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31/01/2011

Livro aponta necessidade de reverter o processo de medicalização do parto

Renata Moehlecke


Apesar de pesquisas de opinião registrarem a preferência da maior parte das mulheres brasileiras pelo parto normal, continua crescendo o número de cesáreas realizadas no país. Humanização do parto – política pública, comportamento organizacional e ethos profissional aborda justamente essa questão: trata-se de uma investigação sistemática sobre como disputas em torno do modelo de assistência ao parto tornam-se obstáculos para a implementação de uma política que considere mais o papel da mulher e minimize os impactos negativos de uma hospitalização do processo. Escrito pela bióloga Mônica Bara Maia, o livro acaba de ser publicado pela Editora Fiocruz.



“Em pouco mais de um século, o parto deixou de ser uma experiência da esfera familiar e íntima, compartilhada entre mulheres, para se tornar uma prática dominada pela medicina, institucionalizada nos hospitais e regulada por instituições públicas”, comenta a pesquisadora na apresentação do livro. “O fato é que parir e nascer, definitivamente, não são processos ‘naturais’ nem meramente fisiológicos. São eventos sociais e culturais complexos, que envolvem interações entre indivíduos, grupos sociais e organizações (hospitais e maternidades), com poderes e legitimidades diferenciados”.


Para a análise, Mônica utiliza como base o caso da rede hospitalar de Belo Horizonte – pública, filantrópica, privada contratada e privada não contratada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A autora verifica em que medida as políticas nacionais de humanização do parto se operacionalizaram na área, como se portaram profissionais obstretas (médicos e enfermeiras) e quais foram as dificuldades institucionais enfrentadas para colocar em prática essas políticas.


“Baseado em pesquisa detalhada, o livro revela os constrangimentos que se interpõem na implementação de políticas de humanização do parto e a forma como profissionais da saúde e instituições hospitalares, em suas especificidades, têm reagido, assimilando ou resistindo, às normas governamentais”, afirma Gilberto Hochman, pesquisador da Fiocruz, na contracapa da obra. “Sua leitura é esclarecedora e fornece importantes indicadores para todos aqueles empenhados na efetiva humanização do parto no Brasil”.


O livro, divido em quatro capítulos, teve origem na dissertação de mestrado da autora. “A reorientação no sentido de romper com o tradicional isolamento imposto à mulher, na hora do parto, bem como de adotar medidas e procedimentos sabidamente benéficos para o acompanhamento do parto e do nascimento, evitando práticas intervencionistas desnecessárias, está norteada, também, por uma proposta de assistência à saúde baseada em evidências científicas, que traz importantes subsídios nas tentativas de diminuir as margens de incerteza das decisões clínicas, bem como de demarcar parâmetros para estabelecer a má prática clínica”, complementa a pesquisadora.


Publicado em 28/1/2011.

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