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12/03/2007

Livro analisa as difíceis decisões sobre vida e morte em um CTI

Fernanda Marques


“Atenção, leitor! Este é um trabalho sobre os limites da vida e sobre os limites da esperança humana. É grave, portanto”, adverte o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte, do Museu Nacional da UFRJ, no prefácio do livro Difíceis decisões: etnografia de um centro de tratamento intensivo. Recém-lançada pela Editora Fiocruz, a obra foi escrita por Rachel Aisengart Menezes, uma médica com aguçado olhar antropológico.



A autora investigou o complexo processo de tomada de decisões sobre a vida e a morte. A idéia de fazer a pesquisa nasceu de sua experiência no atendimento a soropositivos. Alguns membros de sua equipe se afastavam do paciente quando a doença se agravava – reação que motivou Rachel a estudar o comportamento de profissionais de saúde diante da iminência da morte. Por receber doentes em situação crítica ou limite, o CTI foi o local escolhido para a investigação.


O CTI representa um sofrimento não só para o paciente e sua família, mas também para os profissionais de saúde. Tudo está tranqüilo e, de repente, algo acontece, exigindo respostas imediatas dos médicos que trabalham no CTI, os intensivistas, que ocuparam lugar central na pesquisa. Eles têm que decidir em qual doente vale mais a pena investir, caso haja somente um leito disponível. Outras questões cruciais envolvem tentar mais uma vez ou não reanimar o paciente e manter ou retirar o soro. Essas decisões, nas quais pesam valores morais e culturais, transformam o CTI em uma espécie de panela de pressão.


Os intensivistas oscilam do poder heróico, quando salvam a vida de alguém, à fragilidade – afinal, podem salvar a vida de alguns, mas não de todos. O desgaste físico e emocional se faz presente na rotina desses profissionais. “O intensivista tem consciência de que, por trás de todo o aparato tecnológico, há um conjunto de difíceis decisões éticas a serem processadas. Qualquer deslize, desatenção ou até mesmo um erro de julgamento pode significar a perda de uma vida”, diz o livro, que integra a coleção Antropologia e Saúde.


Conhecimento e perícia técnica, bem como formas de gestão dos sentimentos, são ingredientes do trabalho no CTI. Neste lugar recluso e solitário, que concentra recursos tecnológicos dos mais modernos e equipe altamente especializada, onde tudo é minuciosamente vigiado e controlado, Rachel observou e analisou a posição dos médicos entre a competência e o cuidado, entre o saber e o sentir.

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