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13/10/2009

João Carlos Pinto Dias recebe título de pesquisador-emérito da Fiocruz

Edson Junior


O reconhecimento por mais de meio século de atividades dedicadas ao combate e ao conhecimento da doença de Chagas conferiu ao médico e pesquisador do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/ Fiocruz Minas), João Carlos Pinto Dias, de 71 anos, o diploma de pesquisador-emérito da Fundação Oswaldo Cruz. A concessão do título foi aprovada por unanimidade pelos conselhos deliberativos do CPqRR e da Fiocruz. Pinto Dias é especializado em doenças infecciosas e parasitárias, com mestrado e doutorado em medicina tropical, dirige o Posto Avançado de Estudos Emmanuel Dias (Paeed), ligado ao CPqRR, e é protagonista das primeiras campanhas para erradicar a doença de Chagas.


 

 Dias: mais de meio século de atividades dedicadas ao combate e ao conhecimento da doença de Chagas

Dias: mais de meio século de atividades dedicadas ao combate e ao conhecimento da doença de Chagas


A cerimônia solene ocorreu na Associação Mineira do Ministério Público, em Belo Horizonte. A mesa de honra foi formada pelo diretor do CPqRR, Rodrigo Corrêa de Oliveira; pelos vice-diretores Paulo Filemon Pimenta e Zélia Profeta; pela pesquisadora e especialista em doença de Chagas Liléia Diotaiuti; e pelo homenageado. Familiares, pesquisadores, estudantes e colaboradores do René Rachou, membros da Academia Mineira de Medicina, entre outros convidados, lotaram o auditório.


Uma vídeoentrevista foi exibida, na qual Dias fala sobre a sua vida, sobre ser herdeiro e descendente de Emmanuel Dias (1908-1962) e Ezequiel Dias (1880-1927), de como ingressou na medicina e, mais tarde, nos estudos da doença de Chagas. Em Bambuí, deu continuidade aos trabalhos do pai, onde, atualmente, a infestação pelo barbeiro é zero.


Liléia Diotaiuti, oradora da cerimônia, discorreu sobre a vida e a obra de Dias. Ela falou das várias criações e inovações do médico; contou, por exemplo, que Dias, junto ao professor Chris Schofield, foi o idealizador da proposta de eliminação do Triatoma infestans dos países do Cone Sul, posteriormente assumida e implementada pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas), em 1991. Além disso, Dias criou na década de 80, antes da existência do Hemominas, um programa estadual de cadastramento de doadores de sangue em Minas Gerais, inclusive com renovação semestral de "carteirinha do doador". Por meio do programa, exames para diferentes doenças eram realizados. É também de autoria de João Carlos, ainda na década de 80, um laboratório estadual para o diagnóstico de doenças transmitidas pelo sangue (Chagas inclusive e principalmente) na Fundação Ezequiel Dias (Funed), que se transformaria em referência nacional.


“Ele também criou o primeiro sistema de controle da doença de Chagas com participação da comunidade e teve papel fundamental para que o controle dos vetores fosse considerado prioridade no final da década de 70, principalmente pelos seus resultados de pesquisa epidemiológica, que também revelavam a importância social da doença”, ressaltou Diotaiuti.


O cientista chefiou o Laboratório de Triatomíneos e Epidemiologia da Doença de Chagas (Latec/CPqRR) de 1978 a 1985, e nele implementou a missão de desenvolvimento de uma pesquisa social e politicamente comprometida e engajada na concretização do que no futuro seria o Sistema Único de Saúde (SUS).


De acordo com Liléia, que chefia o Latec desde 1995, “quanto mais o tempo passa, mais ativo e produtivo se torna o João Carlos”. Dias, que apesar de estar aposentado, chega cedo todos os dias no laboratório, leciona, orienta trabalhos de diversos níveis e coordena o Comitê de Ética da instituição.


João Carlos Pinto Dias recebeu o diploma de pesquisador-emérito do diretor Rodrigo Corrêa de Oliveira. Em seu discurso, brincou com o significado de emérito, dizendo que o antônimo do termo não o descreve. “Pelo menos canalha eu não sou”, riu. Visivelmente emocionado, disse ser muito grato a todos e que dedicou a sua vida à saúde e ao trabalho. “Creio inabalavelmente na vida e na plenitude dos grandes momentos. Eu me sinto privilegiado e contente”, disse. “Divido esse momento com todos os meus amigos e amados familiares, com todos os colegas da Fiocruz, da Academia Mineira de Medicina e alunos. Com muita ternura, também dedico este momento aos meus pacientes chagásicos. Sou feliz”. Terminado o discurso, foi aplaudido de pé.


Dias já produziu centenas de trabalhos científicos e foi diversas vezes condecorado com prêmios e títulos, como a Medalha da Ordem do Mérito Médico e Científico Carlos Chagas, concedida pelo Ministério da Saúde, e a Ordem Nacional do Mérito Científico, concedida pela Presidência da República. Ele é um dos maiores especialistas em doença de Chagas em atividade.


Publicado em 9/10/2009.

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