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10/09/2007

Interação molecular presente no cérebro é verificada também no sistema imune

Renata Fontoura


Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, em estudo conjunto desenvolvido com pesquisadores franceses no contexto do programa de cooperação bilateral Fiocruz-Inserm, comprovaram que uma interação molecular responsável por orientar o deslocamento dos neurônios também atua guiando células do sistema imune, em especial os linfócitos T, que desempenham importante função na defesa do corpo humano contra vírus e microrganismos. O estudo verificou pela primeira vez que a interação molecular, originalmente descrita no sistema nervoso, também está presente no timo - orgão do sistema imune onde se formam os linfócitos T - e constatou respostas biológicas comuns nos dois casos.


 O estudo remete a uma área recente da ciência - a neuroimunomodulação - que investiga interações entre os sistemas nervoso, imune e endócrino

O estudo remete a uma área recente da ciência - a neuroimunomodulação - que investiga interações entre os sistemas nervoso, imune e endócrino


“São vocábulos comuns utilizados pelo sistema imune e o sistema nervoso”, compara Wilson Savino, chefe do Laboratório de Pesquisas Sobre o Timo do IOC e coordenador do estudo. ”No timo, a interação que envolve a molécula semaforina 3A e o receptor neuropilina induz uma repulsão ao movimento das células para fora do órgão. Este processo é importante porque os linfócitos T saem do timo para colonizar órgãos linfóides periféricos, como baço, gânglios e amídalas, e a partir daí articulam a resposta imune do indivíduo. Se estas células não saem do timo, ocorre o que chamamos de imunodeficiência severa” esclarece.


De acordo com o pesquisador, desdobramentos importantes podem surgir a partir dos resultados do estudo, realizado em material humano. “Há 21 anos publiquei o primeiro trabalho mostrando que o timo de indivíduos soropositivos para o HIV está alterado e exporta um número muito baixo de linfócitos T. O trabalho mostra a possibilidade desta interação molecular eventualmente ser utilizada como alvo de uma intervenção terapêutica para melhorar a saída de linfócitos em uma determinada condição patológica”, explica Savino, ressaltando que o laboratório estuda os mecanismos que governam a migração dos linfócitos T para fora do timo há mais de dez anos. “Investigamos esta migração dos linfócitos, incluindo sua saída, em condições normais e também na presença de determinados desvios patológicos, ou seja, em doenças que possam alterar este processo”, complementa.


A pesquisa, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, da Academia de Ciências dos Estados Unidos, é fruto de cooperação iniciada há mais de 25 anos entre o laboratório do IOC e pesquisadores franceses. “O trabalho foi forjado no contexto da existência de um laboratório de imunologia franco-brasileiro, situado em Paris, que surgiu em decorrência destes anos de cooperação”, conta Savino.


Por tratar de semelhanças de sintaxe entre o sistema imune e o sistema nervoso, o estudo remete a uma área relativamente nova da ciência, denominada neuroimunomodulação, que investiga as interações entre os sistemas nervoso, imune e endócrino. “O Laboratório de Pesquisas Sobre o Timo do IOC desenvolve há vários anos estudos sobre o tema e o primeiro artigo que publicamos sobre neuroimunomodulação é de 1984”, destaca o pesquisador, que é o novo editor-chefe da revista NeuroImmunoModulation, da editora Karger, e o responsável  pela organização da sétima edição do Congresso Internacional de Neuroimunomodulação, que ocorrerá em abril de 2008, no Rio de Janeiro.

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