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16/10/2006

Leishmaniose em Pernambuco pode ter um outro vetor

Paula Lourenço


O Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, iniciará um estudo para comprovar se outra espécie de mosquito-palha, que não o clássico Lutzomyia longipalpis, está transmitindo o parasito causador da leishmaniose visceral, conhecida com calazar, na região de transição entre a Zona da Mata e o Agreste de Pernambuco. Trata-se da Lutzomyia migonei, encontrada em abundância no município de São Vicente Férrer, onde o grupo de pesquisa liderado pelo pesquisador Sinval Pinto Brandão Filho faz estudos de campo. A suspeita existe porque, naquela cidade, foram identificados casos da doença, embora os pesquisadores não tenham encontrado o tradicional vetor da Leishmania chagasi no estado e no Nordeste. A leishmaniose visceral é a forma mais severa da doença, podendo levar pacientes a óbito. No Brasil, cerca de três mil casos da enfermidade são registrados anualmente.


O L. migonei tem apenas cerca de três milímetros e mostra predileção por seres humanos e pelos cães, ou seja, é um inseto antropofílico e também cinofílico. Ele também é suspeito de transmitir a leishmaniose no Ceará, mas não há comprovação científica, conforme esclareceu Brandão Filho, chefe do Serviço de Referência em Leishmaniose do CPqAM. “Vamos iniciar, em novembro, o projeto que tentará comprovar a transmissão. Esse estudo também fará parte da tese de doutorado da aluna Maria Rosimery de Carvalho. Já em outubro faremos novas capturas dos mosquitos em São Vicente, para estabelecer uma colônia de flebotomíneos no nosso insetário para que, daí, possamos fazer, mais adiante, os ensaios em laboratório”, detalhou Brandão Filho. O projeto foi aprovado na primeira fase do edital para doenças negligenciadas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


O pesquisador explicou que o estabelecimento de uma colônia da espécie é muito difícil. “Precisamos colher os mosquitos, cuja mortalidade é grande; esperar que eles se reproduzam, o que causa muita perda – isso ocorre em ambiente terrestre e não em água, como o Aedes aegypti (transmissor do vírus da dengue) ou o Culex quinquefasciatus (transmissor da filariose) - e, com esses novos exemplares, fazer os ensaios, haja vista que precisamos ter a certeza que eles não estão previamente infectados”, esclareceu.


Os ensaios laboratorias consistem em alimentar os insetos em hospedeiros como roedores (Nectomys squamipes ou rato d’água e o preá, cientificamente chamado por Galea spixii), marsupiais (Didelphis albiventris, o timbu ou gambá) e cães sabidamente infectados pelo parasito causador da leishmaniose visceral. “Depois que os mosquitos se alimentarem, dissecaremos as fêmeas para ver quantas se infectaram. Para fechar o ciclo, tentaremos demonstrar se os flebotomíneos infectados desta espécie são capazes de transmitir a doença para um outro hospedeiro (roedor ou cão) sadio”, complementou o pesquisador.


Para diagnosticar a infecção no hospedeiro, os cientistas farão testes sofisticados, como o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase – Polimerase Chain Reaction), que detecta o DNA do parasito, e o k-39, exame que detecta o anticorpo espécie-específico para o parasito Leishamania chagasi. Em um outro trabalho desenvolvido pela equipe do chefe do Serviço de Referência em Leishmaniose, no município de Amaraji, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, verificou-se que os hospedeiros comumente infectados por Leishmania braziliensis eram o rato do mato (Bolomys lasiurus),  o rato d’água (Nectomys squamipes) e o rato preto (Rattus-rattus).

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