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17/05/2012

Jovens pesquisadores são provocados a fazer ciência na 17° Semana do Provoc

Viviane Tavares


Considerada uma das doenças mais antigas da história, a hanseníase é ainda uma fonte de pesquisa para a medicina atual. Depois de tantas descobertas, muito ainda deve ser desenvolvido. Raquel Constantino de Almeida, aluna do Pedro II de Realengo, aos 20 anos, se interessou pelo tema e pôde dedicar horas de pesquisa e aprendizado sobre o assunto. Esta dedicação ajudou a jovem a decidir sua profissão que será o curso de enfermagem na UFRJ. O caso de Raquel é o mesmo que o de Rhayssa, Flávio, Nelson, Rafaela e tantos outros estudantes que participam ou participaram do Programa de Vocação Científica (Provoc) e que tiveram seus trabalhos apresentados na XVII Semana do Programa, realizada entre os dias 7 e 25 de maio.


 Na programação deste ano foram apresentados cerca de dez trabalhos orais e mais de 30 apresentações em forma de pôster. 

Na programação deste ano foram apresentados cerca de dez trabalhos orais e mais de 30 apresentações em forma de pôster. 


A aluna do Pedro II fez a pesquisa baseada na avaliação dos encaminhamentos provenientes de serviços particulares de saúde para o ambulatório Souza Araújo. Raquel recebeu apoio técnico do pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) José Augusto da Costa Nery, além de todo suporte oferecido pelos trabalhadores do ambulatório, que foi seu objeto de pesquisa.  "Fui muito bem recebida e orientada. Sempre tive certeza de que queria ser uma profissional da área de saúde, mas a decisão de cursar enfermagem veio do exemplo encontrado em profissionais que convivi durante minha pesquisa", diz a futura universitária.


De acordo com a coordenadora do Provoc e professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Pública Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Cristina Araripe, o grande ganho que o programa pode oferecer é a experiência adquirida e o contato com projetos científicos antes mesmo de entrar para a universidade. "A formação inicial de novos pesquisadores contribui para se preparem para a escolha profissional, ajudam a construir e fortalecer a visão crítica do mundo. Percebemos de maneira bem clara que esta é uma oportunidade de aprender ciências fazendo ciências", afirma Cristina.


Na programação deste ano foram apresentados cerca de dez trabalhos orais e mais de 30 em forma de pôster de estudantes do Colégio Pedro II, Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro, Colégio Compositor Luiz Carlos da Vila/Rede de Desenvolvimento da Maré - Redes, Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira - CAP Uerj, Colégio Amaro Cavalcanti/ Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré e Colégio Visconde de Cairú . Entre os trabalhos estavam temas como ‘Cooperação internacional em saúde: das políticas governamentais às políticas laboratoriais', ‘Caracterização dos sorovares de Salmonella spp. circulantes em nosso meio e sua relevância na disseminação da resistência antimicrobiana na cadeia alimentar', ‘Monitoramento Físico-químico de Águas Superficiais do Parque Estadual da Pedra Branca no município do Rio de Janeiro, entre muitos outros.


Variedade nos temas


Biomédica, Saúde Pública, História, Filosofia da Ciência são algumas das áreas abordadas nesta XVII Semana do Provoc. A variedade do tema do programa promove um leque nas pesquisas e ainda ajuda aos alunos a conhecerem diversos campos de atuação antes de decidirem o caminho profissional que querem seguir.


Exemplo disso é a estudante Rhayssa dos Santos Aarão da Silva, também do Colégio Pedro II de Realengo, que dedicou seus esforços à história, uma de suas paixões. Com o título Sangrar e partenejar no Rio de Janeiro dos oitocentos, a futura advogada trouxe um histórico das parteiras e barbeiros com uma pesquisa que reuniu uma bibliografia extensa e diversificada. "Minha mãe nasceu das mãos de uma parteira e essa cultura sempre foi forte em minha casa. Poder estudar este assunto foi um resgate histórico-cultural da minha família e da minha cidade. Dedicava horas e horas no Arquivo Nacional lendo livros, documentos e almanaques da época", conta Rayssa.  


Práticas espirituais e religiosas também foi o tema do trabalho da estudante Adrielle Macedo Fernandes da Silva que buscou grande parte de sua bibliografia em pesquisas relacionadas à sociologia, filosofia, antropologia e religião. "O tema para mim foi instigante e me fez refletir no comportamento de nossa sociedade. Vivemos em um mundo tão diverso, com crenças diferentes e milenares que podem ser estudadas e relacionados com as práticas da medicina tradicional", relata a estudante que apresentou o trabalho "Práticas Terapêuticas Alternativas: a busca pela cura".


Já Flávio Henrique Sanches do Amaral Ribeiro, que desenvolveu o trabalho ‘Obtenção e comparação de extratos de Eugenia por diferentes técnicas extrativas', hoje segue para a área tecnológica e pretende se formar em engenharia química. "Minha experiência no ensino médio não seria a mesma se não tivesse passado pelo programa. Depois de tantas dificuldades como transporte, alimentação, distância e a dedicação que muitas vezes absorve grande carga de energia, vejo que vale a pena e que saímos daqui muito mais maduros e dotados de ensinamentos que servirão para toda a vida", opina.


O caráter pedagógico do programa


O Provoc tem como objetivo proporcionar aos alunos do ensino médio uma proximidade com os métodos e técnicas de pesquisa importantes para a formação científica e tecnológica, além de desenvolver um pensamento crítico. Mas a experiência vai além porque, por meio dele, o aluno passa a ter um direcionamento profissional e até mesmo os professores-orientadores também aprendem com cada experiência nova originada por estes alunos.


A co-orientadora de um dos trabalhos e pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Nadia Cristina Duppre ficou surpresa com a qualidade dos trabalhos apresentados na Semana. "Os temas são sempre relevantes e é muito emocionante ver a evolução dos alunos. Foi uma honra poder participar", elogiou.


Marcela Pronko,  vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV, ressalta ainda que o caráter pedagógico transcende a sala de aula. "Os profissionais, professores-pesquisadores, que orientam os trabalhos, e as instituições que os acolhem, também aprendem, na interface entre o fazer ciência, o ensinar ciência e o ensinar a fazer ciência".


Provoc


Criado em 1986 pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz , o  Programa de Vocação Científica (Provoc) incentiva e apoia estudantes a desenvolver pesquisas em saúde nas áreas Biomédica, Saúde Pública, História e Filosofia da Ciência. O programa compreende duas etapas: a Etapa da Iniciação, com duração de um ano, na qual os alunos participam de diferentes atividades de pesquisa científica, familiarizando-se com a dinâmica atual da produção de conhecimentos científicos e tecnológicos nas diversas áreas; e a Etapa do Avançado, com duração de 20 meses, que é opcional para os alunos provindos da etapa anterior e que envolve a elaboração de um plano de trabalho em que as questões identificadas na primeira etapa são aprofundadas e discutidas.

 

Nestes 26 anos de existência, o Provoc já formou 2000 estudantes de diversas instituições públicas de ensino que firmaram convênio, acordos de cooperação técnica ou termos de compromisso com a EPSJV/Fiocruz. Em 2011, a EPSJV/Fiocruz também fechou parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), podendo assim conceder bolsas aos alunos que passarem por processo seletivo, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (Pibic-EM).


No dia 15 de maio, o Provoc lançou o edital para o processo seletivo das etapas Iniciação e Avançado do Programa. Veja mais detalhes dos critérios e cronograma no edital .



Publicada em 17/05/2012.

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