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01/09/2009

Livro decompõe saberes e práticas da saúde em sua singularidade e subjetividade

Fernanda Marques


Os trabalhos de pesquisa hoje publicados na área da saúde são, majoritariamente, quantitativos. Entretanto, as metodologias qualitativas das ciências sociais podem contribuir – e muito – para a compreensão de aspectos singulares e subjetivos da atenção à saúde e da biomedicina. É o que defende o livro Por uma filosofia empírica da atenção à saúde: olhares sobre o campo biomédico, lançamento da Editora Fiocruz e da Faperj. Organizado por Kenneth Rochel de Camargo Jr. e Maria Inês Nogueira, a obra reúne contribuições de um grupo da pós-graduação em saúde coletiva do Instituto de Medicina Social (IMS) da Uerj.


 


Ao longo de dez capítulos, os autores percorrem questões teóricas e práticas. No primeiro capítulo, Kenneth Rochel de Camargo Jr. leva o leitor a uma reflexão baseada nos science studies e na epistemologia comparativa de Fleck. Já nos capítulos 2 e 3, o leitor encontra estudos sobre a produção e a aplicação do conhecimento no contexto biomédico: um trabalho mostra as relações entre o laboratório e a pesquisa clínica de toxoplasmose, enquanto outro investiga uma unidade de cuidados intensivos pós-operatórios de cardiologia.


“Apesar dos avanços tecnológicos obtidos pela medicina ocidental, a carência de atenção à subjetividade dos indivíduos, o descompromisso com as interferências do social e a negligência com todo o campo não redutível à dimensão do biológico, que envolve os fenômenos do adoecimento e da cura, terminam por conduzir a uma relação médico-paciente distanciada e inoperante e eventualmente até mesmo iatrogência”, critica Maria Inês Nogueira na abertura do capítulo 4. E continua: “A possibilidade de aprendizado com antigos saberes médicos, como a medicina chinesa, como proposta de uma revitalização paradigmática, surge de forma instigante e provocadora, suscitando novas reflexões e debates”. É nesse contexto que a autora apresenta seu trabalho de cunho etnográfico, no qual investigou o processo de ensino-aprendizagem na acupuntura por meio da observação de aulas teóricas e práticas.


A questão do aprendizado também é o foco do capítulo 5, só que, desta vez, a atenção se volta aos residentes de medicina e suas experiências na atenção às complexas necessidades das pessoas vivendo com HIV/Aids. Na sequência, os impasses no contexto da atenção ao parto e a relação dos médicos com pacientes que sofrem de sintomas indefinidos são os temas dos capítulos 6 e 7, respectivamente. A marca do sofrimento também aparece nos capítulos seguintes, onde as autoras descrevem o cotidiano de uma família que cuida de um parente com múltiplas necessidades, após sua alta hospitalar, e o dia-a-dia de duas crianças com fibrose cística. “Como resultado, uma maior visibilidade dos aspectos singulares e subjetivos dos saberes e práticas da saúde poderá, talvez, trazê-los da relativa penumbra que por ora ocupam. Nossa contribuição está aqui”, conclui Camargo Jr. no capítulo 10, Um olhar sobre os olhares, que encerra a obra.


Publicado em 1º/9/2009.

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