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05/05/2009

Livro apresenta diagnóstico das condições de trabalho do policial militar carioca

Renata Moehlecke


Apresentar um diagnóstico das condições de trabalho, saúde e qualidade de vida de policiais militares da cidade do Rio de Janeiro é a proposta do livro Missão prevenir e proteger, coordenado por Marília Cecília Minayo, Edinilsa de Souza e Patrícia Constantino. Fruto de um estudo realizado por pesquisadores do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), a obra revela o retrato de um trabalhador que, apesar de demonstrar amor à profissão, acumula uma série de insatisfações – envolvendo o salário, as poucas perspectivas de crescimento profissional, a falta de reconhecimento pela população e pela corporação e o volume de tarefas aliadas a péssimas condições de execução.



A pesquisa, feita de 2005 a 2007, avaliou a opinião de 1.120 policiais sobre quatro conceitos centrais: risco e segurança, trabalho, saúde e qualidade de vida. Os resultados apontam um elevado nível de pressão física e estresse emocional: mais de 50% desses profissionais afirmam dormir mal, 48% se sentem nervosos, 35% se queixam de cansaço constante, 14% dizem chorar com frequência e 5% admitem que já pensaram em se matar. Um quarto dos policias se consideram incapazes de desempenhar um papel útil na vida e se submetem a atividades extremamente arriscadas por uma remuneração líquida de cerca de R$ 1 mil.


“O estudo derruba o mito do militar superior ao tempo e às adversidades que o meio ambiente lhe impõe”, afirma o capitão da reserva da Polícia Militar Paulo Storani, que assina o prefácio do livro. Ele explica que há uma distorção da realidade quando se estabelece a missão desses profissionais como meta a ser atingida a qualquer preço, ignorando-se o fato de que se trata de pessoas. “São trabalhadores – pais, mães, filhos e filhas – pagos para executar um serviço como qualquer outro”.


Os questionários e grupos focais utilizados durante a pesquisa mostraram outros dados interessantes. Apenas 38% dos policiais entrevistados acreditam que recebem comandos claros para realizar suas atividades, enquanto 72% admitem ter que burlar ordens para cumprir as tarefas e 71,9% afirmam que, após o ingresso na polícia, em poucas ou nenhuma vez foram ministrados cursos para melhoraria de sua formação. O estudo também apontou que folgas podem não significar descanso para esses trabalhadores. “Dos 4.518 policiais militares mortos e feridos por todas as causas, de 2000 a 2004, 56,1% foram vitimados durante as folgas”, comentam os especialistas. Além disso, aqueles que trabalham em outras atividades nas folgas para auxiliar o sustento da família têm cinco vezes mais chances de sofrer violências, número que cresce entre aqueles que praticam essas atividades esporadicamente.


Outro resultado destacado foi que o grupo analisado atribui sua imagem negativa à maneira como a sociedade lida com sua figura, dando ênfase à corrupção e à truculência, o que os faria adotar uma identidade defensiva e arrogante. “Os policiais militares responsabilizam a população e a mídia pela construção da identidade negativa que os persegue”, esclarecem os pesquisadores. “Embora possamos concluir que em qualquer categoria existem resistências e insatisfações dos trabalhadores, entendemos que as autoridades deveriam levar em conta o que ocorre com os policiais militares e civis, uma vez que sua insatisfação com as condições laborais se reflete em nossa segurança e proteção”, concluem os pesquisadores.


Publicado em 31/3/2009.

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