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21/02/2008

Inversão epidemiológica

Paula Lourenço


Com os dados, Eduarda Cesse verificou a tendência de mortalidade que as doenças crônicas não transmissíveis têm assumido ao longo do tempo, apesar da dificuldade encontrada para executar o trabalho, pois o monitoramento dessas enfermidades não possui a mesma facilidade que o das doenças infecciosas e parasitárias. Ela destacou que, na América Latina e no Brasil, a inversão epidemiológica de doenças infecciosas e parasitárias para crônicas ocorreu, de uma forma geral, a partir da segunda metade do século 20. “Até a metade da década de 1960, as doenças infecciosas eram as que mais matavam. Nos países europeus e norte-americanos, esse padrão foi do início do século passado”, lembra.


 O envelhecimento da população fez aumentar os casos de diabetes (Foto: Rogério Reis)

O envelhecimento da população fez aumentar os casos de diabetes (Foto: Rogério Reis)


Uma estatística das estatísticas que comprovam essa inversão é que, na década de 1930, mais de 45% dos óbitos no Brasil eram de doenças infecciosas e parasitárias. Na década de 1980, essa participação caiu para em torno de 11%. Nos anos 1930, as doenças do aparelho circulatório representavam aproximadamente 11% dos óbitos no país. Já nos anos 1980, esse percentual subiu para mais de 30%.


No entanto, percebe-se que, embora, de 1950 a 1980, a mortalidade por doenças do aparelho circulatório tenha, proporcionalmente, aumentado, o risco de morte nas capitais brasileiras, de 1980 até 2000, medido pela Razão de Mortalidade Padronizada (RMP) tem diminuído. “É uma tendência mundial, devido à melhoria do diagnóstico, das intervenções mais rápidas, tornando a doença mais crônica e menos letal”, esclarece Eduarda.


Quanto às neoplasias malignas, observa-se que tanto a mortalidade proporcional quanto o risco de óbito têm aumentado no período da análise nas capitais do país por causa do aumento da longevidade da população e de múltiplos fatores, como a globalização e a mudança nos hábitos de consumo.


No caso do diabetes, que aparece hoje como uma epidemia mundial, devido à obesidade e também por influencia do aumento da longevidade populacional, observa-se o aumento proporcional dos óbitos, bem como uma tendência de risco de óbito crescente. Em capitais, como Recife, a RMP passou de 0,21 para 1,43 no período de 1950 a 2000.


Apesar da transformação epidemiológica observada, o país ainda convive com as doenças infecciosas e parasitárias, que significam um grande prejuízo econômico e social, haja vista a epidemia de dengue e de cólera, sem contar com as causas externas, particularmente os homicídios.

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