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29/02/2008

Livro analisa o 'relógio das doenças' e mostra a importância do sono

Fernanda Marques


As crises de asma são mais comuns por volta das 4h da madrugada. A rinite e a artrite reumática predominam em torno das 6h e, a partir deste horário, a pressão arterial tende a aumentar. Às 18h, é quando a osteoartrite costuma se manifestar. À primeira vista, é difícil acreditar que exista um "relógio" das doenças. Mas é verdade: uma série de doenças apresenta horário preferencial de manifestação. E não se trata de um fenômeno aleatório nem mágico – há explicações científicas. É o que procura demonstrar o livro Medicina da noite: da cronobiologia à prática clínica, lançamento da Editora Fiocruz.


 Dada a importância do sono, os efeitos do não-dormir requerem atenção médica

Dada a importância do sono, os efeitos do não-dormir requerem atenção médica


Organizado pelo médico José Manoel Jansen, professor de pneumologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e colaboradores, o livro traz o estado da arte da cronobiologia e, sobretudo, sua interface com os saberes e as práticas médicas. A cronobiologia é uma ciência que abrange todos os seres vivos e estuda os fenômenos biológicos em função do tempo, especialmente aqueles que apresentam caráter cíclico. “A principal relação dos fenômenos biológicos com o tempo é feita com base na oscilação dia-noite, e esta participa dos mecanismos da vida, construindo os ritmos circadianos”, explicam os autores, segundo os quais a medicina da noite é filha da cronobiologia. “Entender que o organismo humano modifica-se à noite e que certas doenças expressam-se mais ou preferentemente nesse período é um ganho do médico no trato com seus pacientes”.



Se, ao longo das 340 páginas do livro, a noite é assunto central, a questão do sono não poderia passar despercebida. Considerado um fenômeno vital – “tão necessário à manutenção da existência quanto o ato da alimentação” –, ele possibilita a recuperação das atividades física, intelectual e psíquica. Dada a importância do sono, os efeitos do não-dormir, sem dúvida, requerem atenção médica, assim como os turnos de trabalho alternantes. “O simples trabalho noturno estável já se constitui um problema cronobiológico que motiva reparação; os turnos alternantes malbaratam qualquer tentativa de manutenção da ordem temporal interna e são de extrema gravidade, podendo, inclusive, diminuir a expectativa de vida”, alertam os autores.



Astrônomo relatou os movimentos da Mimosa pudica


Um astrônomo francês foi o responsável pelo primeiro relato científico de um fenômeno temporal-cíclico observado em um ser vivo. Em 1729, ele comunicou à Academia Real de Ciências de Paris que a planta Mimosa pudica, mesmo em um vaso no porão, na ausência total de luz, abria e fechava as folhas em movimentos que guardavam relação com o dia e a noite. Na primeira metade do século 19, também na França, uma tese de doutorado abordou variações circadianas da temperatura em pessoas sãs e doentes.



Contudo, a cronobiologia só se impôs como conceito definitivo a partir de meados do século 20. “Mesmo assim, ainda há necessidade de maior aceitação e, principalmente, de aplicação dos conceitos teóricos, especialmente na medicina”, dizem os autores. E possibilidades de aplicação não faltam: o livro aborda a cronobiologia no âmbito de diferentes especialidades médicas, como a endocrinologia, a neurologia, a psiquiatria, a pneumologia, a cardiologia, a gastroenterologia, a nefrologia, a reumatologia e a ginecologia.



Outra aplicação é a cronofarmacologia, que estuda as variações de absorção e outros parâmetros da farmacocinética de múltiplos medicamentos em relação ao tempo. De acordo com os autores, corticosteróides, insulina e quimioterápicos são exemplos de medicamentos que devem ser administrados sob orientações cronofarmacológicas. “O reconhecimento de que a hora do dia altera as propriedades farmacocinéticas permite modificar os esquemas terapêuticos para melhor efetividade e menor toxicidade. Muitas drogas já foram estudadas, mas este é um terreno amplo, quase virgem e aberto à pesquisa”, afirmam.


Serviço


Medicina da noite: da cronobiologia à prática clínica

Preço: R$ 74; 340 páginas

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