa e na América do Norte. A colaboração tem oitos pontos específicos: o estabelecimento de parcerias internacionais de alto nível (inicialmente para descobrir novos compostos bioativos de origem microbiana); a criação de novas e melhoradas técnicas de isolamento e cultivo microbiano, bem como de sistemas de triagem de atividade biológica; a capacitação (humana e institucional); a transferência de tecnologia multidirecional; o direito de propriedade intelectual e "valor agregado" de produtos que podem ser desenvolvidos e aplicados com rapidez para benefício social generalizado e equitativo; o incremento da inovação e aperfeiçoamento da gestão do conhecimento; o aperfeiçoamento do conhecimento e compreensão multicultural; e a promoção da interação e intercâmbio entre Japão e Brasil.


Fiocruz e KI têm missão institucional similar, abrangendo atividades de pesquisa, formação, tecnologia e desenvolvimento de capacidades no campo da saúde. Ambos apresentam diversas vantagens comparativas que, juntas, poderão incrementar a sinergia entre as duas instituições e oferecer um potencial ilimitado para a inovação.


Objetivos principais


A pesquisa colaborativa permitirá facilitar e agilizar a coleção científica e confiável de amostras (inicialmente do solo); que funcionará como fonte de uma ampla gama de novos microrganismos, muitos dos quais podem produzir compostos químicos desconhecidos e metabólitos secundários, no qual alguns ou todos poderão ter uma bioatividade significativa ou outros usos científicos. Além disso, o projeto de pesquisa poderá descobrir uma alternativa terapêutica eficaz, caso a ivermectina – a mais importante descoberta do Instituto – desenvolva resistência nas populações humanas, consequentemente comprometendo o notável sucesso dos programas globais, baseados neste medicamento, de eliminação da oncocercose e  filariose linfática.


As duas instituições prevêem avanços na descoberta e desenvolvimento de novos compostos para uso na prevenção, diagnóstico e tratamento das Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN). E espera-se que o teste rápido para análogos de ivermectina e compostos da Biblioteca de Kitasato contra a doença de Chagas, leishmaniose, dengue e esquistossomose se revelará extremamente proveitoso.


Conceito inicial de pesquisa


O mapa genético do organismo que produz a ivermectina (Avermectinius streptomyces) foi elucidado pelo Kitasato e o mecanismo de produção da ivemectina já é agora bem conhecido. Isto permitiu a produção de várias centenas de derivados sintéticos, entre os quais a OH-Nemadectina, composto que está sendo estudado em mais detalhes pelo Instituto.


Isso envolverá a avaliação das características destes derivados individualmente e em combinações com outras drogas em áreas como: saúde animal; saúde humana (propriedades antiparasitárias utilizando seleção de alto rendimento); avaliação da resistência (em modelos animais); avaliação do impacto secundário entre as populações que utilizaram a droga regularmente há mais de dez anos (por exemplo, impacto sobre as doenças de pele, câncer etc); potencial de uso como inseticidas, sobretudo no controle de insetos vetores de doenças (mosquitos, ácaros, carrapatos, piolhos etc.); uso agrícola (especialmente como herbicidas biológicos ou no controle de pragas de insetos (pulgões etc); novos sistemas de liberação controlada (cronoterapia por meio de formulações de liberação lenta utilizando nanotecnologia, hidrogéis, roupas impregnadas etc); e uso de combinações (análogos de ivermectina e outros compostos).


Além disso, um acordo de reciprocidade será criado para permitir que cada parceiro tenha acesso aos compostos das Bibliotecas Químicas de ambas instituições, para novos testes contra pragas, parasitas, vetores de doenças localmente importantes e para outros fins, conforme acordado mutuamente.


Publicado em 14/1/2011.

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