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12/12/2008

Lançamento da Editora Fiocruz esmiúça as relações entre território e saúde

Fernanda Marques


Recém-lançado pela Editora Fiocruz, o livro Território, ambiente e saúde é resultado da reflexão de 20 autores das mais variadas áreas do conhecimento, como medicina, geografia, arquitetura, economia, farmácia, engenharia, estatística e história. Com essa pluralidade de olhares, o livro mostra o território não apenas como um cenário passivo onde a vida acontece, mas como um conjunto de condições que interferem no desenvolvimento humano, promovendo ou colocando em risco a saúde das pessoas.



 “Os territórios são palcos de conflitos entre grupos que se apropriam de benefícios e outros que arcam com danos à saúde e ao ambiente. Desse modo, a primeira tarefa dos estudos sobre as relações entre ambiente e saúde é reconhecer esses grupos e suas formas de resistência e apropriação do território, que podem ser mobilizadas para garantir condições de vida e saúde das populações afetadas”, dizem os organizadores do livro, Ary Carvalho de Miranda, Christovam Barcellos, Josino Costa Moreira e Maurício Monken, os quatro da Fiocruz. Entre os autores, somam-se aos pesquisadores da Fiocruz profissionais de outras instituições brasileiras e também do Equador, da Espanha e de Cuba.


Assim, ao longo de 272 páginas e com foco no território, o livro analisa a relação entre saúde e ambiente desde uma abordagem local até uma escala planetária. A obra tem 14 capítulos divididos em três partes. A primeira apresenta conceitos para a compreensão dos problemas ambientais e inclui, por exemplo, um capítulo que discute a quarentena e o isolamento como medidas de proteção contra a introdução de doenças transmissíveis. “Epidemias trazem à tona o que existe de pior nas pessoas, daí que é impossível analisar medidas de proteção do território sem levar em conta a sua vertente psicológica”, provoca o autor desse capítulo, o médico Luiz Jacintho da Silva, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


Em seu texto, Silva lembra que a lista de doenças emergentes com potencial pandêmico é grande e cresce com o tempo, citando o caso da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag). “A Srag, diferente das febres de Lassa e ebola, não se restringiu aos confins do planeta, tampouco pode ser considerada ‘exótica doença tropical’. É uma doença infecciosa essencialmente urbana que afetou seriamente a vida de duas metrópoles mundiais, Hong Kong e Toronto, que se viram padecendo das conseqüências de uma epidemia”, diz o médico.


Silva lembra, ainda, que a defesa sanitária não se restringe às doenças humanas, mas também às de plantas e animais, como a doença da vaca louca. Esta acarretou um prejuízo acumulado de US$ 5,6 bilhões para os países onde ela foi detectada e notificada. O médico, então, resume a polêmica: “Pode parecer um paradoxo o ressurgimento de medidas restritivas visando à defesa sanitária do território num mundo cada vez mais globalizado, porém não deixa de ser uma reação à vulnerabilidade do território determinada pela globalização”.


Já a segunda parte do livro traz, em diferentes ângulos, os conflitos ambientais e suas implicações sobre a saúde. São analisadas questões como a sustentabilidade; a justiça ambiental; a necessidade de democratização da terra; o comércio; a comparação entre países europeus e em desenvolvimento; os conflitos no momento de extração dos materiais e de produção da energia; os conflitos relacionados ao descarte de rejeitos e à poluição; as relações entre a política econômica e a economia ecológica; a ciência diante dos riscos incertos e complexos; o poder da ciência; os paradigmas científicos hegemônicos; a transnacionalização, as novas condições ecológicas e a saúde.


Os textos são apoiados em tabelas, esquemas, gráficos e mapas. No capítulo assinado pelo engenheiro de produção e pós-doutor em medicina social Marcelo Firpo de Souza Porto, pesquisa da Fiocruz, um quadro apresenta as etapas do desenvolvimento tecnológico e os exemplos de riscos associados: desde o século 19, com os acidentes envolvendo máquinas a vapor, até os nossos dias, com as incertezas e questões éticas sobre o uso de tecnologias genéticas na medicina e na agricultura.


Os desafios metodológicos para a produção de conhecimento sobre as relações entre ambiente e saúde são o tema da terceira parte do livro. “A intensa urbanização, os novos riscos tecnológicos, a pobreza, a perda de biodiversidade, as desigualdades sociais, o empobrecimento dos solos e a contaminação ambiental estão definitivamente interligados e fazem parte da causalidade dos problemas socioambientais, que precisam ser enfrentados em sua totalidade”, diz o capítulo assinado pela médica Lia Giraldo da Silva Augusto, pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, pela estatística Maria da Graça Farias Brasil, professora da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte (CE), e pelo médico Guilherme Franco Netto, assessor da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. “Embora haja um amplo reconhecimento de que esses problemas são decorrentes de processos complexos, na prática ainda predominam a produção de conhecimento e as intervenções fragmentadas que, em geral, são descontextualizadas e dirigidas para os aspectos agudos”.


A terceira parte inclui, também, as abordagens participativas para a vigilância ambiental em saúde, as divisões territoriais do Sistema Único de Saúde (SUS) e as doenças transmissíveis na faixa de fronteira amazônica, entre outros assuntos. Assim, na soma de seus 20 autores, três partes, 14 capítulos e 272 páginas, o livro Território, ambiente e saúde cumpre seu papel de contribuir para o diagnóstico de situações ambientais com repercussão sobre a saúde e para o planejamento de ações de saúde.


Publicado em 12/12/2008.

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