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05/08/2008

Livro analisa jornal que foi o primeiro a publicar artigos densos sobre ciências

Catarina Chagas


O advento da imprensa no Brasil e a publicação, pela Imprensa Régia, do jornal O Patriota, que circulou no Rio de Janeiro no início do século 19, são tema de novo livro da coleção História & Saúde, publicada pela Editora Fiocruz. Sob organização da historiadora Lorelai Kury, Iluminismo e império no Brasil: O Patriota (1813 e 1814) apresenta uma análise aprofundada dos 18 números publicados do periódico, relacionando-os com os acontecimentos da época no Brasil e no mundo, como o movimento iluminista e os regimes monarquistas.



A investigação começa pelo título do periódico: por que a escolha de O Patriota? No primeiro artigo do livro, o historiador Marco Morel, pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), avalia como o contexto do surgimento do jornal influenciou a formação de uma identidade editorial. Nesse sentido, o autor aborda o conceito de ‘pátria’ e seus derivados, a utilização dessas palavras em O Patriota, os sujeitos envolvidos na produção e circulação do periódico e as referências às crises e disputas o âmbito do Império português.


Segundo a também historiadora da Uerj Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira, o periódico foi uma tentativa de implantar no Brasil o jornalismo cultural, já então freqüente na Europa, e guardava mais semelhanças com os folhetos e panfletos do que com os modelos gráficos e os formatos de jornais de hoje. A autora mostra ainda que havia uma preocupação constante por parte dos redatores de ter um conteúdo equilibrado entre o conhecimento científico e as Luzes, a literatura e a política. Também eram freqüentes os perfis de figuras ilustres na vida pública, civil, militar ou religiosa e artigos sobre a história do Rio de Janeiro.


Nesse contexto, a história era vista pela equipe do jornal como poderosa arma para o exercício da política. Sobre isso discorre o capítulo do historiador Manoel Luiz Salgado Guimarães, pesquisador da Uerj e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressaltando que, uma vez que precisava ser aprovado pelo governo para circular pela Imprensa Régia, O Patriota escrevia a história contada pelos governantes que, com ela, pretendiam afirmar seu poder e sua glória.


Já Sérgio Alcides, poeta e historiador da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), escreve sobre as poesias e outras alegorias patrióticas, como montagens e figuras, publicadas no periódico. Por fim, Lorelai Kury fecha a coletânea com um artigo sobre os traços mais marcantes do iluminismo nas páginas de O Patriota, sobretudo em relação à seleção de temas científicos para os artigos e o didatismo assumido em cada texto.


Além dos capítulos repletos de informações instigantes e referências bibliográficas que complementam a leitura, o livro traz coletânea de imagens relacionadas ao conteúdo e aos autores de O Patriota e CD-rom com todas as edições do jornal digitalizadas, o que possibilita o acesso do leitor ao material usado pelos pesquisadores. A obra, assim, assume o importante papel de aprofundar o estudo e a divulgação daquele que foi o primeiro jornal brasileiro a publicar artigos densos e analíticos sobre ciências e artes, cultura e letras.


Publicado em 04/08/2008.

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