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07/12/2021

Livro apresenta ensaio sobre as ciências da saúde em tempos de pandemia

Editora Fiocruz


Os muitos desafios e crises que marcam os tempos pandêmicos podem ser narrados por meio de recursos diversos. As figuras de linguagem – incluindo a ironia, a alusão, o paradoxo –, as ambiguidades, o exercício da crítica e até mesmo o humor e o alívio cômico são alguns dos vários recursos presentes em Ensaios fora do tubo: a saúde e seus paradoxos. Escrito por Luis David Castiel, o título estará disponível para aquisição a partir desta quarta-feira (8/12), nos formatos impresso – via Livraria Virtual da Editora Fiocruz – e digital, por meio da plataforma SciELO Livros

O livro é uma coedição Editora Fiocruz e Hucitec Editora. Pesquisador aposentado da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Castiel publica, com uma escrita em forma de ensaio, uma série de reflexões acerca da saúde, cujos contrastes e paradoxos foram amplificados em meio ao contexto da Covid-19.

No texto de quarta capa da obra, Bruno Pereira Stelet destaca que o autor transborda ironia e astúcia ao abordar questões que vêm dominando a nossa realidade recente. "O tempo presente nos coloca a tarefa de quase termos de decifrar os paradoxos que nos irrompem no cotidiano. Neoliberalismo conservador,  negacionismo científico e barbárie política institucionalizada parecem oximoros que ganharam maiores contrastes com a pandemia de Covid-19. No âmbito das ditas ciências da saúde – seja na produção de conhecimento, na abordagem clínica ou na formulação de políticas – tais ambiguidades necessitam de novos pontos de vista capazes de nos auxiliar na compreensão crítica e forjar significado para o que nos acontece", afirma Stelet, médico de família e comunidade na Secretaria de Saúde do Distrito Federal. 

 

Em cinco capítulos, o volume apresenta ao leitor uma série de questões e áreas de conhecimento sobre a saúde, colocando-a em perspectiva. Na orelha da obra, Wedencley Alves Santana, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ressalta que o ensaio proposto por Castiel vem de quem "consegue, mesmo sendo um pesquisador reconhecido e experimentado, estar fora de percepções imanentes a cada um dos domínios de expertise, quais sejam, acadêmicos, clínicos, políticos, econômicos e culturais, e suas implicações para a discussão sobre saúde".    

O primeiro capítulo trata da questão metodológica relativa aos dispositivos estatísticos no campo epidemiológico, que assumiram um papel essencial na atualidade pandêmica. Em seguida, o capítulo dois conta – de forma resumida – a história mitológica de Prometeu, Epimeteu e Pandora, utilizando-a para pensar alusões científicas, técnicas, políticas, sociais e éticas que apresentam especial pertinência aos temas da saúde contemporânea. 

Autor questiona as tecnologias de autovigilância e o discurso do empreendedorismo

Os terceiro e quarto capítulos têm como base as ideias dos pensadores Christian Dardot e Pierre Laval, apresentadas na obra A Nova Razão do Mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal (publicada na França, em 2009, e no Brasil, em 2016). "Esses autores procuram pensar as relações das políticas econômicas com efeitos sociais capazes de prescrever lógicas comportamentais no contexto específico das perspectivas das prescrições do risco em saúde", explica Castiel. 

O capítulo cinco aborda efeitos indesejados das tecnologias digitais que permitem aos indivíduos automonitorarem aspectos diários de suas vidas para que – supostamente – aprendam mais sobre si mesmos. Aplicativos para smartphones, dispositivos de GPS, rastreadores de atividade física, entre outros aparatos, que vigiam a quantidade de exercício físico feito por dia, o número de passos, a comida ingerida, a duração do sono durante a noite, a frequência cardíaca, o humor etc.

De acordo com seguidores do movimento de automonitoramento, esses dispositivos poderiam ajudar as pessoas a tomar medidas para se tornarem mais saudáveis. "Isso ocorreria sobretudo por meio de tecnologias que seguem um manual de preceitos com vistas à longevidade sob a égide do saudabilismo possível baseado na autodisciplina mediada pela subjetividade em relação aos modos de viver", analisa o autor.  

Luis Castiel reflete sobre as precarizações - econômica, social, sanitária, entre outras - e as muitas crises que nos afetam em meio ao que chama de pandemência. Ele cogita também sobre a possibilidade de utilização do termo pandemiologia. Em meio a essas nomenclaturas, o pesquisador e professor reforça o exercício da crítica, com provocações diretas a várias das convenções presentes na área da saúde. 

No prefácio, a médica e educadora Danielle Ribeiro de Moraes lista uma série de indagações que podem nos guiar diante dos muitos questionamentos levantados por Castiel. "Continuamos a questionar com ou por meio do autor: será que cabe política pública baseada somente em evidência científica, decifrável apenas por um seleto rol de cientistas ou doutos, ou será que a saída política deve ser construída de modo compartilhado e, inegavelmente, mais democrático? A que serve a matematização da vida, que passeia desde os enunciados de revistas de ciências sociais até a autoquantificação e o automonitoramento em saúde? O que temos a indagar sobre a relação entre promoção da saúde e o discurso do empreendedorismo? Quais os limites e as reproduções que encerram a ideia de comunicação em saúde? Qual o lugar da produção infindável de paradoxos em que o medo toma ares de resposta global aos problemas sanitários? E mais tantas perguntas que podemos fazer no lugar de naturalizar algumas das ideias-força presentes no campo da saúde coletiva", afirma a profissional do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).  

O autor

O médico Luis David Castiel é mestre em Community Medicine pela Universidade de Londres (Inglaterra) e doutor em Saúde Pública pela Fiocruz. Tem pós-doutorado pelo Departamento de Enfermeria Comunitaria, Salud Publica y Historia de la Ciencia da Universidade de Alicante (Espanha). É pesquisador aposentado do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e professor visitante do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). É autor e coautor de diversos livros pela Editora Fiocruz, incluindo À procura de um mundo melhor: apontamentos sobre o cinismo em saúde (2016) e O lagarto e a rosa no asfalto: odontologia dos desejos e das vaidades (2013).

Livro | Ensaios Fora do Tubo: a saúde e seus paradoxos
Editora Fiocruz | Hucitec Editora
Primeira edição: 2021
281 páginas
Preço de capa (versão impressa): R$ 51
Preço e-book (versão digital): R$ 30,60

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