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17/02/2011

Livro compartilha ideias para enfrentar a violência como problema de saúde pública

Fernanda Marques


Considerar a violência um atributo dos pobres é uma visão preconceituosa. Infligir maus-tratos e abusos às crianças em nome de uma pedagogia educacional é cientificamente errôneo. Naturalizar – ou fazer parecer normal – a violência do adulto contra a criança ou do homem contra a mulher é outro sério engano. Estes são alguns dos alertas contidos na coletânea Impactos da violência na saúde, publicada pela Editora Fiocruz em parceria com a Educação a Distância da Escola Nacional de Saúde Pública (EAD/Ensp/Fiocruz). Originalmente organizado para dar suporte a um curso a distância, o livro extrapola seus objetivos iniciais e compartilha com estudantes, profissionais e gestores ideias e reflexões para reconhecer e enfrentar a violência como grave problema de saúde pública.



Além de abordar a história da incorporação do tema violência na agenda do setor saúde, a obra discute o significado e a importância de uma política para o enfrentamento da violência – que pode ser de natureza física, psicológica e sexual ou associada a abandono, negligências e mesmo abuso financeiro. Ao apresentar uma visão geral do conceito de violência e sua contextualização na realidade brasileira, a coletânea destaca que se trata de um problema, ao mesmo tempo, social e sanitário. As lesões, os traumas físicos e os agravos mentais e emocionais provocados pela violência impõem desafios aos profissionais e serviços de saúde. Desafios inscritos num quadro que vai desde a violência criminal, como o tráfico de drogas, até a estrutural, onde estão a miséria e as desigualdades sociais, passando pela violência dentro das instituições e nas relações interpessoais e intrafamiliares.


De acordo com o livro, o risco de violência dentro das famílias tende a ser maior, por exemplo, quando elas são fechadas em si, sem abertura para o mundo externo, mantendo padrões repetitivos de conduta; quando elas estão em situação de crises e perdas e não têm instrumental para lidar com esses problemas; e quando convivem com uso abusivo de drogas. Ainda segundo a coletânea, os fatores parentais de risco para o uso de drogas pelos filhos incluem ausência de investimento nos vínculos que unem pais e filhos; excessiva permissividade, dificuldades de estabelecer limites às condutas infantis e juvenis, e tendência à superproteção; e educação autoritária associada a pouco zelo e pouca afetividade nas relações entre pais e filhos.


Por outro lado, relações familiares flexíveis, onde o exercício da educação é feito com autoridade e afeto, sem autoritarismo, estão entre os fatores de proteção à violência. Nesse sentido, o livro destaca como a família pode e deve ser alvo de medidas de prevenção à violência. Outros alvos incluem o setor saúde, a escola, a comunidade, o mercado de trabalho, a justiça e a segurança pública, e a mídia. Um dos capítulos, inclusive, ressalta a importância de uma assessoria de imprensa junto à gestão de saúde e o diálogo necessário do gestor com a mídia no enfrentamento da violência.


Organizada pelas pesquisadoras Kathie Njaine, Simone Gonçalves de Assis e Patricia Constantino, do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves/Fiocruz), a coletânea reúne 20 capítulos e 33 autores. De modo didático, o livro descreve cenas e casos de violência que chegam aos serviços de saúde e, em seguida, oferece textos para reflexão e outras sugestões de leitura, de modo que os profissionais de saúde possam se preparar para lidar com situações semelhantes. Dessa forma, são estudados e discutidos temas como crianças e adolescentes em situações de violência, incluindo o fenômeno do bullyng; formas de institucionalização tradicionalmente reconhecidas pelas relações de violência, como os presídios; violência no trabalho; e violência contra pessoas portadoras de deficiência e idosos. Completam a obra um passo a passo para um diagnóstico situacional da violência; uma proposta para a elaboração de um plano local de promoção, prevenção e atenção às situações de violências e acidentes; e exemplos de avaliação de programas e ações nesse campo.


Serviço

Impactos da violência na saúde

Kathie Njaine, Simone Gonçalves de Assis e Patricia Constantino (orgs.)

384 páginas

R$ 60

Editora Fiocruz e EAD/Ensp

Telefones: (21) 3882-9039/9007

E-mail: editora@fiocruz.br

Para saber onde encontrar ou como comprar, acesse o site da Editora Fiocruz


Publicado em 16/2/2011.

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