Início do conteúdo

20/07/2010

Instituto Nacional de Cardiologia e Fundação debatem parceria

Marcelo Garcia


As doenças cardiovasculares representam hoje a mais importante causa de morte entre os brasileiros e um desafio para a saúde pública e para o Sistema Único de Saúde (SUS). Em uma oficina de integração, o Instituto Nacional de Cardiologia (INC) e a Fiocruz buscaram definir linhas de pesquisa e atuação conjunta em redes temáticas para ampliar o estudo e o desenvolvimento tecnológico na área. O objetivo é desenvolver e aprimorar diagnósticos e tratamentos, gerando inovação e impacto nas práticas de saúde brasileiras. O evento contou com a presença de representantes da Presidência da Fiocruz e de unidades da Fundação, como o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) e de médicos e pesquisadores do INC.


 Pesquisadores apresentaram as iniciativas das duas instituições na área, no contexto de cada rede e destacaram linhas de pesquisa onde pode haver maior expectativa de colaboração (Foto: Guto Brito)

Pesquisadores apresentaram as iniciativas das duas instituições na área, no contexto de cada rede e destacaram linhas de pesquisa onde pode haver maior expectativa de colaboração (Foto: Guto Brito)


Uma introdução ao objetivo do evento foi feita  pelo vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz,Valcler Rangel, destacando o potencial de integração entre as duas Unidades, o histórico de construção de vínculos de trabalho entre elas e a trajetória de construção da proposta de oficina de integração e de redes tematicas. Em seguida, a vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Claude Pirmez, e o diretor do INC, Marco Antônio de Mattos. abordaram as capacidades de instalações e profissionais das duas instituições, suas iniciativas no estudo e tratamento das doenças cardiovasculares e destacaram a importância e os possíveis frutos para a saúde pública brasileira de uma colaboração entre Fiocruz e INC.


Mudanças de cenário


Claude traçou um panorama do momento de transição epidemiológica atual e apontou desafios para a Fiocruz nesse contexto. “Cada vez mais, doenças crônicas e degenerativas tornam-se questões de saúde pública ainda mais sérias do que as infecciosas em boa parte do mundo”, afirmou. “Nesse contexto, é um desafio fundamental para a Fiocruz expandir sua pesquisa para estas áreas e traduzir o conhecimento gerado em seus laboratórios em inovação tecnológica, desenvolvendo produtos, tecnologias e intervenções sanitárias prioritários para o SUS nestes temas”.


O diretor do INC destacou a importância da aproximação entre dois centros de referência, um em pesquisa e outro em assistência. “O impacto dessa colaboração para o SUS pode ser enorme, pois poderemos ampliar a captação de recursos, otimizar o uso de infraestrutura das duas instituições e gerar produtos nacionais de interesse para o sistema”, acredita do diretor do INC.


Redes temáticas


Em reuniões preparatórias para a oficina, Fiocruz e INC desenharam seis Redes Temáticas de Pesquisa, que contemplam as áreas consideradas como fundamentais pelas duas instituições no estudo de doenças cardiovasculares. Durante o evento, pesquisadores do INC e da Fiocruz identificados com cada rede temática apresentaram as ações e possibilidades de parcerias dentro de cada eixo.


Pela Rede 1, renomeada ao final do evento como Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde Cardiovascular, Helena Cramer, do INC, destacou a importância da avaliação dos custos, dos serviços e da efetividade dos procedimentos cardiovasculares, além de apresentar os projetos do INC na área, como uma pesquisa nacional sobre a qualidade da cirurgia cardíaca. Monica Martins, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), priorizou como desafio do SUS monitorar cada etapa do cuidado com os pacientes para otimizar o atendimento. Como propostas de parceria, foram apresentados projetos de avaliação de segurança em cirurgia cardíaca e de sistemas de monitoramento das etapas do atendimento e tratamento, entre outros.


Com o tema Diagnóstico e Terapêutica, a Rede 2 contou com a apresentação de Antônio Campos de Carvalho, do INC, e de Vinícius Cotta-de-Almeida, do IOC/Fiocruz. O primeiro deu destaque ao desenvolvimento de linhas de pesquisa voltadas para o diagnóstico molecular de arritmia cardíaca para terapia celular em cardiopatias. Já o pesquisador do IOC apontou estudos sobre diagnóstico molecular de doenças genéticas como fibrose cística e distrofia muscular, que podem ser utilizados como base para parcerias em pesquisas conjuntas sobre doenças cardiovasculares no contexto desta rede. “Alguns dos desafios do SUS passam pela necessidade de universalização dos métodos moleculares e pelo desenvolvimento de novas opções terapêuticas”, destacou Vinicius. “Uma das possibilidades de parceria com o INC seria a formação de um serviço de diagnóstico molecular de doenças cardiovasculares, por exemplo”.


Antonio Sérgio Cordeiro, do INC, apresentou como desafios da Rede 3, intitulada Marcadores de Diagnóstico e Prognóstico, a distância entre bancada e atendimento. Para ele, a parceria com a Fiocruz pode gerar frutos como a identificação de marcadores de risco e prognóstico em casos de doenças cardiovasculares e também permitir uma maior individualização do tratamento. Eduardo Tibiriçá, do IOC, também reforçou a importância de aproximar a pesquisa básica do atendimento e apresentou propostas de colaboração dentro da rede, com foco em hipertensão e em alterações na microcirculação. “Com a melhora no tratamento e o envelhecimento da população, as doenças cardiovasculares passaram a ser um problema em pacientes que vivem com Aids e este seria um tema muito relevante para desenvolvermos pesquisas em conjunto com o INC, por exemplo”, afirmou.


Transformar o conhecimento gerado nos laboratórios em tecnologia nacional também foi um desafio apresentado para a Rede 4, Biotecnologia e saúde cardiovascular. Nesse contexto, Alexandre Siciliano, chefe da cirurgia do INC, apontou uma série de possibilidades de interação entre as duas instituições, como o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas que façam uso de fármacos e terapias gênicas ou imunológicas na recuperação de pacientes. Tania Araujo-Jorge diretora do IOC, apresentou as plataformas tecnológicas da Fiocruz para abordagens de biologia estrutural em projetos de investigação doenças cardiovasculares, o potencial das pós-graduações do IOC, e mostrou a relevância do tema na Agenda de prioridades de pesquisa do Ministério da Saúde e no PAC Saúde. Ela destacou que as propostas sugeridas pelas Redes Temáticas dialogam com as prioridades definidas para o SUS. “A biologia estrutural, área que pode contribuir muito para o estudo das cardiopatias, é um dos focos de muitas pós-graduações da Fiocruz, que também possui redes de biotérios, modelos animais para estudo, plataforma multiusuário de imagem e citômica, microscópios óticos e eletrônicos, que poderão ser utilizados em pesquisas colaborativas”, afirmou Tania. “Além disso, o IOC acumula experiência em iniciativas de promoção da saúde articulando ciência, arte e cultura, que podem ser fundamentais no caso da saúde vascular”, ressaltou.


A rede 5, Tecnologia da Informação (TI) na atenção cardiovascular, foi apresentada por Bernardo Tura, do INC, e por Angélica Baptista da Silva, do Canal Saúde/Fiocruz. Os dois abordaram projetos de capacitação à distância e de educação permanente para profissionais de saúde. Bernardo destacou a importância para o SUS de reduzir a desigualdade na atenção à saúde e disseminar a informação de forma uniforme em todo território nacional, desenvolvendo metodologias para avaliar o impacto dessa disseminação.


Pela Rede 6 (Doenças Infecciosas e Coração), Cristiane Lamas, do INC, apresentou a parceria da instituição com o Instituto de Pesquisas Clínicas Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) no seu programa de pós-graduação strictu sensu, realizada desde 2008. Entre os focos da cooperação estão problemas cardiovasculares relacionados a endocardite, HIV, doença de Chagas, febre reumática e infecção hospitalar. Pela Fiocruz, Armando Schubach, do Ipec, abordou a importância da pesquisa clínica, em especial relacionada a cardiopatias associadas a infecções, que fogem ao domínio de cardiologistas ou infectologistas isoladamente, além de ressaltar as possibilidades de parceria como o compartilhamento de recursos médico-hospitalares e a promoção de editais internos de cooperação. No fim do encontro, as redes temáticas se reuniram separadamente para avaliar as propostas apresentadas e debater possíveis projetos cooperativos entre as duas instituições. A expectativa é que a elaboração de iniciativas conjuntas continue a ser articulada nos próximos meses.


Publicado em 16/7/2010.

Voltar ao topo Voltar