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30/05/2008

Livro apresenta a história da paleoparasitologia

Catarina Chagas


Quando o assunto é estudar o passado, vêm logo à cabeça as imagens de arqueólogos promovendo escavações em que descobrem artefatos usados por populações antigas, ossadas de animais pré-históricos e resquícios de casas, templos e outras construções. Porém, nem todo mundo sabe que, em meio a esses materiais, encontram-se também fezes fossilizadas, tecidos mumificados e até piolhos que ajudam os pesquisadores a investigar as doenças que atingiam nossos ancestrais. Este é o tema do livro Paleoparasitologia, recém-lançado pela coleção Temas em Saúde, da Editora Fiocruz.



Segundo ele, os coprólitos – fezes conservadas por dessecamento, resfriamento ou outros processos – são o melhor meio de estudar os parasitos intestinais que acometiam os povos do passado. Por meio da análise desses materiais, os pesquisadores já traçaram a história das infecções por Trichuris trichiura, Enterobius vermicularis, Ascaris lumbricoides, Trypanosoma cruzi e outros agentes patológicos que até hoje constituem preocupação para a saúde humana e dos animais.


Além disso, os restos alimentares encontrados nas fezes permitem conhecer melhor a fauna e a flora remotas, assim como os hábitos alimentares dos povos primitivos e os períodos de abundância e escassez de comida. Mas não é só. Com o estudo de coprólitos, especialistas puderam ainda propor teorias alternativas sobre a chegada do homem às Américas. Se, tradicionalmente, acredita-se que os grupos migratórios chegaram por terra, passando pelo Estreito de Bhering, o estudo dos parasitos sugere que a migração ocorreu pelo Oceano Pacífico, como num prenúncio das grandes navegações.


Em linguagem fácil e envolvente, os autores – Luiz Fernando Ferreira e Adauto Araújo, da Fiocruz, e Karl Jan Reinhard, da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos – contam a história da paleoparasitologia com o carinho de quem fala aos amigos sobre um trabalho por que se está apaixonado. O livro está repleto de casos engraçados e curiosos, como o pesquisador que decidiu comer uma planta com espinhos para confirmar a suspeita de que ela fazia parte da alimentação dos povos primitivos.


Paleoparasitologia homenageia os personagens que contribuíram para o avanço desta área da ciência no Brasil e no mundo. O testemunho ganha cor com a participação de pesquisadores que participaram dessa história desde o início. Na Fiocruz, instituição pioneira no assunto, os estudos em material pré-histórico começaram em 1978, quando um grupo da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) buscava informações sobre a esquistossomose.


O leitor que se interessar pelo tema é presenteado ainda com sugestões de leitura sobre o estudo das doenças do passado e reflexões dos autores sobre o futuro dessa especialidade. Porém, o livro não está voltado apenas a especialistas: certamente a leitura agradará iniciantes e curiosos em geral.


Serviço

Paleoparasitologia: 128 páginas, R$ 15

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