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28/09/2007

Integração entre programas para controle da tuberculose é insatisfatória em Niterói

Igor Cruz


Município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro com elevada taxa de incidência da tuberculose – que chegou a 83 casos para cada cem mil habitantes em 2003, ano em que a incidência nacional foi de 45 casos para cada cem mil habitantes –, Niterói foi alvo de uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. O estudo avaliou, no quesito organização, a aproximação entre as coordenações do Programa Médico da Família (PMF) e do Programa de Controle da Tuberculose (PCT). Quanto à implantação das ações de controle da doença, o trabalho analisou a integração entre equipes do PMF e policlínicas, que fazem parte da rede do SUS no município. A conclusão é que, embora o PMF e o PCT sejam ativos e dinâmicos, a integração entre os dois programas ainda é incipiente tanto na organização quanto na assistência.


 Cartaz da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose, veiculado em 1920, no Rio de Janeiro

Cartaz da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose, veiculado em 1920, no Rio de Janeiro


Uma das fontes inspiradoras para a criação pelo Ministério da Saúde do Programa Saúde da Família (PSF), o PMF foi criado em 1991 com o objetivo de mudar o modelo vigente de assistência à saúde, baseado na medicina curativa, no médico e no hospital, e priorizar o nível primário de atenção, multiprofissional e integrado à comunidade. Cada módulo do PMF, implantado em áreas consideradas de risco social, é constituído por equipes básicas de saúde que realizam visitas domiciliares e atendimentos em consultório. Sob responsabilidade da Fundação Municipal de Saúde de Niterói, a rede de atenção básica do município conta, além do PMF, com unidades básicas de saúde e policlínicas, estas últimas para atendimentos de maior complexidade.


Em sua dissertação de mestrado em saúde pública feita no Departamento de Endemias Samuel Pessoa da Ensp, a enfermeira Luísa Gonçalves Dutra de Oliveira coletou dados com as equipes de um módulo do PMF e em duas policlínicas. Por meio de entrevistas com coordenadores, profissionais de saúde e pacientes, além de observação participante e consulta a documentos, Luísa buscou avaliar as ações de controle da tuberculose em Niterói.


Foram considerados no estudo quatro contextos. O contexto externo levou em conta a vulnerabilidade social, o compromisso político e as condições socioeconômicas do município. Já o contexto organizacional abrangeu as gerências do PMF e do PCT, sua autonomia político-financeira e as ações intersetoriais que promovem. Por sua vez, o contexto de implantação analisou a cobertura, o acolhimento, o atendimento clínico e laboratorial, o tratamento e a integralidade das ações nas unidades de assistência. Por fim, o contexto de efeito avaliou os resultados de tratamento e a satisfação do usuário.


De acordo com os resultados da pesquisa de Luisa, o contexto de efeito foi o que obteve melhor resultado. Em relação aos outros três contextos – externo, organizacional e de implantação –, eles obtiveram pontuações que os classificaram com desenvolvimento parcial para o controle da tuberculose. Entre as medidas de implantação, por exemplo, os exames de contato (testes de diagnóstico feitos em pessoas que residem no mesmo ambiente de pacientes com tuberculose) e a busca de novos casos da doença foram ações que tiveram desempenho aquém do recomendado pelo Ministério da Saúde.


A proporção de casos de tuberculose em Niterói acompanhada pelas equipes do módulo do PMF foi de pouco mais de 10%, enquanto nas duas policlínicas estudadas foi de aproximadamente 46%. Esses números sugerem que, em relação ao controle da doença, os serviços das policlínicas estão sobrecarregados.


“Para ajudar a combater a tuberculose em Niterói, é importante distribuir melhor o atendimento aos pacientes entre as unidades e aumentar a cobertura populacional do PMF”, recomenda Luísa, orientada pela médica Sonia Natal, doutora em saúde pública. “É importante também aumentar o número de profissionais dedicados aos programas, intensificar o tratamento supervisionado e fortalecer os serviços para exames de contato, busca de novos casos e diagnóstico precoce”, completa.

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