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26/09/2006

Livro descreve aprendizado da sexualidade entre jovens de três capitais

Wagner Oliveira


Compreender a reprodução adolescente, descrevendo os processos a ela correlatos, e não apenas explicando-a - eis a proposta de O aprendizado da sexualidade – Reprodução e trajetórias sociais de jovens brasileiros, um dos recentes títulos lançados pela Editora Fiocruz. A publicação traz os resultados de uma grande pesquisa realizada em três capitais de estados – Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre – com quase cinco mil jovens de 18 a 24 anos.


Ao longo de dez capítulos, os autores esmiuçam a questão da sexualidade e reprodução, investigando temas como histórico familiar e socialização para a sexualidade; relacionamentos afetivos e suas rupturas; moralidade sexual; práticas e repertórios sexual; ocorrência ou não de gravidez e aborto; vivências de maternidade e paternidade; repercussões da gravidez  na escolaridade e na entrada no mercado de trabalho. Organizada por Maria Luiza Heiborn, Estela Aquino, Michel Bozon e Daniela Knauth, a obra apresenta no primeiro capítulo a construção do problema social da gravidez na adolescência no Brasil, que, segundo outros levantamentos, vem registrando aumento da taxa de fecundidade adolescente.


O capitulo seguinte avalia a produção brasileira e internacional sobre gravidez na adolescência, com especial atenção às investigações qualitativas sobre o tema. Os aspectos metodológicos, operacionais e éticos da pesquisa nas três capitais vêm a seguir e antecedem o capitulo que pormenoriza as características do grupo de jovens que participou do estudo, trazendo aspectos como filiação religiosa, renda, escolaridade, meio social em que estão inseridos, histórico familiar, condições de moradia, estudos e trabalho.


O contexto da primeira relação sexual constitui o capítulo seguinte, com especial destaque para as negociações envolvendo o uso de preservativos e de anticoncepcionais. Uma das constatações: médicos e serviços de saúde raramente foram mencionados pelos jovens como fontes de informação sobre doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos. Sobre a iniciação sexual, em três quartos dos casos os adolescentes relataram encontrar o primeiro parceiro na escola, na vizinhança ou em algum lugar de sociabilidade, de lazer ou de férias.


Os valores relativos à sexualidade, como prazer, fidelidade, masturbação, homossexualidade, sexo oral e anal, estão alinhados em seguida, no capitulo seis. A masturbação, por exemplo, é fortemente rejeitada pelos pentecostais de ambos os sexos, enquanto 28% dos jovens católicos definem tal ato como “um vício”. Segundo os pesquisadores, a idéia de que a sexualidade é incontrolável é mais difundida no meio popular, assim como a rejeição a relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, sobretudo entre homens. O sexo oral, por sua vez, integra o repertório sexual tanto de homens quanto mulheres e foi relatado por 80% dos jovens.


As falas dos jovens sobre os tipos de parceiro afetivo-sexual estão no capítulo seguinte. Entre os homens entrevistados, 11% declararam nunca ter tido um relacionamento estável e apenas 3,2% das adolescentes mencionaram igual situação.


Um panorama da experiência reprodutiva de moças e rapazes e a magnitude do fenômeno nas três cidades estudadas são a proposta do capítulo oito, que revela ainda as reações diante da gravidez indesejada e da perspectiva do aborto, tanto dos jovens quanto de suas famílias. 

Já o capítulo nove toca na questão da diversidade sexual: lá estão agrupadas observações acerca de experiência sexual com pessoas do mesmo sexo. Os percentuais relatados para homo-bissexualidade acompanham as tendências de pesquisas internacionais: 3% a 4% da amostra de jovens.


O último capítulo avalia e debate os principais resultados da investigação e aponta caminhos para a formulação de políticas públicas a partir do resultado de pesquisas científicas. Um fecho mais que oportuno para um livro que, nas palavras da “orelha” da obra, preparada pela pesquisadora Maria Coleta Oliveira, da Unicamp, “já nasce referência para todas quantas se interessam pelo futuro da nossa gente”.

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